CCS/CAPES
19/09/2022
Pesquisa realizada por Mayara Alves Menezes, doutora pelo Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde, na Universidade der Sergipe (UFS), investiga a eficácia da Estimulação Elétrica Nervosa (TENS) na redução da dor muscular tardia (DMT) e na recuperação muscular em atletas e sujeitos destreinados. O estudo mostra que a TENS não é eficaz na diminuição da DMT, nem na recuperação muscular de indivíduos sedentários ou irregularmente ativos fisicamente. Trabalho foi publicado na revista European Journal of Applied Physiology.
Fale sobre um pouco sobre o seu trabalho.
A dor muscular tardia (DMT) é um sintoma comumente relatado por sujeitos destreinados ou atletas, após a realização de exercícios não familiarizados ou por exercícios de alta intensidade. A DMT, também é considerada uma lesão ultraestrutural. A incidência da DMT corresponde de 10% a 55% das lesões esportivas e são responsáveis por uma perda de treinamento ou dias de competição.
A estimulação elétrica é um conjunto de correntes elétricas não invasivas e não farmacológicas, que tem sido alvo de investigações na ciência do esporte para melhorar o desempenho físico dos atletas. Entre essas terapias, as correntes elétricas periféricas, são um recurso bastante utilizado na fisioterapia, que proporciona a estimulação elétrica do nervo através da aplicação de eletrodos sobre pele ou sobre o músculo. No entanto, a eficácia das correntes elétricas ainda não tinha sido investigada na DMT e na recuperação muscular em atletas ou sujeitos destreinados.
Quais foram os objetivos das suas pesquisas?
Durante o mestrado desenvolvi um ensaio controlado que investigou os efeitos imediatos da Estimulação Elétrica Nervosa Transcutânea (TENS) aplicada durante o exercício resistido na intensidade de dor e no desempenho do físico de sujeitos destreinados (sujeitos sedentários ou irregularmente ativos fisicamente) em comparação com placebo (simulação). A TENS é uma corrente elétrica comumente utilizada na prática clínica, porém sua eficácia durante o exercício ainda não tinha sido investigada na DMT e na recuperação muscular nessa população.
Durante o doutorado, reuni todos os ensaios controlados aleatorizados publicados na temática pesquisados em diferentes bases de dados até março de 2021. O objetivo foi investigar a eficácia da estimulação elétrica na prevenção ou no tratamento da DMT e na recuperação muscular em atletas ou sujeitos destreinados em comparação com os grupos placebo (simulação, sem estimulação elétrica) ou grupo controle (sem intervenção) nos períodos imediatamente, 24, 48, 72, e 96 horas após a aplicação da intervenção.
Quais foram os achados da pesquisa?
Os resultados do estudo mostraram que a utilização da TENS durante o exercício não reduziu a percepção de dor muscular. Porém, a utilização da TENS induziu maior trabalho muscular durante o exercício contribuindo para maior percepção de fadiga em comparação com o placebo. Baseado na análise das evidências que variaram entre qualidade “muito baixa e baixa” dos estudos incluídos na revisão, a estimulação elétrica não mostrou nenhuma redução da DMT e nenhuma melhoria da recuperação muscular em adultos destreinados.
De que maneira a sua pesquisa poderia ser aplicada?
Para recomendar a utilização de uma intervenção é essencial reunir os ensaios controlados aleatorizados disponíveis em uma revisão sistemática para facilitar a tomada de decisões para a prática clínica e, assim, contribuir com todos os profissionais envolvidos na medicina desportiva. Diante dos resultados encontrados na presente revisão sistemática, apenas um estudo com corrente interferencial mostrou um efeito negativo no pico de torque isométrico e na intensidade de dor ao movimento. Isto significa que a estimulação elétrica não é frutífera para esta população, de acordo com os protocolos utilizados até esta data. Portanto, é improvável que mais estudos com a mesma abordagem produzam resultados promissores.
Qual a importância da sua pesquisa? O que ela traz de diferente da literatura?
De acordo com o nosso conhecimento, esta é a primeira revisão sistemática com metanálise de ensaios controlados aleatorizados que investigou os efeitos da estimulação elétrica na DMT em atletas e adultos destreinados. Um dos pontos fortes e diferenciais dos estudos desenvolvidos é a avaliação dos desfechos como a intensidade de dor e força muscular, que são relevantes para essa população. Clinicamente para DMT, nós estamos mais interessados em saber se uma intervenção pode ajudar ao retorno à atividade física ou ao esporte com menos dor. Sendo assim, baseado na investigação desses desfechos, não há recomendações que apoiem o uso da estimulação elétrica para esses fins terapêuticos. No entanto, uma limitação do presente estudo é que esses resultados são aplicados apenas a uma população de sujeitos destreinados, visto que não foram possíveis comparações entre a atletas devido aos dados incompletos em um dos artigos com essa população.
Qual destaque que o trabalho recebeu?
Fruto da sua dissertação, publiquei em 2018, na revista internacional, European Journal of Applied Physiology, o ensaio clínico intitulado: Immediate effects of transcutaneous electrical nerve stimulation (TENS) administered during resistance exercise on pain inTENSity and physical performance of healthy subjects: a randomized clinical trial.
Recentemente defendi a tese e a revisão sistemática Is Electrical Stimulation Effective in Preventing or Treating Delayed-Onset Muscle Soreness (DOMS) In Athletes And Untrained Adults? A Systematic Review With Meta-Analysis foi publicada em uma revista internacional, de alto fator de impacto The Journal of Pain.
Como citar este texto: CCS/CAPES. Estimulação elétrica não reduz fadiga muscular em destreinados. Saense. https://saense.com.br/2022/09/estimulacao-eletrica-nao-reduz-fadiga-muscular-em-destreinados/. Publicado em 19 de setembro (2022).