Jornal da USP
14/10/2021
Artigo publicado no periódico científico The Plant Genome descreve os resultados do primeiro sequenciamento genético da Passiflora organensis, planta de maracujá silvestre nativa da Serra dos Órgãos, região da Mata Atlântica no Rio de Janeiro. Ele não é consumido nem plantado comercialmente, mas as informações encontradas em seu genoma podem ser usadas para análises de outros tipos de maracujá, produzidos para consumo. O principal impacto prático dos resultados da pesquisa é que os cientistas conseguiram identificar um conjunto de genes associados à autoincompatibilidade da Passiflora organensis, ou seja, ao fato de a planta não poder fecundar a si mesma.
Essa autoincompatibilidade faz com que, durante a produção agrícola, todas as flores precisem ser polinizadas manualmente para garantir o máximo número de frutas, e a mão de obra necessária para esse processo representa 40% do custo total de produção. Logo, a possibilidade de realizar modificações genéticas para que essa polinização manual não seja necessária seria muito vantajosa economicamente, explica ao Jornal da USP a professora Maria Lúcia Carneiro Vieira, do Departamento de Genética da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, que supervisionou o projeto.
Maria Lúcia, que pesquisa o gênero Passiflora desde os anos 1990, afirma que a equipe dará continuidade a esse estudo, buscando examinar mais minuciosamente os mecanismos genéticos envolvidos na autoincompatibilidade. E poderão avaliar se é possível usar tecnologias de edição gênica para criar plantas transgênicas sem essa característica, mais eficientes para a agricultura.
Os pesquisadores escolheram o maracujá silvestre pois ele é a espécie de Passiflora com o menor genoma, facilitando a leitura completa. Apesar de pequeno (259 milhões de pares de bases), ele é representativo do gênero, o que significa que pode servir de referência para futuros sequenciamentos de outras espécies de Passiflora, estudos genômicos comparativos e análises evolutivas.
Ou seja, as informações provenientes do sequenciamento genético desse maracujá podem servir de referência para vários tipos de estudos de outros tipos de maracujá do mesmo gênero, sendo sendo assim um valioso recurso para a comunidade acadêmica e potencialmente uma ferramenta muito útil para intervenções tecnológicas na prática agrícola.
Foi utilizada uma combinação de três tecnologias diferentes no processo de sequenciamento, que contou com a colaboração de pesquisadores da Esalq, Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade de Campinas (Unicamp), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e do Instituto Nacional da Pesquisa Agronômica, na França.
O artigo A genome sequence resource for the genus Passiflora, the genome of the wild diploid species Passiflora organensis foi publicado em 23 de julho. O projeto recebeu financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e de bolsas de estudo da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (Facepe) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Mais informações: e-mail mlcvieir@usp.br, com Maria Lúcia Carneiro Vieira. [2]
[1] Foto: cedida pela pesquisadora.
[2] Texto de Sebastião Moura.
Como citar este texto: Jornal da USP. Sequenciamento de genoma do maracujá silvestre pode ajudar a baratear produção. Texto de Sebastião Moura. Saense. https://saense.com.br/2021/10/sequenciamento-de-genoma-do-maracuja-silvestre-pode-ajudar-a-baratear-producao/. Publicado em 14 de outubro (2021).