Carlos Anselmo Lima
27/11/2015

Comprimidos. Credito: Ragesoss / Wikimedia Commons.
Comprimidos. [1]
Bem, mas contra todos os tipos de câncer? Afinal, o termo câncer compreende um conjunto de mais de 100 doenças diferentes, de acordo com o tipo histológico, a localização, a célula ou o tecido de origem, etc.

Hoje empregamos diversas formas de tratamento, como cirurgia, quimioterapia, radioterapia, hormonioterapia, seja algum isoladamente ou combinação entre eles. Então, uma pílula contra câncer seria o máximo!

A respeito da fosfoetanolamina sintética, produzida em comprimidos pelo Instituto de Química pela Universidade de São Paulo em São Carlos, muita celeuma se ouviu ultimamente e até ocorreu ação do Supremo Tribunal de Justiça para que ela fosse utilizada como medicação anticancerígena [2]. A própria Universidade emitiu comunicado, dizendo que na verdade ela não era medicamento, mas sim produto químico [3].

Para ser medicamento, a substância deve passar por fases bem controladas de pesquisa clínica. Começa com a fase pré-clínica, na qual se testa a droga em animais de laboratório, colhendo informação sobre eficácia, toxicidade e efeito da droga no organismo. Na fase 0, testa-se a biodisponibilidade oral e a meia vida da substância. Na fase I, administra-se a voluntários sadios para a adequabilidade de doses. Na fase II, a droga é usada em pacientes para avaliar eficácia e segurança. Na fase III, a droga é administrada a pacientes para avaliar eficácia, eficiência e segurança, frequentemente comparando com outros tratamentos existentes. Por fim, na fase IV, ocorre a vigilância pós-comercialização [4].

Não consta que a fosfoetanolamida tenha passado por essas fases obrigatórias que antecedem o uso. Aliás, a própria universidade afirma que não. Dessa forma, mesmo se fosse milagrosa, não havia como permitir que ela fosse usada como medicamento anticancerígeno. Quem lembra da “panaceia” babosa, mel e álcool? Para isso, não houve qualquer prova científica da existência de algum efeito. Claro, existem os relatos de cura como por milagre, efeito placebo e até cura espontânea, mas não podem ser usados no arsenal terapêutico. [5]

[1] Credito da imagem: Ragesoss / Wikimedia Commons (CC BY-SA 3.0). URL: https://en.wikipedia.org/wiki/Tablet_(pharmacy)#/media/File:Four_colors_of_pills.jpg.

[2] AK Ferreira et al. Synthetic phosphoethanolamine has in vitro and in vivo anti-leukemia effects. British Journal of Cancer 109, 2819 (2013).

[3] USP divulga comunicado sobre a substância fosfoetanolamina.  Os fatos sobre a fosfoetanolamina: Fosfoetanolamina não é remédio. Publicado em 13 de outubro (2015).

[4] D DeMets et al. Fundamentals of Clinical Trials. 4th Edition. Springer (2010).

[5] Artigos relacionados: Detecção mais eficiente de câncer de mama e Monitorando o câncer por exame de sangue

Como citar este artigo: Carlos Anselmo Lima. Que tal uma pílula contra o câncer? Saense. URL: http://www.saense.com.br/2015/11/que-tal-uma-pilula-contra-o-cancer/. Publicado em 27 de novembro (2015).

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