Tábata Bergonci
14/07/2016

Ovelha Dolly empalhada no Royal Museum of Scotland. [1]
Ovelha Dolly empalhada no Royal Museum of Scotland. [1]
No dia 5 de julho de 1996 nascia o primeiro mamífero clonado: a ovelha Dolly. Dolly nascera diferente de todos os mamíferos até então, não da junção de um óvulo e um espermatozoide, mas de DNA de glândulas mamárias de uma ovelha adulta. A clonagem de um mamífero desafiou um dogma científico daquele tempo. O sucesso levou a previsões terríveis e fantásticas: os seres humanos poderiam ser clonados! Doenças genéticas seriam prevenidas! Crianças perdidas poderiam “renascer”! Hoje, duas décadas depois, a repercussão da clonagem na ciência superou expectativas.

O maior impacto da clonagem tem sido no avanço da produção de células-tronco. Hoje já é possível obter células-tronco a partir de uma célula adulta humana. Essas células podem se transformar em variados tipos celulares e, cada vez mais, o controverso uso de células de embrião pode ser evitado. O nascimento da Dolly foi transformador para a medicina porque ele provou que o núcleo da célula adulta tem todo o DNA necessário para dar origem a outro animal. Dolly foi o primeiro exemplo de uma célula adulta gerando um animal adulto, o que significou a descoberta de que podemos reprogramar a célula adulta para retorná-la a um estágio embrionário.

Dolly morreu em 14 de fevereiro de 2003, aos seis anos, de uma infecção pulmonar comum em animais que não têm acesso ao ar livre, o que provavelmente não está relacionado com o fato de ela ser um clone. Mesmo assim, a ideia de clonar um ser humano não é algo trivial. Para Ian Wilmut, pesquisador que criou a Dolly, a clonagem de humanos já é possível, mas altamente desaconselhável. A técnica utilizada para clonar a Dolly não funcionou em primatas, mas outras técnicas poderiam ser utilizadas. Wilmut se opõe veementemente a isso, argumentando que as perdas durante as gestações e os nascimentos anormais seriam comuns. Por exemplo, uma das ovelhas clonadas após a Dolly desenvolveu problemas pulmonares que a faziam hiperventilar e desmaiar frequentemente. “Eu não gostaria de ser a pessoa a olhar nos olhos de uma criança clone com problemas e dizer: minhas sinceras desculpas” disse Wilmut. Ainda, com os recentes avanços na tecnologia de edição de genes (veja aqui sobre edição de genes em embriões humanos), a necessidade de clonagem para corrigir erros genéticos pode diminuir ainda mais.

A ideia da clonagem de um ente querido falecido, seja esse humano ou animal de estimação, é cada vez menos desejada em parte por causa do conhecimento de que o ambiente afeta o comportamento. Os genes podem ser o mesmo, mas seria um clone o mesmo amável indivíduo que você conhecia?

[1] Crédito da imagem: Toni Barros from São Paulo, Brasil – Hello, Dolly!, CC BY-SA 2.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=5816342.

Como citar este artigo: Tábata Bergonci. Dolly completaria 20 anos… O que ela nos ensinou sobre clonagem? Saense. URL: http://www.saense.com.br/2016/07/dolly-completaria-20-anos-o-que-ela-nos-ensinou-sobre-clonagem/. Publicado em 14 de julho (2016).

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