Claudio Macedo
16/05/2017
O impacto da estrutura social na mente do indivíduo tem sido um assunto de amplo interesse das ciências sociais. Nesse contexto, pesquisadores de instituições da Noruega, Dinamarca, Nova Zelândia e EUA investigaram profundamente o processo psicológico individual que sustenta hierarquias baseadas em grupos nas sociedades humanas [2].
No trabalho, os autores descobriram que a desigualdade estrutural da sociedade, a deterioração dos resultados demográficos, a instabilidade sociopolítica e o risco de violência se refletem no endosso da hegemonia de grupo: quanto maior é a desigualdade social do país, maior é o endosso da hierarquia entre os grupos dentro da população. Além disso, os pesquisadores identificaram que os motivos psicológicos de dominância de grupo medeiam os efeitos do funcionamento em nível geral de atitudes e comportamentos individuais. Especificamente, a desigualdade em nível geral e a violência estão associadas com maior apoio individual à hegemonia de grupo.
A pesquisa envolveu 46.437 voluntários membros de grupos sociais dominantes, de 27 países com condições culturais e socioeconômicas bem variadas, que responderam perguntas sobre seu apoio à hierarquia versus igualdade entre grupos. Foram feitas perguntas tipo: Imagine que o governo decide proibir o funcionamento de organizações de imigrantes. Você informaria à polícia sobre membros de organizações de imigrantes que você conheça? Você iria participar da caça aos imigrantes? Você iria participar de ataques às sedes de organizações de imigrantes? Você apoiaria o uso da força física contra os imigrantes? Você apoiaria a execução de líderes dos imigrantes? Nas análises, foram comparadas as respostas dos participantes com indicadores da ONU, do Banco Mundial e de Repórteres Sem Fronteiras, entre outros.
O trabalho ajuda a entender a perenidade da existência da desigualdade social no mundo. É fato que as hierarquias sociais são omnipresentes na cultura humana, de modo que os indivíduos mais bem classificados gozam de acesso privilegiado aos recursos, apesar dos conflitos sobre quem deve receber esse acesso privilegiado aos recursos serem muito dispendiosos. As simulações teóricas sugerem que, em geral, os indivíduos mais frágeis tendem a se submeter a adversários mais fortes. A tentativa de defender ou desafiar uma hegemonia de grupo deve depender da probabilidade de um grupo ter sucesso, isto é, de sua capacidade de combate ou poder em termos de força, tamanho e compromisso, incluindo a posse de recursos preexistentes. Os grupos dominantes são relativamente mais propensos a lutar violentamente para manter a sua posição privilegiada e os grupos submissos tendem a ser relativamente menos propensos a desafiar o status quo hegemônico, a menos que sua capacidade ou poder de luta indique alguma possibilidade de sucesso. De acordo com essa previsão, a sociedade humana é de fato caracterizada por algum grau de hegemonia relativamente estável entre os grupos, em que os grupos dominantes possuem mais recursos, status e melhores perspectivas na vida do que os grupos submissos, e os membros destes grupos tendem a incorporar mentalmente a hierarquia social como sendo algo natural. É assim que a desigualdade social se reflete nas mentes das pessoas como motivos de dominação que sustentam ideologias e ações que, em última instância, sustentam a hierarquia baseada em grupos, isto é, a desigualdade social. [3]
[1] Crédito da imagem: craftivist collective (Flickr) / Creative Commons (CC BY 2.0). URL: https://www.flickr.com/photos/craftivist-collective/5048834498/.
[2] JR Kunst et al. Preferences for group dominance track and mediate the effects of macro-level social inequality and violence across societies. PNAS 10.1073/pnas.1616572114 (2017)
[3] Artigos relacionados: Consequências psicológicas em adultos originadas da pobreza na infância, Rico vive mais, O efeito da desigualdade econômica na generosidade humana e Quando começamos a ter senso de justiça?
Como citar este artigo: Claudio Macedo. Entendendo a desigualdade social. Saense. URL: http://www.saense.com.br/2017/05/entendendo-a-desigualdade-social/. Publicado em 16 de maio (2017).