Tábata Bergonci
16/11/2016

Os ancestrais de nossos cãezinhos começaram a viver próximos aos humanos em busca de comida. [1]
Os ancestrais de nossos cãezinhos começaram a viver próximos aos humanos em busca de comida. [1]
A evolução dos cachorros domesticados a partir de lobos é um ponto do passado difícil de traçar. Há muito tempo já se sabe que o cachorro evoluiu do lobo cinzento e que esse processo começou no período Paleolítico, há milhares de anos atrás. Nessa época, os humanos eram caçador-coletores, sobrevivendo da caça e da coleta de plantas e frutos selvagens, não utilizando agricultura. Quanto ao processo de domesticação canina, alguns cientistas sugerem que os humanos usavam lobos como companheiros de caça ou como guardas, gradualmente treinando-os e domesticando-os. Outra hipótese é a de que a domesticação começou um pouco mais tarde, quando lobos passaram a viver perto dos acampamentos humanos para comerem sobras de alimentos. Quem teria dado o primeiro passo, humanos ou lobos?

Um novo estudo dá força à teoria de que os lobos foram os que tomaram a iniciativa para que a evolução começasse. Cientistas analisaram DNA ancestral de 88 ossos e dentes canídeos de 30 diferentes sítios arqueológicos. Nas sequências de DNA, eles buscavam o número de cópias de um gene específico, Amy2B, que dá origem à proteína amilase pancreática. Por quê? A amilase pancreática é uma das responsáveis pela quebra de amido no processo digestivo. O amido é o carboidrato mais consumido por humanos, estando presente em arroz, batata, trigo, entre outros alimentos. Humanos possuem várias cópias de Amy2B em seu DNA, pois sua dieta é rica em carboidratos. Acontece que a dieta de lobos é basicamente carnívora e apenas duas cópias de Amy2B são encontradas em seu genoma, fazendo com que eles pouco tolerem uma dieta a base de carboidratos.

O trabalho publicado na Royal Society Open Science mostra que a expansão do gene Amy2B (para oito cópias ou mais no genoma) nos canídeos ocorreu no período de início da agricultura na Europa e Sudoeste Asiático [2], tendo o número de cópias do gene aumentado gradativamente durante a evolução canina. Os canídeos que coexistiram com os caçador-coletores tinham, em geral, entre dois e oito cópias de Amy2B. Esse aumento no número de cópias do gene muito provavelmente constituiu uma vantagem seletiva para cães que se alimentavam de sobras humanas num contexto agrícola. Ou seja, esses cães conseguiam tolerar uma dieta semelhante à humana e, portanto, sobreviveram e deixaram descendentes. Resumindo, nossos amados peludos estão conosco porque aprenderam a comer nossos desejados carboidratos!

[1] Crédito da imagem: anaroza (Flickr) / Creative Commons (CC BY-SA 2.0). URL: https://www.flickr.com/photos/anaroz/893112264/.

[2] M Ollivier et al.  Amy2B copy number variation reveals starch diet adaptations in ancient European dogs. Royal Society Open Science 10.1098/rsos.160449 (2016).

Como citar este artigo: Tábata Bergonci. Como os cachorros viraram nossos amigos? Saense. URL: http://www.saense.com.br/2016/11/como-os-cachorros-viraram-nossos-amigos/. Publicado em 16 de novembro (2016).

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