Matheus Macedo-Lima
25/11/2015

Pombos-correios foram usados durante a Primeira Guerra Mundial para transportar mensagens. Crédito: Jonathan Gray (Flickr) / Creative Commons.
Pombos-correios foram usados durante a Primeira Guerra Mundial para transportar mensagens. [1]
Pássaros migratórios voam milhares de quilômetros para encontrarem parceiros ou alimento. Tartarugas marinhas cruzam oceanos para voltar às praias em que nasceram a fim de acasalar. Borboletas monarcas fogem do inverno do norte da América para climas mais amenos no México. Esses são exemplos de animais que usam o campo magnético da Terra para encontrar destinos longínquos. Pura magnetorrecepção. Nada de GPS.

O conhecimento de que animais usam magnetorrecepção não é novidade, mas o mecanismo por meio do qual ela é alcançada ainda é um mistério. Um grupo de pesquisadores chineses [2] alega ter dado um passo importante para a solução desse enigma, caracterizando em moscas uma proteína – denominada por eles de MagR, ou receptor magnético – que parece fazer parte da misteriosa “biobússola”. Tal propriedade é devido a associação dessa proteína com moléculas de ferro e a formação de cristais alongados, que conferem a propriedade de alinhamento a campos magnéticos fracos, como o da Terra.

Os pesquisadores foram além e identificaram proteínas semelhantes em borboletas monarcas, pombos e até em humanos. O interessante é que pombos parecem ter mais MagR do que humanos, o que pode justificar a maior importância da magnetorrecepção para pombos (pombos-correios não são só coisa de filme!). Além disso, eles descobriram que MagRs estão presentes na retina dos olhos e são associadas a outras proteínas chamadas criptocromos, que já se sabia estarem envolvidas na magnetorrecepção [3], mas não tem propriedades magnéticas por si sós. Criptocromos são sensíveis à luz e tem papel importante na regulação do ciclo circadiano [4]. Isso indica que a navegação por magnetismo está ligada à percepção das horas do dia.

A descoberta da MagR é um grande passo em direção à explicação da navegação magnética, mas ainda não se sabe o que acontece dentro das células após a mudança de direção da biobússola com o campo magnético. Resta também saber se a magnetorrecepção é funcional em humanos. Seria esse nosso sexto (sétimo) sentido? Será que isso explicaria por que algumas pessoas são tão boas em seus sensos de direção e outras tão ruins? Cenas dos próximos capítulos …

[1] Crédito da imagem: jwyg (Flickr) / Creative Commons (CC BY-SA 2.0). URL: https://www.flickr.com/photos/jwyg/5934091620/.

[2] S Qin et al. A magnetic protein biocompass. Nature Materials 15, 217 (2016).

[3] RJ Gegear et al. Animal cryptochromes mediate magnetoreception by an unconventional photochemical mechanism. Nature 463, 804 (2010).

[4] Artigo relacionado: A cafeína e o sono.

Como citar este artigo: Matheus Macedo-Lima. Biobússola: descoberta a proteína que detecta campos magnéticos em animais. Saense. URL: http://www.saense.com.br/2015/11/biobussola-descoberta-a-proteina-que-detecta-campos-magneticos-em-animais/. Publicado em 25 de novembro (2015).

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