Marcelo M. Guimarães
25/12/2016

Se você é como o Charlie Brown que todo ano se pergunta qual o sentido do Natal, talvez hoje você encontre a resposta. [1]
Se você é como o Charlie Brown que todo ano se pergunta qual o sentido do Natal, talvez hoje você encontre a resposta. [1]
Astronomicamente falando, é porque o eixo de rotação da Terra é inclinado de 23º, fazendo com que durante metade da sua translação ao redor do Sol um dos hemisférios (norte ou sul) receba mais luz, enquanto na outra metade da volta o hemisfério que recebeu pouca luz passa a receber uma quantidade maior. É essa inclinação do eixo de rotação do Sol em relação ao plano da sua órbita que dá origem às estações do ano. Todos os povos da antiguidade eram muito dependentes das estações do ano, para planejar as colheitas, para semear a próxima safra, para se preparar para o frio, etc. Nada mais comum que algumas épocas do ano se tornassem especiais.

No final de dezembro, no hemisfério sul, celebramos o Solstício de verão, enquanto no hemisfério norte se celebra o Solstício de inverno. Se analisarmos a palavra solstício veremos que seu significado é, em tradução livre, “o dia que o Sol fica parado”. No hemisfério sul passamos da primavera para o verão e no dia do solstício temos o dia mais longo do ano e a noite mais curta. Enquanto isso, no hemisfério norte acontece o contrário, muda-se do outono para o inverno, com o dia do solstício sendo o mais curto e a noite mais longa. Mas porque celebrar essa data? Muitas de nossas tradições foram herdadas de povos vindos do hemisfério norte, onde se celebra o Solstício de Inverno. O significado dessa celebração é o fato de que todos os dias subsequentes ao solstício serão mais longos, ou seja, o Sol retorna, ressurge, renasce. As outras duas datas importantes do ano são os equinócios de primavera e outono, quando a duração do dia e da noite é igual.

Todas as culturas em diferentes partes do mundo, ao longo do tempo, usaram essas datas como motivo para festivais religiosos. Por exemplo, Ísis, a deusa egípcia, tinha festivais em sua homenagem nos dias 25 de dezembro, 6 de janeiro e 25 de março. Ísis foi a mãe de Horus, um de vários deuses egípcios do Sol e que nasceu no dia 25 de dezembro. Os primeiros cristãos comemoravam o nascimento e a ressurreição de Cristo no dia 25 de março, que é o equinócio de primavera no hemisfério norte. Mais tarde passaram a comemorar o nascimento de Cristo no dia 6 de janeiro, junto com o festival de Ísis. Por volta do século 4, da nossa era, os cristãos se referiam ao dia 25 de dezembro como o dia do “Sol invencível”, em referência aos romanos e o seu “Sol invicti”, estabelecido pelo imperador Aurélio em referência ao deus sírio “Sol”. O dia 6 de janeiro era o dia em que os reis magos teriam visitado Cristo na manjedoura. Ainda no século 4 a recém organizada Igreja Católica, decretou que a ressurreição seria comemorada no Equinócio de primavera e o nascimento de Cristo deveria ser comemorado no mesmo dia que o nascimento dos outros deuses do sol, 25 de dezembro.

Diversas outras culturas celebraram o nascimento do deus-sol no dia 25 de dezembro. Na Mesopotâmia tínhamos Marduk, o chefe dos deuses, o deus-sol, que batalhava contra o frio e a escuridão. Para os mesopotâmicos a noção de “ano novo” era mais profunda, significava que o mundo era renovado a cada ano e, portanto, a cada ano um novo rei deveria governar. O rei que terminava o seu mandato deveria ser sacrificado, para se juntar às tropas de Marduk no combate eterno contra o frio e a escuridão. Para não sacrificar um bom rei todo ano, na prática eles passaram a escolher um rei provisório, dentre os criminosos. Ele era coroado durante o Zagmuk (natal) e na noite do solstício ele era sacrificado (queimado em uma fogueira). Imagino que Marduk tenha ficado irritado com a queda na qualidade das suas tropas ao longo do tempo.

Os povos persas e babilônicos celebravam a Sacaea, bem similar ao Zagmuk. Durante a Sacaea dois criminosos condenados à morte eram escolhidos e jogava-se uma moeda. Um deles seria perdoado, enquanto o outro seria sacrificado (crucificado ou enforcado), após ser coroado rei. No Egito, a morte e ressurreição de Osíris eram celebradas no solstício, sem sacrifícios, apenas com presentes deixados nas tumbas dos mortos.

Talvez a comemoração mais curiosa seja a do Mitraísmo, religião surgida na Índia 2 mil anos antes da nossa era, que se difundiu pela Pérsia e foi muito popular entre os soldados romanos nos séculos 1 e 2 da nossa era. Mitra era o deus da luz, quando ele nasceu uma estrela caiu do céu, pastores testemunharam seu nascimento e magos zoroatristas seguiram a estrela até o local do seu nascimento. Esses magos haviam previsto o nascimento do Rei dos Reis, que aconteceu no dia 25 de dezembro.

Os vikings celebravam o Festival de Juul e um tronco de árvore, chamado de Yule, era queimado em homenagem a Thor. Em alguns países o Yule era parcialmente queimado e o restante era guardado durante o ano para proteção, em outros ele era queimado até virar cinzas, que eram então jogadas no campo para fertilizar a terra. Na França as cinzas eram guardadas embaixo da cama para proteger contra raios e trovões.

Por último, temos a Saturnália, o grande festival Romano, o mais importante feriado do ano, celebrado do dia 17 ao dia 25 de dezembro. Saturno era o deus da fertilidade e pai dos outros deuses romanos. Em sua homenagem havia muita comida, bebida, troca de presentes e reuniões familiares. Os Romanos sempre assimilavam partes de outras culturas dos povos que conquistavam e durante a Saturnália também se escolhia um falso rei, que era coroado e sacrificado no dia do solstício.

Afinal, porque comemoramos o Natal? Para celebrar a mudança de estações, para comemorar o início de dias mais longos no norte ou o início de noites mais longas no sul. Para reunir a família e os amigos e compartilhar comida e bebida, para festejar a vida. Para agradecer a Marduk por continuar sua eterna luta contra o frio e a escuridão. Para agradar a Thor e nos protegermos dos raios e trovões. Para mantermos a esperança de que dias melhores virão.

São vários os motivos, escolha o seu e Feliz Natal!

[1] 22860 (Flickr) / Creative Commons (CC BY-SA 2.0). URL: https://www.flickr.com/photos/ofsmallthings/8288453167.

Como citar este artigo: Marcelo M. Guimarães. Porque celebramos o Natal? Saense. URL: http://www.saense.com.br/2016/12/porque-celebramos-o-natal/. Publicado em 25 de dezembro (2016).

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