Luana Mendonça
19/04/2018
O sincronismo é fundamental para a vida, pois se, por exemplo, um predador sai pra caçar e não há presa, ele vai acabar morrendo de fome, se um macho pronto para reproduzir não encontra uma fêmea igualmente pronta, a espécie pode entrar em declínio e se, um polinizador como na imagem não acessa as flores no período correto em que elas estão produzindo o pólen, não haverá polinização. E o sincronismo vale para a nossa espécie também, é sempre ruim estar chegando ao ponto do ônibus e acompanhar o que você precisaria pegar indo embora sem você (kkkkk rir para não chorar)!
Obviamente, muitas forças agem favorecendo ou não o sincronismo entre espécies ou entre a espécie e seu ambiente, mas a natureza sempre nos impressiona com um ‘timing’ perfeito! Porém, parece que esse sincronismo esta sendo ameaçado pelo conhecido aumento das temperaturas globais. Mas Luana, o que tem haver as relações das espécies com o aumento da temperatura? Pois bem, tem tudo haver, a temperatura é reguladora de inúmeros aspectos da natureza e da vida, como o período reprodutivo, horário de alimentação e é até determinadora do sexo dos filhotes em muitas espécies. Logo, o aumento das temperaturas interfere em todos esses processos, uma vez que o incremento esta sendo maior e mais rápido que a capacidade de adaptação das espécies.
Tudo o que sabemos sobre as espécies e suas interações e sobre os possíveis efeitos das mudanças climáticas sobre as mesmas vem gerando muitas discussões, mas nenhum estudo tinha se proposto a avaliar, de modo mais abrangente, esses efeitos. Com estudos pontuais mostrando resultados contrários, ora afirmando que o sincronismo das espécies não seria modificado pelas mudanças climáticas, ora mostrando que os efeitos dessas mudanças seriam diferentes entre espécies e populações distintas, um estudo mais geral poderia ajudar a entender melhor se haveria/haverá modificações no sincronismo com o aumento das temperaturas. Foi o que fizeram Kharouba e colaboradores [2]. O que os pesquisadores fizeram foi compilar as informações existentes sobre os aspectos que envolvem o sincronismo das espécies, desde 1951 até 2013, e usar esses dados para verificar se houve recente mudança no sincronismo de pares de espécies e se essa mudança foi gerada ou não pelas mudanças climáticas.
Os autores encontraram inúmeras modificações recentes no sincronismo entre os pares de espécies observados, algumas modificações para melhor (maior sincronismo) e outras para pior (menor sincronismo) e essas modificações, segundo os autores, podem ter sido causadas por mudanças climáticas. Os pesquisadores afirmam que essa ‘culpa’ não foi completamente estabelecida pelos resultados, mas que há um indicativo de que as mudanças no sincronismo aumentaram junto com o aumento das temperaturas globais. Também é comentado no artigo que qualquer modificação no sincronismo entre os pares de espécies pode representar uma perturbação na interação das mesmas levando a consequências na aptidão de uma ou ambas as espécies.
A pergunta que fica é se as espécies serão capazes de, evolutivamente, adaptar-se às novas mudanças no clima e restabelecerem seu sincronismo. Eu particularmente tenho esperanças de que não apenas as espécies se adaptem, mas que nós, principais causadores das mudanças climáticas, tomemos as devidas providências para diminuir o nosso impacto no mundo.
[1] Crédito da imagem: Daniel Schwen (Wikimedia Commons) / Creative Commons (CC BY-SA 4.0). URL: https://en.wikipedia.org/wiki/Eastern_carpenter_bee#/media/File:Carpenter_bee.jpg.
[2] HM Kharouba et al. Global shifts in the phenological synchrony of species interactions over recent decades. PNAS 10.1073/pnas.1714511115 (2018).
Como citar este artigo: Luana Mendonça. O aumento das temperaturas globais pode estar modificando o sincronismo das espécies!. Saense. http://www.saense.com.br/2018/04/o-aumento-das-temperaturas-globais-pode-esta-modificando-o-sincronismo-das-especies/. Publicado em 19 de abril (2018).