Ana Maia
21/03/2016
A radioterapia é usada amplamente em tratamento dos mais diversos tipos de cânceres. Contudo, uma das grandes limitações da radioterapia convencional, feita com feixes de fótons, são os efeitos colaterais nos tecidos sadios, que invariavelmente são irradiados durante o tratamento.
Terapias mais modernas têm usado feixes de partículas altamente interativas, sendo muito promissoras as técnicas que fazem uso de prótons e íons de carbono, denominadas pelo termo geral de terapia por hádrons (hadron therapy). Comparando com a radioterapia por fótons, a terapia por feixes de prótons ou íons de carbono tem uma grande vantagem: a deposição de energia é feita prioritariamente próximo ao ponto final da trajetória da partícula. Os feixes de fótons, de modo geral, atravessam larga faixa de matéria depositando cada vez menos energia à medida que a profundidade aumenta. Assim, uma combinação de feixes de ângulos de incidência diferentes é necessária para que haja uma concentração da dose de radiação no tumor, mas é inevitável a irradiação significativa dos tecidos sadios antes e após o tumor.
Já na terapia por prótons ou íons de carbono, a deposição de energia aumenta com a penetração na matéria e culmina com uma grande deposição de energia próxima ao alcance final da partícula, o que se denomina de pico de Bragg. O alcance da partícula depende da sua energia inicial. Assim, fazendo coincidir o ponto final da trajetória das partículas incidentes com a localização do tumor, é possível minimizar a deposição de energia nos tecidos sadios e maximizar a deposição de energia na região de interesse.
Estudos recentes prometem diminuir ainda mais a deposição de energia em tecidos sadios durante esses tratamentos. Tanto nas terapias com fótons como nas terapias com prótons e íons, utilizam-se feixes largos e uniformes de radiação. Pesquisadores de vários grupos [2], [3], [4] vêm comprovando, contudo, que o uso de vários minifeixes paralelos de radiação podem reduzir significativamente a toxicidade da radiação nos tecidos sadios.
Os estudos mostraram que os tecidos são muito mais resistentes às doses de radiação quando irradiados com campos formados por minifeixes de radiação. Por outro lado, à medida que os minifeixes penetram na matéria, sofrem espalhamento e acabam por formar um feixe amplo em profundidade. Combinando esta técnica com a terapia por feixes de hádrons, é possível preservar os tecidos anteriores ao tumor duplamente: tanto por conta do pico de Bragg quanto pela pequena dimensão do feixe. E os tecidos posteriores ao tumor já são protegidos porque praticamente não há deposição de energia após o pico de Bragg.
O grande problema deste caminho promissor são os custos elevadíssimos das terapias por feixes de hádrons, que têm desequilibrado negativamente a balança custo-benefício. Caso o uso dos minifeixes seja viabilizado ajudará a aumentar os benefícios, contribuindo para a tão desejada popularização das terapias por prótons ou íons.
[1] Crédito da imagem: Z Taheri-Kadkhoda et al. Radiation Oncology 3, 4 (2008) / Creative Commons. URL: http://ro-journal.biomedcentral.com/articles/10.1186/1748-717X-3-4.
[2] S Girst et al. Improved normal tissue protection by proton and X-ray microchannels compared to homogeneous field irradiation. Physica Medica 31, 615 (2015).
[3] FA Dilmanian et al. Minibeam Therapy With Protons and Light Ions: Physical Feasibility and Potential to Reduce Radiation Side Effects and to Facilitate Hypofractionation. International Journal of Radiation Oncology Biology Physics 92, 469 (2015).
[4] S Girst et al. Proton Minibeam Radiation Therapy Reduces Side Effects in an In Vivo Mouse Ear Model. International Journal of Radiation Oncology Biology Physics 95, 234 (2016).
Como citar este artigo: Ana Maia. Terapia com minifeixes poupa os tecidos sadios. Saense. URL: http://www.saense.com.br/2016/03/terapia-com-minifeixes-poupa-os-tecidos-sadios/. Publicado em 21 de março (2016).