UFRGS
16/11/2022

Pesquisa compara perfis genéticos do câncer de próstata de brasileiros, sul-africanos e australianos
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O câncer de próstata é responsável por cerca de 1,5 milhão de novos diagnósticos e quase 375 mil mortes anuais associadas ao sexo masculino em todo o mundo. Buscando aprofundar o conhecimento sobre as predisposições genéticas dos indivíduos para personalizar o tratamento dos pacientes que apresentam esse tipo de tumor, um artigo publicado no periódico internacional Nature Communications analisou a diferença no perfil genético (mutações) de brasileiros em relação a sul-africanos e australianos.

Realizado pela pesquisadora do Instituto de Ciências Básicas da Saúde da UFRGS Ilma Simoni Brum da Silva em parceria com cientistas de diferentes países, o trabalho intitulado African-specific molecular taxonomy of prostate cancer classifica os grupos de pacientes que têm expressão diferente de alguns genes – classificação baseada nas mutações ocorridas nesses genes nas diferentes etnias.

Ilma conta que, durante um congresso na África do Sul, conheceu um estudo para caracterização do câncer de próstata que, até aquele momento, estava sendo realizado somente com pacientes sul-africanos e australianos. Considerando que ela já trabalhava com esse tema e que a população brasileira é muito miscigenada, a cientista iniciou uma colaboração com as pesquisadoras responsáveis pelo projeto para incluir pacientes brasileiros. “A ideia era observarmos se existiria alguma diferença no perfil genético, baseada em mutações e na assinatura genética dos pacientes brasileiros com câncer de próstata, em relação aos sul-africanos e aos australianos”, explica a docente. 

Em análise 

A pesquisa com a inclusão de amostras de brasileiros começou com a seleção de um grupo inicial de 12 pacientes. A partir disso, o material foi encaminhado para a Austrália para que todas as análises fossem feitas juntas e da mesma forma. De acordo com Ilma, para que os grupos fossem comparados, eles precisavam passar pela mesma metodologia de análise para que se fizesse o sequenciamento total do tumor.

Devido às características de inclusão e aos requisitos de análise, ao final foram incluídas amostras de nove indivíduos brasileiros, 53 australianos e 123 sul-africanos. Com o material dos pacientes brasileiros, sul-africanos e australianos, os pesquisadores sintetizaram o perfil genético do tumor do câncer de próstata nas etnias africana (à qual pertencem os pacientes da África do Sul) e europeia (indivíduos australianos). “Nós observamos que existe uma diferença: os africanos têm um determinado perfil de expressão de genes, os da etnia europeia, ou seja, os australianos, têm outro, e o Brasil é um intermediário, tem genes que vêm das duas ancestralidades [africana e europeia]”, revela Ilma. 

O objetivo do artigo foi realizar uma taxonomia molecular do câncer de próstata, baseada nas mutações encontradas nos genes, ou seja, tentar estabelecer uma classificação dos pacientes que têm esse tipo de tumor. A partir dessa taxonomia, foram identificados quatro subgrupos de pacientes (subtipos mutacionais globais A, B, C e D) que têm diferentes expressões dos genes, ligadas à predisposição ou não à doença grave. Esses genes se expressam de forma diversa conforme a etnia, questões hereditárias e ambientais de cada pessoa, o que caracteriza a “assinatura genética” e a classificação em um dos grupos propostos. A análise é importante porque, a partir dela, é possível identificar diferentes grupos e qual o tratamento mais adequado para cada indivíduo.

“O que nós, então, precisamos saber é: o que tem de diferente nesses pacientes? Por que um responde a determinado tratamento e o outro não? Essa é a forma que nós teremos no futuro de tratar esses pacientes: conhecendo-os” 

Ilma Brum

Tratamentos personalizados 

A professora ressalta que, conhecendo as populações, será possível evoluir no tratamento com a medicina genômica, estabelecendo, assim, protocolos mais personalizados. A quimioterapia, por exemplo, é geralmente feita da mesma forma em todos os pacientes que possuem determinado tumor, mas é possível que não tenha a mesma efetividade em todos os indivíduos. “Encaminhar esses pacientes para que eles tenham esse diagnóstico diferencial do tumor, para que eles possam ser tratados de uma forma mais específica, diminui muitos efeitos da quimioterapia em grande escala, possibilita uma resposta e uma sobrevida do paciente com câncer muito maior e com melhor qualidade”, relata Ilma.

Ela reforça que países que investem muito em pesquisas na área da saúde, como França e Estados Unidos, conseguem traduzir esses avanços da ciência em políticas públicas e, assim, oferecer diagnósticos e tratamentos cada vez mais eficazes e adequados para a sua população.

“Embora os países com menores condições de investimento nessa área estejam ainda muito atrás, eu acredito que nós precisamos começar a pensar nisso e batalhar por recursos para que nós consigamos evoluir da mesma forma. Todas as pessoas merecem ser tratadas da melhor forma possível”

Ilma Brum

De acordo com a pesquisadora, só será possível melhorar a qualidade de vida das pessoas se houver investimento em pesquisas e em projetos que ultrapassem as barreiras na Universidade e contribuam diretamente no dia a dia da população. “É para isso que nós trabalhamos, é por isso que nós formamos alunos: para que as pessoas vivam melhor.” [2]

[1] Foto: Maria Ana Krack/PMPA.

[2] Texto de Geovana Benites.

Como citar esta notícia: UFRGS. Pesquisa compara perfis genéticos do câncer de próstata de brasileiros, sul-africanos e australianos. Texto de Geovana Benites. Saense. https://saense.com.br/2022/11/pesquisa-compara-perfis-geneticos-do-cancer-de-prostata-de-brasileiros-sul-africanos-e-australianos/. Publicado em 16 de novembro (2022).

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