Marcelo M. Guimaraes
12/06/2016

Impressão artística do coração de Abell 2596 BGC, onde nuvens frias gigantes se precipitam em direção a um buraco negro supermassivo. Essa impressão artística também mostra o jato bipolar e o disco de acreção em torno do buraco negro. [1]
Impressão artística do coração de Abell 2596 BGC, onde nuvens frias gigantes se precipitam em direção a um buraco negro supermassivo. Essa impressão artística também mostra o jato bipolar e o disco de acreção em torno do buraco negro. [1]
O buraco negro supermassivo que habita o centro de cada galáxia (espiral ou elíptica) cresce continuamente à medida que mais matéria cai em sua direção. A atividade dessa região central pode regular a taxa de formação de estrelas da galáxia, já que muita energia é também liberada durante esse processo de acreção de matéria. O modelo teórico mais usado para explicar essa acreção de matéria supõe um cenário suave e esfericamente simétrico de fluxo de gás quente ionizado em direção ao centro da galáxia. Algumas simulações indicam a possibilidade dessa acreção ocorrer através de eventos estocásticos devido a nuvens moleculares frias fragmentadas. Contudo, dados observacionais que indicassem a real natureza desse reservatório de gás que alimenta o buraco negro supermassivo eram até recentemente inexistentes.

Combinando dados obtidos com os radiotelescópios ALMA (Atacama Large Millimeter-Submillimeter Array) e VLBA (Very Long Baseline Array), a equipe liderada pelo pesquisador Grant Tremblay da Universidade de Yale conseguiu pela primeira vez evidências que favorecem o modelo de acreção estocástica de nuvens moleculares frias [2,3]. A descoberta veio ao estudar o aglomerado de galáxias conhecido como Abell 2597, principalmente a galáxia elíptica massiva que habita o centro desse aglomerado, conhecido como Abell 2597 Brightest Cluster Galaxy (Abell 2597 BCG).

Existe um gás muito quente que permeia o espaço entre as galáxias desse aglomerado, mas que devido a instabilidades térmicas pode se resfriar rapidamente e se condensar, formando nuvens moleculares frias que então se precipitam em direção ao centro do aglomerado, alimentando o buraco negro supermassivo em Abell BCG. Essas nuvens frias se movem a 300 km/s, têm dimensões da ordem de algumas dezenas de anos-luz, com massas da ordem de milhões de massas solares e estão distantes cerca de 300 anos-luz do buraco negro supermassivo.

Devido à grande distância de Abell 2597 (cerca de 1 bilhão de anos-luz do Sol) o tamanho dessas nuvens seria impossível de se detectar, mesmo com a alta resolução do radiotelescópio ALMA. O trunfo dessas observações é o alinhamento com nossa linha de visada e a combinação com os dados do VLBA, que permitiu medir as sombras que as nuvens causam no fundo de emissão de radiação síncrontron originada nos jatos emitidos pelo buraco negro supermassivo.

PS.: matéria sugerida pelo Prof. Raimundo de Oliveira Filho, da UFS.

[1] Crédito da imagem: NRAO/AUI/NSF; Dana Berry/SkyWorks; ALMA (ESO/NAOJ/NRAO).

[2] ESO. Black Hole Fed by Cold Intergalactic Deluge. Science Release eso1618. URL: http://www.eso.org/public/news/eso1618/. Published 08 June (2016).

[3] GR Tremblay et al. Cold, clumpy accretion onto an active supermassive black hole. Nature 534, 218 (2016).

Como citar este artigo: Marcelo M. Guimarães. O quê alimenta os Buracos Negros Supermassivos? Saense. URL: http://www.saense.com.br/2016/06/o-que-alimenta-os-buracos-negros-supermassivos/. Publicado em 12 de junho (2016).

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