ESO
17/08/2022
O Very Large Telescope (VLT) do ESO observou o resultado de uma colisão cósmica — a galáxia NGC 7727. Esta gigante nasceu da fusão de duas galáxias, um evento que começou há cerca de um bilhão de anos.Em seu centro está o par mais próximo de buracos negros supermassivos já encontrados, dois objetos que estão destinados a se unirem em um buraco negro ainda mais massivo.
Assim como você pode esbarrar em alguém em uma rua movimentada, as galáxias também podem esbarrar umas nas outras. Mas, enquanto as interações galácticas são muito mais violentas que um choque na rua, as estrelas individuais geralmente não colidem, pois, em comparação com seus tamanhos, as distâncias entre elas são muito grandes. Em vez disso, as galáxias “dançam” em torno uma da outra, com a gravidade criando forças de maré que mudam drasticamente a forma dos dois parceiros de dança. “Caudas” de estrelas, gás e poeira são tecidas em torno das galáxias à medida que elas formam eventualmente uma nova galáxia, dando origem a uma bonita e desordenada forma assimétrica como a que vemos aqui na NGC 7727.
As consequências deste choque cósmico são muito evidentes nesta imagem da galáxia, obtida com o instrumento FORS2 (FOcal Reducer and low dispersion Spectrograph 2) montado no VLT do ESO. Apesar desta galáxia ter já sido previamente observada com outro telescópio do ESO, esta nova imagem mostra detalhes mais intrincados, tanto no corpo principal da galáxia como nas tênues caudas ao seu redor.
Nesta imagem do VLT do ESO podemos ver os trilhos emaranhados criados à medida que as duas galáxias vão se fundindo, arrancando estrelas e poeira uma da outra para formar os longos braços que envolvem a NGC 7727. Partes destes braços se encontram salpicadas de estrelas, as quais aparecem como pontos brilhantes azul-lilás na imagem.
Também visíveis na imagem estão dois pontos brilhantes no centro da galáxia, outro sinal do seu passado dramático. O núcleo da NGC 7727 é ainda composto pelos dois núcleos galácticos originais, cada um com um buraco negro supermassivo. Localizado a cerca de 89 milhões de anos-luz da Terra, na constelação de Aquário, este é o par de buracos negros supermassivos mais próximos de nós.
Observa-se que os buracos negros em NGC 7727 estão a apenas 1600 anos-luz de distância no céu e devem se fundir dentro de 250 milhões de anos, um piscar de olhos em tempo astronômico. Quando os buracos negros se fundem, eles criam um buraco negro ainda mais massivo.
Prevê-se que a procura de pares de buracos negros supermassivos escondidos, como este, dê um grande salto em frente com o futuro Extremely Large Telescope (ELT) do ESO, que está previsto começar a operar mais para o final desta década, no deserto chileno do Atacama. Com o ELT, esperamos descobrir muitos mais destes objetos no centro das galáxias.
A nossa Galáxia, a Via Láctea, que também possui um buraco negro supermassivo no seu centro, vai acabar por se fundir com a nossa vizinha próxima, a galáxia de Andrômeda, daqui a bilhões de anos. Talvez a galáxia resultante se pareça com a dança cósmica que vemos na NGC 7727, por isso esta imagem imagem pode nos dar um vislumbre do futuro. [2], [3]
[1] Crédito: ESO
[2]Esta imagem foi criada como parte do programa Joias Cósmicas do ESO, uma iniciativa que visa obter imagens de objetos interessantes, intrigantes ou visualmente atrativos, utilizando os telescópios do ESO, para efeitos de educação e divulgação científica. O programa utiliza tempo de telescópio que não pode ser usado em observações científicas. Todos os dados obtidos podem ter igualmente interesse científico e são, por isso, postos à disposição dos astrônomos através do arquivo científico do ESO.
[3] Este texto foi traduzido por Margarida Serote (Portugal) e adaptado para o português brasileiro por Eugênio Reis Neto
Como citar este texto: ESO. Telescópio do ESO fotografa uma espetacular dança cósmica. Tradução de Margarida Serote e Eugênio Reis Neto. Saense. https://saense.com.br/2022/08/telescopio-do-eso-fotografa-uma-espetacular-danca-cosmica/. Publicado em 17 de agosto (2022).