Jornal da USP
06/06/2022

[1]

Por Waldenyr Caldas, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP

Não é possível afirmar, mas é bastante provável que todos os homens, e certamente as mulheres também, gostariam de poder manter sua libido em plena forma até o último olhar, até o último suspiro de suas vidas. Mas, por enquanto, como não sabemos o que acontecerá futuramente, se a ciência nesse aspecto nos deixará revitalizados ou não, este desejo permanecerá recluso na escuridão cada vez mais acentuada, quanto mais avança o tempo.

Sim, é isso mesmo, o tempo urge e devemos sempre aproveitá-lo com serenidade e inteligência. Às vezes, até fazendo coisas pueris, trivialidades, que afinal, mais tarde resultam importantes para nossa história de vida. Mas as consequências psicológicas deste avanço do tempo não nos leva apenas a preciosa libido. Outras coisas tão caras para nós também vão ladeira abaixo. Precisamos, por exemplo, de um acessório para enxergar o que antes víamos com a maior facilidade. Sem ele, vemos apenas uma bruma sobre o objeto que observamos, e algumas vezes nos contentamos com isso. Antes, porém, era quase como se tivéssemos os olhos da incrível águia-de-asa-redonda, que identifica sua presa a uma distância aproximada de quatro quilômetros. Enfiar a linha no buraco da agulha era tranquilo, não necessitava prática nem tampouco habilidade, como já dizia a conhecida figura do camelô vendendo seus produtos no centro da Pauliceia desvairada de Mário de Andrade.

Tempos atrás, éramos capazes de ouvir uma canção e identificar todos os seus instrumentos, notas, acordes e harmonia. Os elementos formadores do som como a intensidade, densidade, duração, timbre e altura, todos eles eram facilmente detectados com muita precisão, sem que nada escapasse ao nosso sistema auditivo. Até os mais discretos sons e ruídos, captávamos sem nenhuma distorção. Ouvíamos tudo, era uma beleza! Para o nosso deleite, ouvíamos até o som do silêncio. É algo realmente deslumbrante!

Ironicamente, gostávamos muito de assistir ao programa humorístico A Praça é Nossa, para ver o quadro de Roni Rios interpretando “a velha surda”; era muito divertido, muito simpático. Ao contrário do que se possa pensar, não era uma zombaria com o idoso. Evidentemente, não era essa a proposta. Era um quadro despretensioso, quase pueril, que as crianças também gostavam. Ele apenas chamava a atenção para mostrar a importância da audição que o tempo levou. Nada tinha de pilhéria ou menosprezo à condição humana do idoso. Esta sim, me parece, é a leitura que se pode fazer. Ninguém é tão malévolo ou malévola, a ponto de desrespeitar deliberadamente as pessoas idosas.

Pois é, mas se nossa audição feneceu, resta-nos, então, a artificial opção de introduzirmos no ouvido um botão que potencializa os sons de tudo ao nosso redor. Viva a ciência, viva a tecnologia! Essa foi a forma encontrada para evitar o isolamento social de quem tem sua audição subtraída pelo tempo ou por qualquer outro motivo. No entanto, esse mesmo tempo avança ininterruptamente, de segundo em segundo, e até onde vamos não temos como saber. Resta-nos a certeza de que passam os anos, e com eles vem a transformação de todo o nosso corpo, quase como se fosse uma suave metamorfose. Aos poucos, vamos trocando a pele, que perde sua flexibilidade, surgem as rugas, o nariz e as orelhas crescem, vem a redução da estatura, os cabelos caem com mais frequência, vem a flacidez, a perda de massa muscular, surgem as primeiras manchas no rosto, mas também em outras partes do corpo. Aí sim, devemos ficar muito atentos. Elas podem ser algo natural do nosso envelhecimento, mas talvez não. Mesmo assim, não devemos nos assustar com isso.

Se tivermos alguns lapsos de memória, são apenas os claros sinais da senescência chegando, mas não da senilidade. Ainda bem. Na senescência não existem quadros fisiopatológicos. Eles ocorrem, aí sim, na senilidade. De qualquer modo, vamos com calma, esta metamorfose é mais uma força de expressão e nada tem a ver com aquela intensidade vivida por Gregor Samsa, no fantástico conto de Franz Kafka, onde a personagem se transforma em um grande inseto até hoje ainda não identificado pelos leitores do consagrado escritor tcheco. Todas essas mudanças são apenas marcas que o tempo vai deixando em nosso corpo, o que é um fato inexorável, mas muito natural.

A admirável postura apolínea da juventude vai cedendo espaço para o lento e progressivo arqueamento do corpo. Tudo isso, claro, decorrente de disfunções musculares causadas pelo envelhecimento, pelo enrijecimento corporal, que afetam nossa postura. É quando toda a musculatura fraqueja em decorrência, entre outras coisas, da perda de proteínas e de alterações hormonais. O diálogo do cérebro com nossos reflexos, movimentos e o próprio raciocínio vão se esvaindo, é natural, e isso não deve nos assustar. Nesse momento, já não temos mais o mesmo vigor físico. As articulações, que já não têm a mesma flexibilidade de outros tempos, devem recrudescer ainda mais. Agora vivemos a fase da rigidez articular, e perdemos massa muscular que ajuda a sustentar nosso corpo. Isso é bastante sério, mas é possível recuperar uma parte com exercícios assistidos por especialistas. Com esse problema, muito brevemente talvez o idoso venha a precisar de um apoio a mais para andar. Algo assim como se fosse a “terceira perna” para ganhar mais equilíbrio. Só que agora de material industrializado, facilmente encontrável em casas comerciais ou em qualquer loja de antiguidade.

Certa ocasião, conversando com um amigo a respeito da senescência, falei a ele sobre a importância do que aqui chamo de “terceira perna”. Ela é uma espécie de “porto seguro” e em boa medida substitui o equilíbrio do idoso que o tempo já subtraiu. Afinal, é um processo natural da vida que deve ser assimilado pelas pessoas idosas, mas também não idosas. Na verdade, a fonte das minhas palavras está em Diálogos, obra de Platão, quando aborda o tema da velhice. Diz ele que “deve-se temer a velhice, porque ela nunca vem só. Bengalas são prova de idade e não de prudência”. Pois é, aqui Platão pegou pesado, e não aliviou o impacto da verdade. Ele nos fez um alerta importante sobre a vida senil. Sua frase é bem clara, objetiva e sem metáforas que permitam outra leitura. Não são todos os idosos que precisam deste acessório. Muitos poderão nunca precisar, até porque a rigidez muscular não é igual para todos nós, nossa compleição física é bem diferente de uma pessoa para outra.

Mas, para fazer justiça ao grande filósofo, devo citá-lo, agora em seus escritos sobre A República (que também encontramos em Diálogos), quando ele diz que “a velhice nos proporciona repouso, livrando-nos de todas as paixões. Quando os desejos diminuem, a asserção de Sófocles revela toda justeza. É como se nos libertássemos de inúmeros e enfurecidos senhores”. E aqui, Platão não estava apenas filosofando sobre a senilidade, estava também relatando sua experiência de vida, uma vez que viveu oitenta anos. Para sua época, viveu muito. Portanto, são ensinamentos que devemos lembrar sempre e incorporá-los ao nosso cotidiano.

A vantagem desta “terceira perna” para os que dela necessitam é que, além de recuperar parte da estabilidade perdida com o tempo, nem é preciso sair de casa para comprá-la. É possível escolher o modelo, o material, o preço e pedir pela internet a uma dessas empresas especializadas nesse sistema, que chega rapidamente. O interessante em tudo isso é que o antigo e o contemporâneo se harmonizam, justamente para servir à pessoa idosa que precisa. Isto é muito bom. São as pessoas senescentes desfrutando do que a tecnologia da comunicação pode lhes oferecer de melhor, desde que saibamos usar com parcimônia, isto é, sem exageros.

Mas nada disso, insisto, deve nos assustar. Até porque a senescência é um acontecimento progressivo e irreversível. Afinal, quem não envelhece morre antes. Portanto, envelheçamos, é muito melhor morrer na velhice do que antes de conhecê-la, de poder vivenciá-la, de experienciar este momento da vida. Sendo assim, devemos acolhê-la bem para vivermos melhor. Além disso, é preciso entender que o próprio corpo, ao envelhecer, vai procurando uma nova adaptação biomecânica inteiramente diferente daquela na nossa juventude. Nesse estágio, devemos reconhecer, já teremos alguma dificuldade para realizar naturalmente certos movimentos básicos do nosso corpo. Isso, porém, não é uma situação preocupante.

Mas não é só isso. Algumas alterações fisiológicas como, por exemplo, o aumento da próstata dificultando a micção, o arrefecimento da defecação, o aparecimento ainda que tênue de uma fragilidade cardiorrespiratória, o surgimento do pigarro, a redução da capacidade metabólica, a perda da agilidade e a diminuição dos reflexos, entre outros casos, são situações que devem ser enfrentadas com muita consciência durante o processo de envelhecimento. São casos que podem surgir naturalmente, em que pese a boa saúde do idoso. É o processo natural da vida. Os estudos de biomecânica, bem como as alterações fisiológicas por que passa nosso corpo, vêm ganhando cada vez mais espaço nas pesquisas de ciências médicas. O objetivo, claro, é melhorar a vida das pessoas idosas e, para isso, é de vital importância contar com os conhecimentos dos gerontólogos e geriatras, estudiosos do nosso processo de envelhecimento. Eles sim, podem ajudar as pessoas a interpretar a senescência sem a fantasia oca e ilusória da publicidade. Por esses motivos é que não devemos acreditar na falácia midiática quando faz artificialmente a apologia da senescência colocando-a como a “melhor idade”. Não é, com certeza não é. A expressão é muito simpática, mas, na mesma proporção, utópica. Que esta fase da vida é a mais sábia, isto sim, não há dúvida. Até porque esta sabedoria é a somatória de todas as experiências adquiridas e vividas (boas e más) ao longo de nossa existência.

Enfim, teríamos muito ainda a comentar sobre as disfunções que o tempo impõe ao nosso corpo, mas não devo e não quero me alongar sobre elas. Este é um assunto para especialistas, e os comentários aqui se restringem a uma observação empírica, a partir da rotina diária de alguns idosos que conheço e convivo, mas também de conversas com amigos em nossos célebres e prazerosos cafés matinais. Até porque, convenhamos, quem sabe mesmo desses problemas são os idosos e seus respectivos médicos, que, afinal, vivem e conhecem na prática o cotidiano dessas disfunções. Alguns já as absorveram muito bem e vivem felizes, outros ainda estão tentando, mas certamente também conseguirão. A gerontologia, área das ciências médicas, estuda e entende muito bem tudo isso no plano clínico e teórico, e procura dar sua inestimável contribuição, sempre que possível. Isto tem sido muito bom. Temos, assim, o saber científico a serviço da senescência e do tratamento de patologias eventuais advindas da senilidade. Como tantos milhões de pessoas (talvez até bilhões), também sou um grande entusiasta do trabalho dos cientistas e dos resultados de suas pesquisas. Eles têm propiciado uma vida cada vez mais saudável e longeva à humanidade.

O lamentável, no entanto, é que as conquistas da ciência nem sempre chegam igualmente a todas as pessoas, por uma questão de nível socioeconômico. E não é só nos chamados países do terceiro mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, não existe um sistema de saúde pública justo e disponível à sociedade. São as empresas de capital privado que cuidam da saúde pública e cobram do cidadão por este trabalho devidamente legalizado pelo Estado. É uma relação de compra e venda, onde a saúde se torna uma mercadoria como outra qualquer. Isto, aliás, é algo recorrente na sociedade capitalista. Esta particularidade conhecemos muito bem porque, afinal, vivemos em um país de economia privada que bem caracteriza o capitalismo. As empresas de planos de saúde têm, além do objetivo do lucro, a função de transformar em mercadoria algo primordial para todos nós, que é nossa saúde. No entanto, deve-se registrar as seguintes exceções: há três sistemas de saúde nos Estados Unidos. Um deles oferece atendimento gratuito às pessoas com mais de 65 anos, desde que tenham integrado o quadro de população ativa antes dessa idade. Este é o sistema conhecido como Medicare. O outro sistema não estabelece idade como pré-requisito para atendimento. Porém, apenas as pessoas extremamente pobres e assim reconhecidas pelo Estado podem ser atendidas gratuitamente. Temos aqui, portanto, uma espécie de caridade praticada pelo Estado. Em outros termos, uma política apenas assistencialista. Este é o sistema Medcaid. Em 2010, durante o governo de Barak Obama, foi criado o Affordable Care Act (ACA), um programa de saúde que apenas amenizou o problema, mas está longe de fazer justiça social. Aliás, deve-se registrar que a assistência médica ao cidadão de parcos recursos financeiros sempre foi uma preocupação secundária naquele país. Outros países também capitalistas possuem um sistema de saúde semelhante aos dois primeiros, mas com algumas variações.

Pois bem, mas se os problemas até aqui discutidos giraram em torno da saúde física e da rotina dos idosos, há que se pensar agora em uma questão basilar, intermediária, que surge normalmente a partir da maturescência, ou seja, dos 40 aos 60 anos, permanecendo até a senescência indeterminada. Trata-se da libido. Um conceito muito abrangente sobre a energia vital do ser humano já exaustivamente estudado, principalmente por psicólogos e psicanalistas. Sendo assim, portanto, não é o caso de discutirmos teoricamente seus diversos conceitos e concepções. Até porque não é a proposta deste texto estudar em minúcias este tema. Há uma vasta bibliografia disponível sobre o assunto para quem nele desejar se aprofundar. Desde Sigmund Freud e Wilhelm Reich até Michel Foucault, Norbert Lechner e outros autores contemporâneos, os estudos de teoria da libido têm sido aprimorados e estão disponíveis aos pesquisadores. Mas, ainda assim, convém destacar o seguinte: a libido é, pelo menos para os homens, uma espécie de calcanhar de Aquiles, apenas para usar o aforismo popular, que significa ponto fraco, a vulnerabilidade de alguma coisa. É isso o que ocorre com certa frequência quando o homem chega à sua maturescência. A pulsão sexual (esta expressão é de Sigmund Freud), ou seja, o impulso energizado pela libido, dá os primeiros sinais de que seu desempenho sexual está mudando.

Pois é precisamente nesta fase (devemos admitir raríssimas exceções, e elas existem) que a libido, energia fundamental para as relações sexuais, entre outras coisas, começa a dar sinais de declínio paulatino irreversível. Para os homens (eu não saberia comentar sobre as mulheres, mas vou procurar estudar), nesse momento, a sensação de sua libido inibindo-se, fenecendo, é algo realmente muito sério, um grande desalento, mesmo sabendo que é um processo natural da vida. Sentir e saber que o seu desejo sexual permanece muito vivo e ativo, mas agora com o irrecuperável declínio da sua energia sexual, faz muitos homens perderem seu norte, ficarem desentendidos e, em alguns casos, passarem até a enfrentar problemas psicológicos mais sérios. A autoestima declina porque a libido, símbolo do seu prazer sexual e de masculinidade, está fenecendo, indo embora.

Nesse momento, há que se reciclar a própria vida, além de, obrigatoriamente, e apesar de tudo, procurar outros caminhos para maximizar seus desejos sexuais, porque afinal é chegada a maturescência. Não há alternativas duradouras nesse estágio da vida. A testosterona, principal hormônio sexual masculino, vai se tornando cada vez mais rarefeita, tênue. E ainda que o urologista prescreva longas receitas de medicamentos, tudo resultará inútil, porque o tempo nesse momento é um implacável inimigo do prazer. Ele vai corroer rapidamente o sonho de uma firme ereção. Os paliativos não resolvem, e em alguns momentos nos fazem apenas sublimar nosso verdadeiro desejo. Isto é muito ruim. Tão ruim quanto autoiludir-se, acreditando que poderá recuperar a energia peniana. Como comentei no início deste texto, daqui para frente a libido vai ladeira abaixo e leva consigo coisas tão caras, que são partes integrantes dos prazeres da vida.

Não tenho dúvida de que a relação sexual é um dos grandes prazeres da humanidade. Mas, como o tempo passa, e ainda que não queiramos admitir, o que vemos é uma espécie de violência psicológica da própria natureza contra nosso corpo, quando rouba vagarosamente nossa energia sexual. Este tempo, lentamente, aniquila com a libido masculina, mas não com a vontade, não com o prazer da relação sexual. Isto é uma violência psicológica. Se ocorresse simultaneamente, a perda da libido e do prazer sexual, seria menos lamentável, mas não é isso o que acontece. É só no estágio pós-maturescência, ou seja, na senescência mais avançada, que o prazer sexual realmente atinge um nível definitivamente desalentador para os homens. A função erétil, que antes já se mostrava timidamente ativa, agora consolida-se definitivamente inativa ao transformar-se em disfunção erétil. Mas, ainda assim, permanece o desejo sexual, agora sem nenhuma resposta peniana, sem nenhuma ação erétil, portanto, fato consumado.

Eis aqui para os idosos um momento crucial decorrente de um fenômeno natural, e já profusamente conhecido. Aliás, de domínio público mesmo. No tocante à disfunção erétil, em que pesem todas as tentativas feitas até agora, ainda não existe uma alternativa minimamente satisfatória para a volta ao prazer, e as únicas razões para este incômodo vazio são impostas mesmo pela natureza e a passagem do tempo. A ciência bem que tem feito seus esforços no sentido de melhorar a performance sexual masculina, mas os resultados têm sido irrelevantes, quase nulos e, em muitos casos, até prejudiciais à saúde masculina, em face dos efeitos colaterais já constatados pelos próprios médicos e cientistas. Rigorosamente, os recursos farmacológicos para melhorar artificialmente a performance sexual do homem são paliativos que até aqui não têm dado certo. Seu resultado medicamentoso, que já é de domínio público também, tem preocupado os especialistas. No decorrer do tempo, os efeitos colaterais desses produtos são suficientes para que os médicos desaconselhem o uso sistemático da chamada “pílula do prazer”.

Mas as coisas não param aqui. Os estudos científicos continuam em curso, e isto é um grande alento para os idosos. Os bilionários Jeff Bezos e Yuri Milner decidiram investir parte do seu capital em estudos de biotecnologia com um objetivo bem claro: estudar minuciosamente o processo de senescência das células humanas, com o propósito de retardar nosso envelhecimento. Para isso, em 2021, Bezos investiu nada menos de US$ 3 bilhões em sua empresa Altos Labs. A ideia é ousada e visa criar uma tecnologia de reprogramação biológica em laboratório, para rejuvenescer as células do ser humano. Por enquanto, há que se aguardar os resultados deste empreendimento; é o que nos resta. A equipe que trabalha neste projeto é formada por cientistas do mais alto nível, como Shinya Yamanaka, prêmio Nobel de Medicina em 2012, Dilijett Gill, Juan Carlos Izpisúa Belmonte e Steve Horvath.

A pesquisa científica, a médio e longo prazo, quando menos, aumentará nossa longevidade, como aliás já tem feito. O fato é que a startup de Bezos está muito bem-preparada para realizar seus trabalhos, na tentativa de alcançar os objetivos a que se propôs. É uma boa alternativa. Esta, afinal, é a tendência, e o exemplo que dei do empreendimento de Bezos é apenas um dos mais recentes. Vale registrar que uma das prioridades dos estudos de biotecnologia em todo o mundo é justamente alcançar o momento de poder rejuvenescer as células humanas e prolongar nossa longevidade. É preciso esperar. E nesse espaço de tempo, é possível que a ciência venha a restabelecer a libido, a energia sexual dos pós-maturescentes e dos idosos com idade avançada.

Isto teria também uma série de impactos positivos, entre eles, o revigoramento da condição humana e psicológica de todas as pessoas idosas. Até suas relações sociais certamente melhorariam, seriam mais prazerosas. A sociabilidade, como sabemos, é de suma importância para todos nós, e especialmente para os idosos. A partir de certo momento em suas vidas, eles passam a conviver mais estreitamente com a solidão. Ou por se isolarem (e os motivos são muitos para isso), ou por serem isolados. Esta última alternativa, convenhamos, é tão corriqueira quanto cruel, mas lamentavelmente existe. No entanto, mesmo assim, alguns idosos ainda conseguem realmente viver a sua solitude, ou seja, por opção, levar uma vida isolada das outras pessoas, mas com tranquilidade de espírito, feliz consigo mesmo, mas sem a ilusão da autossuficiência. Ouvir o idoso, por exemplo, é um ato de solidariedade e respeito, mas é também, quase sempre, uma aula de como interpretar o mundo para vivermos melhor. É a experiência a serviço de quem se dispuser a ouvi-los. Apesar das boas perspectivas que a ciência nos tem oferecido, com certa frequência ouvimos pessoas dizerem que não querem envelhecer. Sim, é compreensível este raciocínio, que muitas vezes não significa negar a senescência, expressa apenas o desejo de não envelhecer. Talvez até digam isto de forma inadvertida, é possível. De qualquer modo, uma coisa é certa: quem não envelhece é porque morre antes, o que você prefere?

[1] Imagem: sabinevanerp / Pixabay.

Como citar este texto: Jornal da USP. Os efeitos do tempo.  Texto de Waldenyr Caldas. Saense. https://saense.com.br/2022/06/os-efeitos-do-tempo/. Publicado em 06 de junho (2022).

Notícias do Jornal da USP     Home