UFSC
25/07/2022
Um estudo publicado na revista científica Science Advances nesta sexta-feira, 1º de julho, mostra que as florestas em processo de regeneração em áreas agrícolas abandonadas não são todas iguais e podem ajudar a restaurar e conservar as distintas regiões ecológicas (biomas) das Américas. Um grupo de pesquisadores analisou 1.215 áreas em florestas em processo de regeneração do Oeste do México ao Sul do Brasil. Eles encontraram uma grande variação nas espécies de árvores entre regiões, resultado combinado da história evolutiva do continente e de condições ambientais atuais.
O estudo da rede internacional 2ndFOR, que envolve mais de 100 pesquisadores de 18 países, descobriu que a composição de espécies de florestas jovens em regeneração é muito variável em todo o continente, formando 14 regiões florísticas distintas. Segundo os cientistas, isso é surpreendente, pois até então se pensava que essas florestas jovens seriam dominadas pelo mesmo pequeno conjunto de espécies pioneiras generalistas.
A professora do Departamento de Fitotecnia do Centro de Ciências Agrárias (CCA) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Catarina Jakovac, autora principal do estudo, explica que “espécies pioneiras típicas de florestas jovens são geralmente abundantes e dispersas por animais generalistas, então pensamos que a maioria delas estaria presente em várias regiões como as espécies Trema micrantha e Guazuma ulmifolia”. No entanto, o estudo mostrou que essa ampla distribuição não é a regra nessas florestas em regeneração, e que 80% das 2.164 espécies analisadas estavam presentes em apenas uma região florística. Isso significa que diferentes grupos de espécies prosperam em cada região, e, portanto, a regeneração de florestas pode ajudar a conservar a diversidade de biomas nas Américas.
Por que há tanta variação na composição de espécies dessas florestas em regeneração? O estudo mostrou que a composição de espécies que vemos hoje é o resultado combinado de uma história biogeográfica antiga e condições ambientais recentes. O segundo autor do estudo, Jorge Meave, da Universidade Nacional Autônoma do México (Unam), esclarece que “ao longo da história evolutiva, algumas regiões tiveram um intenso intercâmbio de espécies enquanto outras regiões se mantiveram separadas por barreiras geográficas e ecológicas”. Por exemplo, há cerca de 3 milhões de anos, a aproximação das Américas do Norte e do Sul levou a um importante intercâmbio de espécies entre a América Central e a Amazônia, que compartilham várias espécies. Por outro lado, as regiões Sudeste e Sul da Mata Atlântica apresentam uma composição de espécies muito distinta da Amazônia. Isso acontece provavelmente porque essas regiões se mantiveram separadas por uma região seca, que hoje é o Cerrado, por cerca de 33 milhões de anos.
Além da história evolutiva, as variações nas condições ambientais também são importantes. As diferentes regiões florísticas encontradas no estudo foram associadas ao pH do solo, à sazonalidade da temperatura e à disponibilidade hídrica. Algumas espécies de estágios iniciais de sucessão só prosperam sob condições ambientais específicas, apesar de sua capacidade de dispersão por longas distâncias. Portanto, se as condições ambientais se alterarem, a composição das espécies pode mudar também, diminuindo a distinção entre biomas. O uso da terra, por exemplo, modifica o pH do solo, e as mudanças climáticas levam a um aumento da temperatura e a uma maior sazonalidade na disponibilidade de água. Lourens Poorter, autor sênior do estudo, conclui que “as mudanças globais podem, portanto, induzir mudanças na composição de espécies, potencialmente levando à uma homogeneização dessas florestas e reduzindo a diversidade de biomas em escala continental”.
Para evitar e mitigar tais consequências, as iniciativas de restauração florestal devem prestar muita atenção à seleção de espécies e priorizar as espécies locais em seus esforços de restauração. Jakovac enfatiza que “isso ajudará a restaurar as florestas locais e também a diversidade de espécies em grande escala, além de conservar a variabilidade entre biomas ao longo do continente”.
Contemplada na quinta chamada pública de apoio à ciência do Instituto Serrapilheira, Jakovac agora irá investigar se a pecuária, a agricultura e o extrativismo levam à regeneração de florestas com adaptações a ambientes mais secos, descaracterizando a Amazônia e a Mata Atlântica como florestas úmidas.
Como citar este texto: UFSC. Florestas em regeneração contribuem para diversidade de espécies e biomas nas Américas, indica estudo. Saense. https://saense.com.br/2022/07/florestas-em-regeneracao-contribuem-para-diversidade-de-especies-e-biomas-nas-americas-indica-estudo/. Publicado em 25 de julho (2022).