UnB
28/03/2022

[1]

Gabriel da Silva Medina

Para muitos países em desenvolvimento, o agronegócio tornou-se um dos principais setores com capacidade de mobilizar investimentos nacionais e estrangeiros. Nas principais cadeias produtivas do agronegócio brasileiro, a produção primária nas fazendas é controlada por produtores e empresas domésticos. No entanto, nos segmentos mais intensivos em tecnologia e em capital, como agrotóxicos e máquinas agrícolas, a participação de grupos domésticos é relativamente pequena.


Estudo sobre 12 cadeias produtivas do agronegócio feito no Brasil revelou que alguns setores produtivos contam com investimentos estrangeiros e domésticos apoiando o crescimento do país. Exemplos incluem:


• Cadeias produtivas da aquicultura, borracha, orgânicos, açaí e baru;
• Setores como sementes de pasto, variedades de cana, ração para bovinos, frangos e peixes, máquinas e processamento e comercialização em diversas cadeias produtivas.

Por outro lado, algumas cadeias produtivas são praticamente controladas por multinacionais estrangeiras (em azul na figura abaixo) e contam com participação relativamente pequena de grupos brasileiros. Exemplos incluem:


• Cadeias produtivas de soja e milho;
• Setores de sementes transgênicas com patentes, maquinário de alta tecnologia e química de última geração (não genéricos) como agrotóxicos e produtos de saúde animal.


Os grupos brasileiros participam principalmente em setores mistos (em amarelo na figura abaixo) em que não há barreiras de entrada como patentes, alto desenvolvimento tecnológico ou altos investimentos. Há também maior participação brasileira em setores apoiados por políticas voltadas ao desenvolvimento tecnológico como no desenvolvimento de variedades de cana-de-açúcar (em verde na figura abaixo). Estes são setores que devem ser incentivados no país.

Participação em setores com patentes

O estudo revelou ainda que nos segmentos protegidos por patentes, a participação brasileira é pequena. Segmentos em que a proteção de inovações por patentes é comum incluem o melhoramento de sementes de soja (como a soja transgênica), o desenvolvimento de novos agrotóxicos (como no caso do Glifosato) e a criação de máquinas agrícolas com alta tecnologia embarcada (como tratores e colhedoras).

O estudo não contesta os benefícios da proteção de patentes para que investidores tenham incentivos para investir em inovação. No entanto, o estudo chama a atenção para o fato de que países com menores condições investir no competitivo mercado de inovações podem acabar perdendo espaço nesses mercados diante de grandes investidores de países desenvolvidos.

Link para o artigo:

https://www.mdpi.com/2305-6290/6/1/23

Autores: José Elenilson Cruz (IFB), Gabriel da Silva Medina (UnB) e João Ricardo de Oliveira Júnior (UFG). [2]

[1] Foto: hannahlmyers / Pixabay

[2] Gabriel Medina é professor associado da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília (FAV/UnB). Licenciado pleno em Ciências Agrárias (2001), com mestrado em Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Sustentável pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Possui doutorado em Ciências Naturais (2008) pela Universidade de Freiburg, na Alemanha, com título revalidado como doutor em Ciências Agrárias, e pós-doutorado em Políticas Ambientais (2014) pelo Imperial College London, no Reino Unido. É professor nos programas de Pós-Graduação em Agronegócios da UnB e da Universidade Federal de Goiás (UFG).

Como citar este texto: UnB. Os Investimentos por trás do Sucesso Econômico do Agronegócio Brasileiro. Texto de Gabriel da Silva Medina. Saense. https://saense.com.br/2022/03/os-investimentos-por-tras-do-sucesso-economico-do-agronegocio-brasileiro/. Publicado em 28 de março (2022).

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