Matheus Macedo-Lima
28/03/2018

[1]
Dormir na aula… quem nunca?!

Se você for como eu, apesar de muito esforço (e café), aquele “apagão” durante a aula pode ser incrivelmente difícil de evitar. E quanto mais cedo na manhã for a aula, pior.

Dormir na aula não apenas impede o aprendizado do conteúdo (obviamente), mas o cansaço devido a poucas horas de sono interfere com a capacidade de aprendizado e memorização, além de estar associado a transtornos psiquiátricos (como depressão e ansiedade) e metabólicos (como obesidade) em crianças e adolescentes [2].

Mas calma que a culpa não é (inteiramente) sua por não dormir cedo. Um estudo acerca de hábitos de adolescentes em várias cidades estadunidenses mostra que a quantidade de sono por noite é proporcional ao horário de começo das aulas [3]. Isso se justifica pela hora de dormir dos adolescentes que foi semelhante entre os grupos, independente do horário de começo das aulas. Apenas o grupo que começava as aulas às 8:30 da manhã apresentou uma média de horas de sono acima do mínimo recomendado para a idade (8 horas). O grupo que começava as aulas às 7 da manhã (comum no Brasil) apresentou uma média de sono inferior a 7 horas e meia.

Em um experimento realizado numa escola na Inglaterra [4], os horários de começo das aulas foram alterados por dois anos e o desempenho dos alunos adolescentes foi avaliado durante esse período. Detalhe: o horário normal nessa escola era 8:50 da manhã e foi alterado para 10:00 da manhã! Os resultados foram claríssimos.

Avaliando o número de faltas dos alunos devido a doenças, os pesquisadores observaram que esse número caiu consideravelmente nos anos em que as aulas tiveram início às 10 da manhã. Aliado a isso, o desempenho acadêmico dos estudantes durante o mesmo período foi consideravelmente superior. Esses resultados indicam que mesmo começando as aulas após o horário recomendado pela Associação Americana de Medicina (8:30) [5], estudantes são ainda mais beneficiados por horários mais tardios.

A Associação Brasileira do Sono concorda com a ciência e o cenário internacional e publicou um manifesto em prol do começo mais tardio das aulas para adolescentes [6]. Porém, apesar de todo o suporte científico, no Brasil ainda parece haver uma certa resistência para a mudança do horário das aulas, o que pode estar contribuindo para o desempenho muito abaixo da média mundial dos estudantes de ensino médio brasileiros [7].

Então, a reestruturação dos horários escolares parece ser um dos remédios mais eficazes para melhorar o aprendizado em jovens. No Brasil, só falta por isso em prática.

[1] Crédito da imagem: chia ying Yang (Flickr) / Cretive Commons (CC BY 2.0). https://www.flickr.com/photos/enixii/1520999459/.

[2] American Academy of Pediatrics. School Start Times for Adolescents. Pediatrics 10.1542/peds.2014-1697 (2014).

[3] NG Nahmod et al. High school start times after 8:30 AM are associated with later wake times and longer time in bed among teens in a national urban cohort study. Sleep Heal 10.1016/j.sleh.2017.09.004 (2017).

[4] P Kelley et al. Is 8:30 a.m. Still Too Early to Start School? A 10:00 a.m. School Start Time Improves Health and Performance of Students Aged 13–16. Front. Hum. Neurosci 10.3389/fnhum.2017.00588 (2017).

[5] American Medical Association. AMA Supports Delayed School Start Times to Improve Adolescent Wellness. (2016). https://www.ama-assn.org/ama-supports-delayed-school-start-times-improve-adolescent-wellness. Acesso em 27 de março (2018).

[6] Associação Brasileira do Sono. Sono, aprendizagem e horários escolares. (2017). http://www5.each.usp.br/wp-content/uploads/2017/11/Manifesto-ABS.pdf. Acesso em 27 de março (2018).

[7] Program for International Student Assessment (PISA). (2015). https://nces.ed.gov/surveys/pisa/index.asp. Acesso em 27 de março (2018).

Como citar este artigo: Matheus Macedo-Lima. A ciência do horário de começar as aulas: quanto mais tarde melhor. Saense. http://www.saense.com.br/2018/03/a-ciencia-do-horario-de-comecar-as-aulas-quanto-mais-tarde-melhor/. Publicado em 28 de março (2018).

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