Luana Mendonça
18/06/2019
A degradação ambiental é um tema que vem sendo discutido por décadas e, mesmo assim, quase nada vem sendo feito para evitar e/ou restaurar esses ambientes destruídos. Essa degradação da qual falamos aqui não está relacionada apenas a remoção dos ambientes naturais, como o desmatamento na Amazônia, por exemplo, mas também à poluição, principalmente dos corpos de água doce, remoção da diversidade (animais e plantas), excessos na captura de recursos alimentares (sobre-explotação), dentre outros. Esses exemplos têm em comum o agente causador… o homem!
A espécie humana surgiu e vive na terra há muito pouco tempo… um “segundo”, em comparação com o tempo de outros animais. E nesse curtíssimo tempo nós conseguimos evoluir enquanto sociedade, cultura, história, arte, tecnologia etc., mas também conseguimos destruir boa parte da diversidade de ambientes, plantas, animais e até nós mesmos (também somos animais).
O impacto da presença humana na terra é tema de diversos estudos e, infelizmente, a descrença nos resultados de muitos desses trabalhos de longo tempo tem levado pessoas e grupos a acharem que não existe aquecimento global, que não estamos causando extinções, que as degradações que o homem vem causando não são tão sérias assim e também que para crescermos economicamente precisamos destruir ambientes naturais. Tudo isso é muito complicado e, obviamente, precisamos tentar mostrar às pessoas a realidade e talvez elas entendam o que estamos fazendo e procurem alguma forma de ajudar a reverter. Mas isso é uma idealização, pessoas tomando consciência do que nós, enquanto humanos, estamos destruindo nosso próprio ambiente e que precisamos tomar medidas pra reverter e minimizar nosso impacto é o que precisamos, mas eu, pessoalmente, não acredito muito nessa tomada de consciência generalizada.
Obviamente, se formos bem racionais, não importa muito se conseguirmos ou não convencer as pessoas do que está acontecendo, pois está acontecendo… e não estamos fazendo muito pra reverter… na verdade, estamos piorando as coisas. Um exemplo, é o Brasil, que abriga a maior reserva de água doce disponível do mundo e também está entre os países que mais utilizam agrotóxicos e poluem os corpos de água como consequência não apenas da agricultura industrial, mas, também, de outros tipos de indústria que descartam inúmeros poluentes nas fontes de água próximas.
Esse efeito dos humanos no ambiente é o que mostra um grande relatório sobre o estado dos ecossistemas globais que unificou os resultados de 15 mil estudos e relatórios governamentais [1]. Esse relatório mostra que 75% dos ecossistemas terrestres e 66% dos oceanos estão ‘significativamente alterados’ e que serão necessárias ‘mudanças transformadoras’ nos nossos hábitos e na nossa forma de economia, política e relações sociais, até 2050 ou, então, enfrentaremos a maior perda da biodiversidade que já aconteceu no nosso planeta.
Você pode estar se perguntando, talvez, o que isso muda pra você… talvez nada, agora ou no ano que vem, mas daqui há 10 anos nós poderemos estar enfrentando uma crise hídrica, não pela falta da água, mas por ela não poder ser consumida… poderemos estar enfrentando uma crise na alimentação, pois tudo estará tão contaminado, os solos, as águas, que já não será possível consumir tudo ou plantar em todos os locais… poderemos estar enfrentando uma crise de saúde pública, com tantas doenças derivadas da poluição generalizada… poderemos não ter mais recursos pesqueiros porque já não vai existir pescado suficiente para alimentar nossa população… isso é uma visão do quanto as mudanças que nós criamos se voltará contra nós… mas lembrem que existem milhões de outros organismos vivendo no planeta e que eles têm o infortúnio de coexistir com a espécie humana… essas outras espécies estão sofrendo sem nem ao menos terem culpa…, inclusive muitas delas já foram extintas; nós somos capazes de tudo, temos criatividade infinita, tecnologias impensáveis, mas ainda negligenciamos o ambiente e nos sentimos no direito de acabar com tudo o que está a nossa volta por puro interesse imediatista.
Os pesquisadores envolvidos no relatório pretendem liberar todo o documento, com os resultados, até o final do ano e, esperam, assim como muitos de nós, que os governos (e suas populações) entendam de uma vez que não podemos mais fingir que não existe ou dar vazão a informações falsas e estudos duvidosos que tentam garantir que não existem problemas ambientais… segundo os pesquisadores “Não poderemos mais dizer que não sabemos”.
[1] J Tollefson. One million species face extinction. Nature News 569: 171 (2019).
Como citar este artigo: Luana Mendonça. Um milhão de espécies estão em processo de extinção e somos nós (humanos) os culpados. Saense. https://saense.com.br/2019/06/um-milhao-de-especies-estao-em-processo-de-extincao-e-somos-nos-humanos-os-culpados/. Publicado em 18 de junho (2019).