Marcelo M. Guimarães
25/12/2016
No final de dezembro, no hemisfério sul, celebramos o Solstício de verão, enquanto no hemisfério norte se celebra o Solstício de inverno. Se analisarmos a palavra solstício veremos que seu significado é, em tradução livre, “o dia que o Sol fica parado”. No hemisfério sul passamos da primavera para o verão e no dia do solstício temos o dia mais longo do ano e a noite mais curta. Enquanto isso, no hemisfério norte acontece o contrário, muda-se do outono para o inverno, com o dia do solstício sendo o mais curto e a noite mais longa. Mas porque celebrar essa data? Muitas de nossas tradições foram herdadas de povos vindos do hemisfério norte, onde se celebra o Solstício de Inverno. O significado dessa celebração é o fato de que todos os dias subsequentes ao solstício serão mais longos, ou seja, o Sol retorna, ressurge, renasce. As outras duas datas importantes do ano são os equinócios de primavera e outono, quando a duração do dia e da noite é igual.
Todas as culturas em diferentes partes do mundo, ao longo do tempo, usaram essas datas como motivo para festivais religiosos. Por exemplo, Ísis, a deusa egípcia, tinha festivais em sua homenagem nos dias 25 de dezembro, 6 de janeiro e 25 de março. Ísis foi a mãe de Horus, um de vários deuses egípcios do Sol e que nasceu no dia 25 de dezembro. Os primeiros cristãos comemoravam o nascimento e a ressurreição de Cristo no dia 25 de março, que é o equinócio de primavera no hemisfério norte. Mais tarde passaram a comemorar o nascimento de Cristo no dia 6 de janeiro, junto com o festival de Ísis. Por volta do século 4, da nossa era, os cristãos se referiam ao dia 25 de dezembro como o dia do “Sol invencível”, em referência aos romanos e o seu “Sol invicti”, estabelecido pelo imperador Aurélio em referência ao deus sírio “Sol”. O dia 6 de janeiro era o dia em que os reis magos teriam visitado Cristo na manjedoura. Ainda no século 4 a recém organizada Igreja Católica, decretou que a ressurreição seria comemorada no Equinócio de primavera e o nascimento de Cristo deveria ser comemorado no mesmo dia que o nascimento dos outros deuses do sol, 25 de dezembro.
Diversas outras culturas celebraram o nascimento do deus-sol no dia 25 de dezembro. Na Mesopotâmia tínhamos Marduk, o chefe dos deuses, o deus-sol, que batalhava contra o frio e a escuridão. Para os mesopotâmicos a noção de “ano novo” era mais profunda, significava que o mundo era renovado a cada ano e, portanto, a cada ano um novo rei deveria governar. O rei que terminava o seu mandato deveria ser sacrificado, para se juntar às tropas de Marduk no combate eterno contra o frio e a escuridão. Para não sacrificar um bom rei todo ano, na prática eles passaram a escolher um rei provisório, dentre os criminosos. Ele era coroado durante o Zagmuk (natal) e na noite do solstício ele era sacrificado (queimado em uma fogueira). Imagino que Marduk tenha ficado irritado com a queda na qualidade das suas tropas ao longo do tempo.
Os povos persas e babilônicos celebravam a Sacaea, bem similar ao Zagmuk. Durante a Sacaea dois criminosos condenados à morte eram escolhidos e jogava-se uma moeda. Um deles seria perdoado, enquanto o outro seria sacrificado (crucificado ou enforcado), após ser coroado rei. No Egito, a morte e ressurreição de Osíris eram celebradas no solstício, sem sacrifícios, apenas com presentes deixados nas tumbas dos mortos.
Talvez a comemoração mais curiosa seja a do Mitraísmo, religião surgida na Índia 2 mil anos antes da nossa era, que se difundiu pela Pérsia e foi muito popular entre os soldados romanos nos séculos 1 e 2 da nossa era. Mitra era o deus da luz, quando ele nasceu uma estrela caiu do céu, pastores testemunharam seu nascimento e magos zoroatristas seguiram a estrela até o local do seu nascimento. Esses magos haviam previsto o nascimento do Rei dos Reis, que aconteceu no dia 25 de dezembro.
Os vikings celebravam o Festival de Juul e um tronco de árvore, chamado de Yule, era queimado em homenagem a Thor. Em alguns países o Yule era parcialmente queimado e o restante era guardado durante o ano para proteção, em outros ele era queimado até virar cinzas, que eram então jogadas no campo para fertilizar a terra. Na França as cinzas eram guardadas embaixo da cama para proteger contra raios e trovões.
Por último, temos a Saturnália, o grande festival Romano, o mais importante feriado do ano, celebrado do dia 17 ao dia 25 de dezembro. Saturno era o deus da fertilidade e pai dos outros deuses romanos. Em sua homenagem havia muita comida, bebida, troca de presentes e reuniões familiares. Os Romanos sempre assimilavam partes de outras culturas dos povos que conquistavam e durante a Saturnália também se escolhia um falso rei, que era coroado e sacrificado no dia do solstício.
Afinal, porque comemoramos o Natal? Para celebrar a mudança de estações, para comemorar o início de dias mais longos no norte ou o início de noites mais longas no sul. Para reunir a família e os amigos e compartilhar comida e bebida, para festejar a vida. Para agradecer a Marduk por continuar sua eterna luta contra o frio e a escuridão. Para agradar a Thor e nos protegermos dos raios e trovões. Para mantermos a esperança de que dias melhores virão.
São vários os motivos, escolha o seu e Feliz Natal!
[1] 22860 (Flickr) / Creative Commons (CC BY-SA 2.0). URL: https://www.flickr.com/photos/ofsmallthings/8288453167.
Como citar este artigo: Marcelo M. Guimarães. Porque celebramos o Natal? Saense. URL: http://www.saense.com.br/2016/12/porque-celebramos-o-natal/. Publicado em 25 de dezembro (2016).