UFRGS
06/08/2021

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O diabetes é uma doença crônica que atinge milhões de pessoas no mundo todo, afetando seu dia a dia e seus hábitos de vida. De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes, no Brasil existem mais de 13 milhões de pessoas nessa condição. A alta prevalência da doença faz com que pesquisadores em vários países se dediquem a encontrar soluções que melhorem a qualidade de vida desses pacientes. Na UFRGS, um estudo realizado por pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Microbiologia Agrícola e do Ambiente (PPGMAA) e do Programa de Pós-Graduação em Endocrinologia (PPG Endo), publicado recentemente na revista Diabetologia, busca analisar os possíveis benefícios do uso de probióticos, prebióticos e simbióticos na dieta de pessoas diagnosticadas com a doença crônica. Trata-se do artigo The effect of probiotics, prebiotics or synbiotics on metabolic outcomes in individuals with diabetes: a systematic review and meta-analysisque apresenta os resultados de uma revisão sistemática e meta-análise de ensaios clínicos randomizados controlados que avaliaram o efeito da administração de probióticos, prebióticos ou simbióticos na microbiota intestinal e no controle de glicose e níveis de lipídios em indivíduos com diabetes. O estudo conclui que o uso de probióticos, prebióticos ou simbióticos melhorou as variáveis metabólicas nesses indivíduos, sugerindo que o consumo desses produtos pode ser um potencial tratamento adjuvante para melhorar os seus resultados metabólicos, ainda que a magnitude desse efeito seja baixa.

Os pesquisadores destacam que, embora haja indicação de possíveis benefícios do uso desses suplementos, de forma alguma eles substituem os principais medicamentos utilizados no tratamento da doença. Salientam também que outros estudos sobre o tema devem continuar, para que se conheça mais sobre como usar probióticos, prebióticos e simbióticos.

Adjuvantes no tratamento

Conforme explica a pesquisadora Patrícia Bock, do PPG Endo, diabetes é uma doença metabólica que causa diversas alterações no organismo, desde mudanças no nível de glicose e de outras substâncias no sangue até os possíveis efeitos disso, como respostas inflamatórias desreguladas e problemas cardíacos. Nesse sentido, uma das questões centrais no tratamento é adaptar a dieta, a prática de atividades físicas e os medicamentos indicados ao paciente para manter a doença sob controle. Andreza Martins, professora do PPGMAA, esclarece as diferenças básicas entre o paciente controlado e o não controlado considerando a microbiota intestinal: “O paciente controlado tem uma microbiota próxima de um indivíduo que não é doente e mantém uma rotina de cuidados – faz exercício físico, tem uma dieta boa, toma medicamentos a fim de não ter os picos de glicose no sangue causados pela doença e, na maior parte do tempo, está com a glicemia quase como a de uma pessoa sem diabetes. O paciente não controlado, apesar dos medicamentos, acaba tendo picos de glicose no sangue e apresenta alterações na microbiota intestinal. Essa oscilação é um dos fatores que faz com que ele tenha um aumento de riscos de doenças circulatórias e renais”. A professora afirma ainda que o estudo mostra que os probióticos, prebióticos e simbióticos, juntamente com o tratamento convencional, podem melhorar o controle dos parâmetros metabólicos: “Principalmente em pacientes que têm dificuldade de manter a glicemia em níveis normais, esses produtos podem oferecer um grande benefício”.

A revisão sistemática e a meta-análise realizadas pelos pesquisadores envolveram uma seleção de vários estudos em pacientes com diabetes em uso ou não destas suplementações. A análise partiu de mais de cinco mil artigos e chegou a apenas 38 com as principais características necessárias: pro/pre/simbióticos sendo utilizados em pacientes com diabetes do tipo 2 por pelo menos três meses, com medição da hemoglobina glicada – um parâmetro laboratorial que indica como estava o controle glicêmico nesse período.

A pesquisadora Beatriz Schaan, do PPG Endo, explica que o achado principal do trabalho foi uma possibilidade de melhoria no metabolismo glicêmico das pessoas com diabetes, porém destaca que algumas disparidades nos métodos dos artigos analisados não permitem tornar essa conclusão definitiva. As autoras do artigo entendem que o diferencial do estudo é ter conseguido compilar os trabalhos acerca dos bióticos de forma muito crítica, aprofundada e com critérios de qualidade. “Observamos que essas substâncias têm algum potencial de coadjuvante no tratamento para esses pacientes, mas não são uma grande mudança: na própria hemoglobina glicada não foi observada alteração significativa, apesar de uma tendência à melhora”, acrescenta Patrícia, explicando também que a glicose e o colesterol total tiveram uma redução. Beatriz diz que é inegável que há uma melhora em alguns aspectos do metabolismo das pessoas com diabetes com o uso de probióticos, prebióticos e simbióticos, mas não é possível concluir que o uso desses suplementos seja realmente efetivo no controle da doença.

O achado pode beneficiar os pacientes que, mesmo seguindo uma rotina de cuidados, não conseguem manter a glicose sob controle. “Quem sabe não se possa utilizar um probiótico em vez de um terceiro medicamento? Sabemos que os medicamentos têm efeitos colaterais, mesmo que leves”, contextualiza Patrícia. No entanto, Beatriz ressalta que há uma tendência a se achar tudo que é natural melhor do que produtos químicos, o que nem sempre é verdade ou pode simplesmente não trazer o benefício necessário. O interessante é que, considerando a realidade de uma pessoa com diabetes, a qual necessita encarar mudança de hábitos e cuidados, esses alimentos e substratos naturais se tornam mais uma possibilidade dentro de variadas estratégias de tratamento. “Quando se fala em mudanças de hábitos de vida, não é acrescentar algo milagroso: é um conjunto de estratégias para melhorar a saúde da pessoa”, ressalta Patrícia.

Continuidade da pesquisa

O estudo publicado na revista Diabetologia é um primeiro passo, mas não pode ser considerado conclusivo. Segundo as pesquisadoras, as diferenças encontradas nos artigos analisados – diferentes bióticos, doses diferentes, tomados irregularmente ou sem três meses de constância para alterar a hemoglobina glicada – fazem com que seja necessária a realização de mais ensaios clínicos randomizados, de modo que se descubra a quantidade e o período necessário para os suplementos serem de fato benéficos no controle do diabetes. Elas ressaltam que o problema é que esse tipo de estudo precisa de fomento financeiro elevado, além de tempo longo para ser realizado.

Enquanto isso, o grupo realiza dois novos estudos que também são revisões sistemáticas e tentam explicar melhor a relação entre a microbiota intestinal e o diabetes. [2]

[1] Foto: Gustavo Diehl/UFRGS – Arquivo.

[2] Texto de Thiago Sória.

Como citar esta notícia: UFRGS. Suplementos podem ser potenciais adjuvantes no tratamento do diabetes. Texto de Thiago Sória. Saense. https://saense.com.br/2021/08/suplementos-podem-ser-potenciais-adjuvantes-no-tratamento-do-diabetes/. Publicado em 06 de agosto (2021).

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