Ana Maia
19/10/2015
Diferentemente do que ocorreu após o acidente nuclear de Chernobyl, onde uma enorme área foi isolada e abandonada, os japoneses planejam a descontaminação da região dos reatores de Fukushima. Para tanto, um grande problema é identificar como estão os interiores dos reatores e, sobretudo, onde estão os combustíveis nucleares que possivelmente sofreram derretimento severo.
Como os altos níveis de radiação impossibilitam o acesso ao interior dos reatores, uma tecnologia de imagem já utilizada para visualizar o interior de pirâmide do Egito [2] foi testada e se mostrou promissora: a tomografia de múons [3].
Múons são partículas subatômicas presentes na radiação cósmica que nos atinge constantemente. Os múons são semelhantes aos elétrons, mas têm massa 20 vezes maior. A grande vantagem do múon é que ele é capaz de atravessar uma espessura muito grande de matéria, possibilitando fazer a imagem em situações em que as técnicas convencionais de imagem por radiação X não são eficientes.
As primeiras imagens de tomografia de múons no reator 1 de Fukushima [4] mostraram apenas um brilho difuso na região onde se supunha encontrar o combustível nuclear. A ausência de manchas sombreadas, que indicariam a presença do urânio, reforçam o que já era esperado: houve derretimento total do núcleo do reator.
O fato de ter sido possível enxergar o interior do reator aumenta a esperança de que esta técnica seja a solução para a localização precisa do combustível derretido e a posterior descontaminação. Muitos passos, e certamente muitas décadas, ainda nos separam da limpeza completa dos reatores de Fukushima, mas a necessidade de observar o interior do reator já tem promovido grande avanço na tecnologia de detecção de múons [5].
[1] Crédito da imagem: Greg Webb/IAEA (Flickr) / Creative Commons (CC BY-SA 2.0). URL: https://www.flickr.com/photos/iaea_imagebank/5765324940/.
[2] LW Alvarez et al. Search for Hidden Chambers in the Pyramids. Science 167, 832 (1970).
[3] Sifter. Subatomic particles may help locate Fukushima’s missing uranium. Science. Publicado em 26 de agosto (2015).
[4] G Brumfiel. Particles From The Edge Of Space Shine A Light On Fukushima. NPR. Publicado em 24 de agosto (2015).
[5] JM Durham et al. Tests of cosmic ray radiography for power industry applications. AIP Advances 5, 067111 (2015).
Como citar este artigo: Ana Maia. Imagem do reator de Fukushima reforça o derretimento do núcleo. Saense. URL: http://www.saense.com.br/2015/10/imagem-do-reator-de-fukushima-reforca-o-derretimento-do-nucleo/. Publicado em 19 de outubro (2015).
Dra Ana Maia, de que forma é feita uma descontaminação de resíduos radiotivos?
Cara Márcia, a descontaminação é um processo de separação do material radioativo presente na instalação para posterior compactação e armazenamento em ambientes específicos que fazem a guarda de rejeitos radioativos. Nestes ambientes, os materiais ficarão até que estejam com baixa radioatividade, o que pode demorar centenas e até milhares de anos. Assim, é importante diminuir ao máximo o volume de material destinado ao depósito, identificando de forma precisa onde há elementos radioativos. Há estudos que tentam transmutar elementos que demoram muito tempo para decaírem em elementos nos quais isto ocorreria de forma muito mais rápida. Avanços nestas técnicas revolucionariam o tratamento de rejeitos radioativos. Quem sabe não falo disto em um próximo post!
Obrigada. !