UnB
11/10/2021

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Michelle Fernandez

Passados 18 meses do início da pandemia de covid-19 no Brasil, nossa sociedade registra perdas imensuráveis. O impacto da emergência sanitária que vivemos abrange diferentes âmbitos e pode ser sentido por todos. O novo coronavírus vem produzindo repercussões que vão além daquelas de ordem biomédica e epidemiológica e tem impactado em questões sociais, econômicos, políticos e culturais sem precedentes na história.

O impacto sentido mais diretamente durante a crise sanitária é o impacto da covid-19 nas pessoas infectadas. No Brasil, chegamos a 600 mil mortos pelo vírus. A perda de tantas vidas é uma marca que jamais será apagada da nossa história. São 600 mil trajetórias interrompidas pela covid-19. Além das vidas perdidas, temos no país milhões de pessoas que, ao serem infectadas, não perderam suas vidas, mas sofrem com os efeitos prolongados da covid-19.

O impacto na vida de infectados e no número de mortos concorre diretamente com as consequências sobre os sistemas de saúde, com a maior exposição de grupos vulneráveis, com os impactos sobre a sustentação econômica da população, com a saúde mental das pessoas em tempos de distanciamento social e de risco de adoecimento e morte, entre outras questões.

É especialmente preocupante as consequências na vida das mulheres. São elas as principais cuidadoras de nossa sociedade e, em um contexto de fechamento de escolas e aumento das experiências de adoecimento nas famílias, têm sua carga de trabalho doméstico aumentada. Portanto, as mulheres são bastante afetadas pela crise atual porque já enfrentam questões históricas e sociais que as coloca em situação de maior vulnerabilidade social.

Crianças e adolescentes também formam um grupo bastante impactado nesse contexto. A emergência sanitária que vivemos vem gerando uma crise de saúde mental entre crianças e adolescentes. Questões como o distanciamento social, a mudança para o aprendizado à distância e o luto, principalmente no caso de perda dos pais poderão gerar consequências que perdurarão para além do período da emergência sanitária.

Outra população ainda mais vulnerabilizada durante a pandemia da covid-19 é a população negra. O racismo estrutural conforma a nossa sociedade e se manifesta diretamente na atenção e no acesso à saúde da maior parcela da população negra. Nesse contexto, durante a pandemia, os negros vêm sofrendo porque são mais acometidos pela forma grave da doença. Além disso, essa população representa o maior número de pessoas impactadas pelas consequências econômicas negativas do atual período.

A pandemia da covid-19 é um fenômeno que vem gerando, a um só tempo, consequências biomédicas e sociais. Ao alcançarmos o número de 600 mil vítimas do novo coronavírus, nos solidarizamos com todas as famílias que perderam seus entes queridos, mas também chamamos atenção para todos aqueles que, de outras formas, também sofrem profundamente com a situação que vivemos. [2]

[1] Imagem de hartono subagio por Pixabay.

[2] Michelle Fernandez é graduada em Ciência Política pela Universidade de Brasília, mestre em Direito na Universidade da Corunha, diplomada em Estudos Avançados em Ciência Política (equivalente ao mestrado em Ciência Política) e doutora em Processos Políticos Contemporâneos ambos pela Universidade de Salamanca. Pesquisadora e professora no Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília.

Como citar este texto: UnB. A pandemia da covid-19 no Brasil: 600 mil vidas perdidas e milhões de pessoas afetadas pelo vírus. Texto de Michelle Fernandez. Saense. https://saense.com.br/2021/10/a-pandemia-da-covid-19-no-brasil-600-mil-vidas-perdidas-e-milhoes-de-pessoas-afetadas-pelo-virus/. Publicado em 11 de outubro (2021).

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