Marco Túlio Chella
18/09/2017

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Atualmente, 50% da população mundial mora em cidades e esse número deve chegar a 70% em 2050. As cidades, nos últimos dois séculos, têm sido o centro da atividade econômica e polo gerador de inovação. Ao mesmo tempo, cidades apresentam problemas para atender necessidades básicas dos moradores como mobilidade e segurança, são poucos sustentáveis e, pela forma que se desenvolveram, apresentam uma infraestrutura inadequada para as necessidades atuais e futuras.

Para tratar essas e outras questões, soluções tecnológicas são propostas; como o monitoramento eletrônico por meio de dispositivos computacionais com recursos para capturar grandezas físicas do ambiente, executar algum processamento local, e mecanismos para comunicação com outros sistemas, levando ao conceito de cidades inteligentes.

O mercado já oferece soluções tecnológicas com processadores de baixo custo, sensores para a aquisição das mais diversas grandezas e infraestrutura para comunicação sem fio; até 2019 deve chegar a 5G (internet de quinta geração) com velocidade de 20Gbps, ampliando significativamente a capacidade de comunicação sem fio.

O conjunto de dados gerados por esses computadores e sensores pode ser, e geralmente é, grande (“big data”), se consideramos que cada módulo, também chamado de nó, pode capturar milhares de informações por segundo e, no geral, um sistema desses pode ser composto por milhares ou até milhões desses nós.

Distribuir sensores por uma cidade, capturar e armazenar os dados em servidores, executar processamento com técnicas de aprendizagem de máquina e inteligência artificial, e gerar belos gráficos, é implementação tecnológica totalmente viável hoje. Mas que ações tomar a partir dessa informação? Um exemplo simples para ilustrar: em uma cidade cortada por rios e sujeita a enchentes é possível colocar sensores que detectam o nível da água e outras condições meteorológicas que processadas podem gerar um indicador de possível enchente. Evidente que o próximo passo é o que fazer (“big action”) com esses indicadores, uma pequena ação provavelmente já seria muito útil.

Um exemplo positivo é o da cidade de Curitiba; ao analisar dados sobre atropelamentos, se observou que uma proporção significativa das vítimas são pessoas idosas e outro dado indicou que as pessoas em idade mais avançada têm a caminhada até 30% mais lenta. A partir do cruzamento desses e outros dados veio uma solução, instalar sensores em postes próximos a semáforos que detectam o cartão usado para gratuidade no transporte coletivo; o idoso ao passar o cartão altera a atuação do semáforo aumentando o tempo para pedestres.

Acredito que, nesse momento, o conceito de cidades inteligentes ainda está no modo powerpoint, a fase do encantamento tecnológico, mas com poucas ações efetivas.  Talvez um caminho seja que cada projeto, cada publicação acadêmica, cada produto ou serviço que trate do tema cidades inteligentes, tenha uma proposta efetiva para uma grande ou mesmo uma pequena ação.

[1] Crédito da imagem: Cesar Brustolin/SMCS (Fotos Publicas) / Creative Commons (CC BY-NC 2.0). URL: http://fotospublicas.com/curitiba-testa-sistema-que-aumenta-tempo-de-semaforo-para-pedestres-com-mobilidade-reduzida/.

Como citar este artigo: Marco Túlio Chella. Cidades inteligentes: “big data” e “small action”. Saense. URL: http://www.saense.com.br/2017/09/cidades-inteligentes-big-data-e-small-action/. Publicado em 18 de setembro (2017).

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