Hendrik Macedo
20/02/2024
Num enredo digno de suspense, uma rede neural chamada PrismNN [2], protagonista da trama científica, superou médicos na detecção precoce de câncer pancreático. A rede, criada por pesquisadores do MIT e oncologistas do Beth Israel Medical Center em Boston, foi treinada para prever o risco de diagnóstico do Adenocarcinoma Ductal Pancreático (PDAC), a versão mais comum de câncer pancreático, nos próximos 6 a 18 meses. O elenco contou com 35.000 pacientes com PDAC e 1,5 milhão de pacientes controle, todos com 40 anos ou mais, marcados com 87 características, desde histórico médico até medicações usadas.
A PrismNN brilhou ao identificar 35,9% dos pacientes de alto risco, com uma taxa de falsos positivos de 4,7%. Comparativamente, os critérios genéticos tradicionais só alertavam para 10% dos casos de PDAC. A protagonista se mostrou livre de quaisquer preconceitos ao manter a performance independentemente da idade, raça, gênero ou geografia dos personagens da trama.
E qual a relevância desse enredo? É que, meus caros, o câncer de pâncreas é um vilão implacável; apenas 11% de suas vítimas conseguem sobreviver por 5 anos após serem capturadas. A sagacidade do PrismNN em identificar casos com tanta antecedência promete aumentar significativamente essa taxa, uma reviravolta de esperança dessa tragédia médica. Assim como o PrismNN, outras protagonistas da Inteligência Artificial têm alcançado feitos igualmente importantes. Em 2022, outro algoritmo brilhou ao identificar tumores em biópsias de linfonodos [4]. Em 2023, foi a vez de uma rede neural reconhecer tumores de mama em mamogramas com a mesma destreza de radiologistas humanos [3].
Voltando ao drama médico, saber que toda essa acuidade da detecção por parte do PrismNN não exige qualquer teste adicional é uma reviravolta digna de Oscar, já que assim, o método pode se tornar extremamente acessível pelo seu baixíssimo custo. Aguardamos ansiosos para ver se outras equipes replicam esses resultados numa sequência de eventos que poderia rivalizar com qualquer blockbuster de Hollywood.
[1] Crédito da imagem: Gerado com IA (Copilot Designer/bing.com) ∙ 5 de fevereiro de 2024. (https://www.bing.com/images/create/inteligc3aancia-artificial-na-detecc3a7c3a3o-precoce-do-cc3a2n/1-65c1928367774f91b38459bfc056fbce?id=eQgEKnGOS1ESESO6WS%2fHFA%3d%3d&view=detailv2&idpp=genimg&idpbck=1&form=BICREC )
[2] Jia, K., Kundrot, S., Palchuk, M. B., Warnick, J., Haapala, K., Kaplan, I. D., … & Appelbaum, L. (2023). A pancreatic cancer risk prediction model (Prism) developed and validated on large-scale US clinical data. Ebiomedicine, 98.
[3] Jin, D., Rosenthal, J. H., Thompson, E. E., Dunnmon, J., Mohtashamian, A., Ward, D., … & Olson, N. H. (2022). Independent assessment of a deep learning system for lymph node metastasis detection on the Augmented Reality Microscope. Journal of Pathology Informatics, 13, 100142.
[4] Lång, K., Josefsson, V., Larsson, A. M., Larsson, S., Högberg, C., Sartor, H., … & Rosso, A. (2023). Artificial intelligence-supported screen reading versus standard double reading in the Mammography Screening with Artificial Intelligence trial (MASAI): a clinical safety analysis of a randomised, controlled, non-inferiority, single-blinded, screening accuracy study. The Lancet Oncology, 24(8), 936-944.
Como citar este artigo: Hendrik Macedo. Detecção precoce do câncer de pâncreas não é mais “novela”, é “filme”. Saense. https://saense.com.br/2024/02/deteccao-precoce-do-cancer-de-pancreas-nao-e-mais-novela-e-filme/. Publicado em 20 de fevereiro (2024).