Tábata Bergonci
27/07/2016

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A dúvida sobre a existência de vida em outros planetas perturba a humanidade desde que começamos a imaginar o que seriam aqueles pontos de luz no céu. Até hoje não encontramos sinais de vida fora da Terra. Nossa tecnologia ainda é limitada para que possamos explorar outros planetas de maneira segura. Porém, as perguntas permanecem. Será que estamos mesmo sozinhos nesse imenso universo? Seriam todos esses outros planetas apenas grandes esferas rochosas inabitadas? Quando a resposta para essas duas perguntas é “não”, isso nos leva a considerar a existência de vida extraterrestre. Pensando bem, parece plausível que existam vírus ou bactérias galáxia a fora, não!? Afinal, são formas tão simples de vida. No entanto, cientistas acabaram de encontrar que, se existe vida em outro planeta, esta é provavelmente tão complexa quanto a que conhecemos aqui!

Uma questão importante para o estudo da evolução da vida é determinar se existe um “grande filtro” em algum lugar entre a formação dos planetas e o surgimento de civilizações tecnológicas [2]. Em outras palavras, existe algum evento essencial nesse caminho para que a vida inteligente exista? Esse evento é altamente provável ou extremamente raro?

Com base nessas questões, o astrobiólogo Dirk Schulze-Makuch e o bioquímico William Bains, numa parceria entre a Washington State University e o Massachusetts Institute of Technology (MIT), iniciaram a pesquisa com a seguinte hipótese: se o “grande filtro” for a origem da vida, então devemos viver em um universo praticamente vazio, mas se a origem da vida for comum, nós vivemos num zoológico cósmico onde formas de vida complexas são abundantes [3]. Para provar essa hipótese, eles desenvolveram modelos para tentar entender a fundo a evolução da vida no nosso planeta.

Primeiramente, eles listaram todas as principais inovações naturais consideradas fundamentais (inovações-chave) para a existência da vida. Inovação-chave é o surgimento de qualquer propriedade que muda a natureza da biosfera, modificando a espécie química ou morfologicamente, ou ainda seu comportamento. Entre as inovações-chave principais da vida da Terra estão a própria origem da vida, a fotossíntese, a evolução dos animais e a inteligência.

Com as inovações-chave listadas, os pesquisadores começaram a separar as mais prováveis de acontecer das que são extremamente raras. Por exemplo, a visão surgiu independentemente ao menos dez vezes na Terra [4], o que sugere que é algo bastante provável de ocorrer – isto é, em um planeta onde haja luz visível e existam organismos com tamanhos maiores que os comprimentos de onda dessa luz. Inovações-chave como mecanismos de fotossíntese e de utilização do oxigênio, o surgimento de organismos multicelulares e de seres vivos macroscópicos, como plantas e animais, são outras características que ocorreram muitas vezes, no que chamamos de evolução convergente.

Duas inovações-chave merecem destaque por serem fundamentais para a existência de formas de vida tão complexas como as de plantas e animais: a organização genética dos eucariotos (células com núcleo) e o surgimento da inteligência de muitos animais. A regulação gênica em eucariotos é muito mais complexa que a de bactérias e evoluiu convergentemente muitas vezes. O que permite essa complexidade é o fato de que genomas eucarióticos estão sempre “desligados”. Os genes eucariotos só são transcritos quando existe “permissão” para isso, enquanto em bactérias a transcrição gênica ocorre prontamente, a não ser que exista um regulador negativo que o impeça. O genoma “desligado” dos eucariotos é o que permite que vários tipos celulares sejam formados, e que um organismo tão complexo quanto um humano seja possível.

Em relação à inteligência, são inúmeros os exemplos de evolução convergente. Polvos e humanos, por exemplo, mostram habilidade de aprender a fazer ferramentas, embora tenham cérebros completamente diferentes.

De todas as inovações-chave avaliadas pelos pesquisadores, apenas duas não foram encontradas mais de uma vez: a origem da vida e a inteligência para desenvolver alta tecnologia. Motivos óbvios: a vida não surgiu duas vezes no nosso planeta (ou em outro de que tenhamos conhecimento), nem encontramos outra espécie que tenha desenvolvido alta tecnologia. Esse resultado sugere que em qualquer mundo onde a vida tenha surgido (com fluxo de energia suficiente) devemos encontrar vidas complexas semelhantes às de animais e plantas. Utilizando a Terra como base, os cientistas calculam que a vida complexa pode evoluir em uma escala entre 1 e 10 bilhões de anos – a vida na Terra existe há cerca de 3 bilhões!

Isso não significa que essas outras formas de vida serão como os animais que conhecemos, mas indica que, se “rebobinarmos a fita”, o resultado será o surgimento de habilidades com a mesma função, mas com anatomia e bioquímica possivelmente muito diferentes das atuais. Em outras palavras, uma vez que a vida passa a existir, proteínas, olhos, pernas, inteligência, até mesmo nossa capacidade de termos orgasmos, são resultados prováveis!

[1] Crédito da imagem: Erik Charlton (Flickr) / Creative Commons (CC BY 2.0). URL: https://www.flickr.com/photos/erikcharlton/16773803999/.

[2] N Bostrom. Where are they? Why I hope the search for extraterrestrial life finds nothing. MIT Technology Review (2008).

[3] W Bains and D Schulze-Makuck. The Cosmic Zoo: The (Near) Inevitability of the Evolution of Complex, Macroscopic Life. Life 6, 25 (2016).

[4] MF Land and DE Nilsson. Animal Eyes. 2n ed. Oxford University Press (2012).

Como citar este artigo: Tábata Bergonci. Vida inteligente… Estamos mesmo sozinhos? Saense. URL: http://www.saense.com.br/2016/07/vida-inteligente-estamos-mesmo-sozinhos/. Publicado em 27 de julho (2016).

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