Jornal da USP
16/03/2021
Por Margareth Arthur/Portal de Revistas USP
Não há como negar que vivemos na era midiática, com a tecnologia atuando como parte de nosso dia a dia. O artigo da revista Comunicação & Educação nos traz o assunto em relação ao sistema educacional brasileiro. Para isso, os autores apontam a urgência na retomada dos debates sobre o elo entre os meios de comunicação, a criança e a escola diante do que elas veem e ouvem pela TV, tendo como foco o desenho animado, imagens e sons diversos divulgados pelo celular e pelo computador. Retomar a discussão é importante, porque, não faz muito tempo, considerava-se pernicioso o acesso a esses dispositivos de mídia para a educação e o desenvolvimento da criança.
Hoje esse pensamento requer uma análise mais aprofundada da questão, que comporta dois lados. Segundo os autores, “se não é possível dizer com exatidão que os riscos não existem”, as produções animadas para crianças, como desenhos, programas e produções audiovisuais, contam com o lado positivo por serem significativas para o desenvolvimento da percepção, memória e raciocínio, na conjugação com o entretenimento, vistos os desenhos animados como “instrutivos no sentido humanístico e da sustentabilidade ambiental”. É preciso ter em mente que a criança não é um mero depósito de imagens e sons recebidos pela tecnologia, “mas um ser crítico e criativo que transita entre seu mundo real e o imaginário e internaliza, imita, dramatiza e aprende”.
O artigo propõe realçar a questão do imaginário extremamente conectado no contexto das relações entre educação e comunicação e, subsequentemente, como se dá a construção da linguagem no desenvolvimento do conhecimento: “até que ponto as produções audiovisuais podem interferir na aprendizagem da criança?”. No artigo, as mídias audiovisuais são vistas como objetos complementares “no desenvolvimento da linguagem e do conhecimento da criança”. Brincar com as imagens visuais e sonoras é um ato criativo da criança, pois ela incorpora as imagens e sons quando assiste a desenhos animados, atuando, em seu cotidiano, como personagem das histórias na medida em que imita, dramatiza, imagina e cria situações parecidas com aquelas que vê, ou cria outras realidades a partir das já conhecidas, ampliando o imaginário.
O título do artigo, “O corpo brincante, o brinquedo corpo que fala: desenhos animados, comunicação e imaginário no desenvolvimento infantil”, representa o retrato da atitude das crianças em relação aos desenhos, pois elas brincam de jogar, de voar, fazem mágicas, sem, contudo, deixar de lado as conversas e expressões corporais. Tudo isso agregado a “valores formativos e informativos embutidos nos enredos dos audiovisuais”, que corroboram como recurso didático-pedagógico para melhorar o aprendizado e ampliar o conhecimento. As mídias mencionadas também podem estimular a criatividade dos alunos, na criação de vídeos, encenações, performances e outras modalidades, com a rica contribuição para as crianças, como alunos e como indivíduos, das diferentes linguagens, artísticas ou não.
É importante explicar que quando a criança procura verbalizar um pensamento, uma ideia, um sentimento, ela vai buscar na memória o que viu e vivenciou. Então os conteúdos de imagens se completam com lembranças de falas e palavras: ver, ouvir e aprender com corpo e mente, imagens e palavras articulam-se e aglutinam-se perfeitamente como uma dança composta pelas duas referidas linguagens.
Por essas experiências, a criança “elabora suas perdas, materializa seus desejos, compartilha da vida animal, muda de tamanho, liberta-se da gravidade, fica invisível e, assim, comanda o universo por meio de sua onipotência”. Finalizando, os autores enfatizam a necessidade crucial de agregar-se o uso didático do desenho animado dentro do sistema escolar atual, da comunicação audiovisual e da educação como partes “de dinâmicas educativas se empregados de forma competente”.
Artigo
PEREIRA, I. dos S.; PERUZZO, C. M. K. O corpo brincante, o brinquedo corpo que fala: desenhos animados, comunicação e imaginário no desenvolvimento infantil. Comunicação & Educação, São Paulo, v. 25, n. 1, p. 7-17, 2020. ISSN: 2316-9125. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2316-9125.v25i1p7-17. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/comueduc/article/view/160933. Acesso em: 27 jan. 2021.
Contatos
Isac dos Santos Pereira – Mestre em Comunicação Audiovisual pela Universidade Anhembi Morumbi e especialista em Arte na Educação: teoria e prática pela USP (ECA/USP). E-mail isacsantos02@hotmail.com
Cicilia M. Krohling Peruzzo – Professora visitante do PPGCom da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, investigadora convidada do Centro de Estudos de Comunicação e Linguagem da Universidade do Minho, Braga-Portugal, e doutora em Ciências da Comunicação pela USP (ECA/USP). E-mail kperuzzo@uol.com.br
Como citar este texto: Jornal da USP. Os benefícios das produções audiovisuais dirigidas à infância. Texto de Margareth Arthur. Saense. https://saense.com.br/2021/03/os-beneficios-das-producoes-audiovisuais-dirigidas-a-infancia/. Publicado em 16 de março (2021).