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15/04/2021

(Imagem de Gerd Altmann por Pixabay)

Wladimir Gramacho

Se havia dúvida, a semana com recordes de mortes pela covid-19, restrições adotadas por governantes e decisão do Ministério da Saúde de enfim adquirir imunizantes da Pfizer e da Janssen deixa ainda mais claro: o governo federal está perdido em meio à pandemia. Nesse contexto, a vacinação em massa é a única saída segura e responsável dessa crise sanitária e institucional. A boa notícia, entretanto, é que estudos científicos e dados recentes indicam que a adesão à imunização aumenta à medida que mais indivíduos se vacinam, abrindo a porteira para um verdadeiro “efeito manada”.

A pesquisa do PoderData divulgada na última sexta-feira (5) já captou o crescimento da aceitação das vacinas entre os brasileiros. Em 1 mês, o percentual de quem pretende tomar alguma delas subiu de 71% para 85%, e o de quem não pretende fazê-lo caiu de 21% para 10%. Felizmente, nesse aspecto os brasileiros seguem a tendência mundial.

No Chile, onde a 1ª dose começou a ser aplicada em 24 de dezembro, o interesse em se vacinar assim que for possível saltou de 36%, em dezembro, para 60%, em fevereiro, segundo o instituto Plaza Pública Cadem. Movimento semelhante foi detectado pelo YouGov na Espanha (adesão de 53% em dezembro, contra 77% em fevereiro) e na Finlândia (50% em dezembro e 70% em fevereiro). Na Itália e na Suécia, a disposição em se vacinar contra a covid-19 cresceu em 20 pontos percentuais em cerca de dois meses.

Na Grécia, o instituto Pulse mostrou que o percentual de pessoas que, com certeza, se vacinarão foi de 37%, em novembro, a 59%, em fevereiro. Vale a pena acompanhar os dados da Austrália e da Tailândia, onde a vacinação só começou na última semana de fevereiro. O percentual de hesitantes recrudesceu significativamente ao longo dos meses nesses países. Entretanto, os últimos levantamentos disponíveis são anteriores ao início da imunização.

Por aqui, a confiança na vacina aparece relacionada a preferências políticas. O PoderData mostra que 79% dos brasileiros que acham o governo federal bom ou ótimo estão dispostos a tomar a vacina, contra 87% dos que o consideram regular ou ruim/péssimo. A discrepância já foi maior, principalmente quando informado o país de origem de cada imunizante. Foi o que mostraram duas rodadas de pesquisa realizadas em outubro e dezembro de 2020 pelo Centro de Pesquisa em Comunicação Política e Saúde Pública (CPS) da Universidade de Brasília, com apoio do Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados (IBPAD).

Nesse sentido, nossos números parecem ainda melhores que os dos EUA. Lá, o “efeito manada” tem conseguido furar (um pouco) a exacerbada polarização entre democratas e republicanos, que se estendeu à vacina. O monitor da KFF sobre vacinação contra a Covid-19, que agrega diversas pesquisas sobre o assunto, apontou que, em dezembro, quando a imunização começou, eram 34% os estadunidenses que já haviam tomado uma dose ou estavam dispostos a se vacinar assim que possível. A proporção foi a 55% em fevereiro. Entre os democratas, a adesão foi de 47% a 75% no mesmo período. Já entre os republicanos, o salto foi menor, mas expressivo: 28% a 41%. [1]

[1] Wladimir Ganzelevitch Gramacho é mestre e doutor em Ciência Política. Atualmente é coordenador do Centro de Pesquisa em Comunicação Política e Saúde Pública (CPS), professor adjunto da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília e, atualmente, pesquisador visitante na Western University, no Canadá.

Como citar este artigo: UnB. O “efeito manada” e as vacinas. Texto de Wladimir Gramacho. Saense. https://saense.com.br/2021/04/o-efeito-manada-e-as-vacinas/. Publicado em 15 de abril (2021).

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