Claudio Macedo
14/09/2017

Selo uruguaio. [1]
Pesquisadores norte-americanos e europeus investigaram a mudança ao longo do tempo dos índices de discriminação racial e étnica no mercado de trabalho dos EUA. Considerando o período entre 1989 e 2015 a pesquisa não observou qualquer mudança nos níveis de discriminação contra afro-americanos, apenas constatou um leve declínio na discriminação contra os latino-americanos [2].

O estudo consistiu de experiências de campo sobre a discriminação racial e étnica na contratação de empregados nos EUA. As experiências de campo sobre discriminação de contratação se constituem em estudos experimentais em que candidatos fictícios de diferentes grupos raciais ou étnicos se candidatam a empregos. Esses experimentos incluem pares de currículos fictícios semelhantes, mas com indicações raciais ou étnicas distintas, enviados on-line ou por correio para o empregador e, nos casos presenciais, utilizam-se de pares de pessoas racialmente ou etnicamente distintas, mas igualmente treinadas, que se candidatam a empregos.

No total, a pesquisa analisou o resultado de 55.842 pedidos de emprego para 26.326 cargos disponíveis. No período estudado, isto é, nos últimos 26 anos, os brancos receberam em média 36% mais convites para entrevistas (“callbacks”) do que os afro-americanos e 24% mais convites do que os latino-americanos. O impressionante é que os “36%” é um número praticamente constante ao longo de todo esse tempo. Os resultados são mantidos mesmo quando se analisa nível educacional e sexo do candidato, grupos ocupacionais e locais de trabalho.

O método de investigação utilizado é muito forte. Afinal, ele quantifica a discriminação real da sociedade ao comparar as “escolhas” considerando a disponibilidade de candidatos tão parecidos quanto possível em todas as características relevantes para o emprego, exceto a raça e a etnia.

Diversos indicadores norte-americanos apontaram para uma redução do tratamento discriminatório racial e étnico nos últimos anos. Pesquisas indicaram que os brancos adotaram cada vez mais o princípio da igualdade de tratamento, independentemente da raça e etnia. Os índices educacionais para brancos e afro-americanos convergiram substancialmente. Com a eleição do primeiro presidente afro-americano do país em 2008, muitos concluíram que os EUA finalmente ultrapassaram seu passado racial problemático [2].

O que essa pesquisa mostra, entretanto, é que enquanto as expressões de preconceito explícito diminuíram, medidas de estereótipos e tendências implícitas parecem ter mudado pouco nas últimas décadas. Longe de desaparecer, a discriminação racial assumiu novas formas, tornando-se mais contingente, sutil e encoberta.

Os resultados do trabalho apontam para a necessidade de reforço na legislação antidiscriminação e nas políticas compensatórias, como as de ações afirmativas, para melhorar a igualdade de oportunidades.

[1] Crédito da imagem: Mark Morgan (Flickr) / Creative Commons (CC BY 2.0). URL: https://www.flickr.com/photos/mmorgan8186/24734722186.

[2] L Quillian et al. Meta-analysis of field experiments shows no change in racial discrimination in hiring over time. PNAS 10.1073/pnas.1706255114 (2017).

Como citar este artigo: Claudio Macedo. A persistência da discriminação racial. Saense. URL: http://www.saense.com.br/2017/09/a-persistencia-da-discriminacao-racial/. Publicado em 14 de setembro (2017).

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