CCS/CAPES
10/06/2021

Método inovador trata pacientes com lesões articulares a partir de exercícios com restrição do fluxo sanguíneo (Foto: Arquivo pessoal)

Mikhail Santos Cerqueira é fisioterapeuta pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia(UESB), mestre em Fisioterapia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e doutorando na mesma área pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Durante sua trajetória acadêmica e profissional, dedicou-se a criar e desenvolver um método inovador para tratar pacientes com lesões articulares a partir de exercícios com restrição do fluxo sanguíneo.

Como surgiu seu interesse pela fisioterapia?
Meu interesse pela fisioterapia surgiu depois que ingressei na graduação. Digo isso porque em meu primeiro vestibular fui aprovado para estudar Fisioterapia na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), porém naquele momento eu ainda não tinha a real noção do quão relevante é a profissão de fisioterapeuta. Ao longo da graduação fui me encontrando, especialmente nos estudos da área de fisiologia do exercício, que é a base para a prescrição de exercício no tratamento de dores musculoesqueléticas.

O interesse em estudar tratamentos para alívio de dor surgiu justamente da possibilidade de aplicar os conhecimentos básicos de fisiologia do exercício na prescrição de treinamentos para fortalecimento muscular como tratamento mais duradouro das dores musculoesqueléticas. Nesse contexto, a experiência de iniciação científica no Grupo de Pesquisa em Fisiologia Neuromuscular da UESB, sob orientação do professor Rafael Pereira, foi fundamental para alicerçar meus conhecimentos de fisiologia do exercício e de metodologia científica. Adicionalmente, os conhecimentos adquiridos no mestrado na UFPE, sob orientação do professor Alberto Galvão de Moura Filho, também foram essenciais.

Como é este novo tratamento com restrição de fluxo sanguíneo (RFS)?
A RFS uma técnica que consiste em restringir o fluxo sanguíneo muscular durante o exercício ou em repouso. Ela é alcançada por meio de um torniquete (garrote) aplicado próximo à região do músculo-alvo com objetivo de tratar ou minimizar alterações musculoesqueléticas. Por exemplo, a restrição de fluxo sanguíneo em repouso pode ser utilizada para melhorar desempenho muscular em pessoas sedentárias ou atletas, ou para minimizar a atrofia muscular em pacientes acamados ou que tiveram as pernas imobilizadas. Já o exercício com RFS pode ser utilizado no tratamento de pacientes com dores articulares. Em nossa tese, investigamos os efeitos destas modalidades de RFS do ponto de vista fisiológico, metodológico e clínico.

E sua relação com a osteoartrite em joelhos?
Ao longo do doutorado, avaliando e tratando uma grande quantidade de pacientes, acabamos por adquirir certo conhecimento no tratamento da osteoartrite de joelho. Para fins de adequação à linha de pesquisa do doutorado e para contribuir no tratamento de uma doença muito comum na sociedade, nossa principal linha de pesquisa foi idealizada para tratar pacientes com osteoartrite de joelho via exercício de força combinado à RFS. Porém, nosso trabalho no doutorado também envolveu o estudo da RFS para melhorar desempenho em pessoas saudáveis e para preservar a força e prevenir atrofia em pessoas acamadas. Assim, de forma geral, minhas próximas metas envolvem avançar nos estudos e na utilização clínica da adequada prescrição de exercício nas desordens musculoesqueléticas, o que inerentemente envolve o uso da RFS nas dores crônicas no joelho.

O método já está sendo aplicado em pacientes no Rio Grande do Norte?
Sim! Entre 2018 e 2020, cerca de 40 pacientes com osteoartrite de joelho foram avaliados e tratados no departamento de Fisioterapia da UFRN. Vale ressaltar que a osteoartrite de joelho é uma condição clínica caracterizada por “desgaste da articulação” e presença de dor que pode ser incapacitante. O tratamento de escolha para estes pacientes geralmente envolve exercícios para fortalecer os músculos da coxa. Porém, muitos deles podem não tolerar o exercício devido às cargas (pesos) que são utilizadas durante o exercício. A RFS surge como uma alternativa de tratamento inovadora. Com sua aplicação ocorre uma sobrecarga muscular interna (estresse metabólico) que minimiza a necessidade de uso de altas cargas de exercício no tratamento. Assim, os pacientes podem sentir menos dor durante o exercício com RFS, o que pode melhorar a aderência ao programa de tratamento.

Quais os resultados alcançados até agora na aplicação prática?
Especificamente na linha de pesquisa sobre osteartrite de joelho, a RFS combinada ao exercício de baixa carga parece ter efeito similar ao exercício de alta carga, podendo ser utilizada para minimizar a dor durante o exercício e, consequentemente, melhorar a aderência ao programa de tratamento.

Você espera disseminar sua nova metodologia para todo o Brasil?
Sim! Nós já fazemos um trabalho de disseminação por meio de eventos científicos, workshops e redes sociais. Há grande interesse da comunidade acadêmica sobre nossa temática de estudo e, sem dúvida, vamos continuar divulgando, pois entendemos que o conhecimento científico de qualidade deve alcançar o maior número de pessoas possível.

Qual a contribuição da CAPES para a sua vida acadêmica?
A CAPES contribuiu de forma extremamente relevante na minha formação. A oportunidade de receber uma bolsa e me dedicar exclusivamente ao doutorado foi fundamental. Ter tempo e recurso para estudar, coletar e analisar dados, e participar de discussões e eventos científicos contribuiu decisivamente para alcançar as produções científicas durante o doutorado. Apesar de todas as dificuldades impostas pela pandemia, nós produzimos sete artigos científicos, sendo que seis deles já estão publicados ou aceitos para publicação em revistas de alto fator de impacto na área da Fisioterapia. Sem dúvida, o fato de ser bolsista CAPES foi primordial para alcançar esses resultados.

Como citar este texto: CCS/CAPES. Método inovador para tratar osteoartrite. Saense. https://saense.com.br/2021/06/metodo-inovador-para-tratar-osteoartrite/. Publicado em 10 de junho (2021).

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