Matheus Macedo-Lima
28/10/2015
Aprender um instrumento musical não envolve apenas o desenvolvimento de coordenação motora. De fato, as áreas do cérebro que controlam movimentos [2] dos dedos e mãos ficam maiores com treino musical, bem como as áreas que respondem a sons [3]. Porém, um novo estudo [4] mostra que o cérebro de músicos possui também conexões mais ativas entre os hemisférios, quando eles escutam música.
Músicos (tecladistas e instrumentistas de corda) e não-músicos foram examinados em uma máquina de ressonância magnética funcional – um tipo de medidor de atividade cerebral durante um intervalo de tempo – enquanto escutavam três peças musicais de diferentes estilos: um heavy metal progressivo (Dream Theater!), um tango argentino e um Stravinsky (nem imagino como os resultados seriam, se as peças fossem de outros gêneros…). Os resultados mostraram uma maior ativação simultânea de áreas nos dois hemisférios dos músicos, quando comparados com não-músicos, e, dentre os músicos, a ativação foi maior em tecladistas, quando comparados com instrumentistas de corda.
Os autores sugerem que essa maior sincronia seja devido ao desenvolvimento de habilidades motoras das duas mãos (lembrando que os movimentos do lado esquerdo são controlados pelo hemisfério direito e vice-versa!), e ao maior processamento auditivo e visual (devido à leitura de partituras) de músicas. No caso dos tecladistas, as mãos e dedos realizam comumente movimentos sincronizados e a leitura de partituras é feita para guiar ambas as mãos. Já nos instrumentistas de corda (que usam arcos para tocar), os movimentos são menos sincronizados entre as mãos, e a leitura de partituras é feita majoritariamente para uma das mãos, o que pode explicar a maior conectividade nos hemisférios dos tecladistas. O surpreendente é que essas diferenças aparecem quando os sujeitos apenas ouvem as músicas, sem fazer qualquer tipo de movimento!
Não se sabe, porém, se essa maior sincronia garante uma maior habilidade em tarefas do dia-a-dia (como digitação, por exemplo), ou se a sincronia já existia antes dos músicos se tornarem músicos, o que é pouco provável [5] (“ovo ou galinha veio primeiro?”). Contudo, esses resultados sugerem que a maior conectividade entre os hemisférios é possível com treino musical, o que é mais um ponto a favor da eficácia de técnicas como a musicoterapia para pacientes com dano cerebral. Já ouviu falar de como a cantora Melody Gardot chegou ao sucesso?
[1] Crédito da imagem: Ali Eminov (Flickr) / Creative Commons (CC BY-NC 2.0). URL: https://www.flickr.com/photos/aliarda/7223175126.
[2] T Elbert et al. Increased Cortical Representation of the Fingers of the Left Hand in String Players. Science 270, 305 (1995).
[3] C Pantev et al. Increased auditory cortical representation in musicians. Nature 392, 811 (1998).
[4] I Burunat et al. Action in Perception: Prominent Visuo-Motor Functional Symmetry in Musicians during Music Listening. PLoS One 10, e0138238 (2015).
[5] K Rosenkranz et al. Motorcortical excitability and synaptic plasticity is enhanced in professional musicians. J Neurosci 27, 5200 (2007).
Como citar este artigo: Matheus Macedo-Lima. Cérebros “afinados”: tocar instrumentos musicais está associado à maior comunicação entre os hemisférios. Saense. URL: http://www.saense.com.br/2015/10/cerebros-afinados-tocar-instrumentos-musicais-esta-associado-a-maior-comunicacao-entre-os-hemisferios/. Publicado em 28 de outubro (2015).
Música é algo simplesmente sensacional, além de ajudar em questões sentimentais, ainda é bom para a conectividade do cérebro… Tem um documentário simplesmente incrível chamado Alive inside da Netflix que mostra como a música pode estimular a memória em senhores com Alzheimer, nele podemos perceber como a música tem poder!!
Adorei o texto.
Parabéns!
Obrigado pelo elogio, Luana!
Já adicionei o documentário à minha lista do Netflix.
Um livro bastante interessante também sobre o assunto, que traz um apanhado sobre o que se sabia sobre o efeito da música no cérebro (até 2006, quando foi publicado) é o livro “This is your brain on music”, do Dr. Daniel Levitin. Vale a pena conferir!
Muito bom texto. Eu toco baixo e guitarra e gostei da informação do texto. Parabéns.
Gostaria de fazer outro comentário. Como cada mão do músico, em diversas situações, executa elementos da música que precisam está conectados (harmonia e melodia), no meu entender isso induz ao cérebro uma maior conectividade entre os hemisférios.
Oi Marcelo,
Obrigado pelo comentário.
Essa é uma das hipóteses dos autores, à respeito da observação de maior sincronia no córtex motor. Talvez os músicos “imaginem” os movimentos quando escutam as músicas…
Mas as outras áreas (visuais, auditivas, sensoriais, de tomada de decisão e outras) não estão tão intimamente ligadas ao movimento das mãos. Mais provavelmente à leitura de partituras, e ao possível maior prazer experimentado por músicos ao ouvir peças de boa música.
Uau!Eu toco teclado á quase três anos!Não parei de sorrir enquanto lia essa matéria…Gostei😃
Obrigado pelo comentário Isadora!
É isso aí! Profissionalmente ou por hobby; o importante é continuar tocando! Eu toco piano há 16 anos e mesmo quase sem tempo e mudando frequentemente de cidade, tento sempre ter um piano por perto. 🙂
Meu filho tem seis anos e faz música desde os 3, musicalização, hoje ele faz bateria e violino. Não sei pq mas acho uma criança que tem uma sensibilidade incrível, consegue entender nossas conversas, minha e do pai, sem precisar gritos ou até mesmo apanhar. Compreendefacil e nos dá sempre o feedback das suas atitudes. Creio que a música da esse sentido apurado a ele.
Olá Aline,
A sua hipótese tem suporte na ciência! Há estudos que mostram que o treinamento musical afeta positivamente o desenvolvimento da criança: habilidades de escuta, aprendizado de linguagem, habilidades motoras, capcidade de orientação no tempo e no espaço, habilidades sociais, entre outras.
Vocês, pais, estão de parabéns pelo incentivo!
Obrigado pelo comentário.