LNLS
19/09/2018
O vitiligo é uma doença caracterizada pela perda da pigmentação da pele devido à morte de células chamada melanócitos, responsáveis pela produção da melanina. Essa doença atinge até 1% da população mundial e tratamentos atuais não são efetivos e exibem diversos efeitos colaterais.
Segundo a teoria mais aceita, a doença resulta de uma reação autoimune, isto é, da ação do sistema de defesa do corpo contra suas próprias células. Sabe-se que uma das proteínas que participa da síntese da melanina, chamada TyRP-1, também funciona como antígeno de diferenciação dos melanócitos. Isso significa que a proteína serve de dedo-duro, apontando os melanócitos para que sejam atacados pelo sistema imune. Por isso, uma possível estratégia para frustrar a progressão da doença é impedir a produção da proteína TyRP-1.
Moléculas chamadas de RNA de interferência (ou RNAi) são capazes de, como diz o nome, interferir com a expressão de genes específicos. Elas induzem a degradação das moléculas de RNA mensageiro (RNAm), responsáveis por levar a informação do DNA para ser decodificada. Dessa forma, o gene é impedido de sinalizar a produção da proteína codificada por ele.
As moléculas de RNAi representam, assim, um avanço na terapia gênica de várias doenças de tratamento difícil ou inexistente. No entanto, essas moléculas não atravessam espontaneamente a membrana celular das células alvo e precisam ser combinadas com outros materiais para que possam ser transportadas para dentro das células.
Em publicação recente que foi capa do periódico Pharmaceutical Research [2], Larissa B. Tofani e colaboradores, da Universidade de São Paulo (USP), desenvolveram uma nova forma, com base em uma nano-dispersão liquido cristalina, de levar moléculas de RNAi para dentro dos melanócitos e lá impedir a produção da proteína TyRP-1. Os sistemas liquido-cristalinos são interessantes para esse tipo de tratamento por serem fáceis de se obter e capazes de incorporar moléculas de diversos tipos, tamanhos e polaridades. Esses sistemas ainda protegem e modulam a liberação do princípio ativo na pele, local de desenvolvimento da doença e de aplicação do nanomedicamento.
Entre as diversas análises realizadas pelo o grupo, a linha de luz SAXS2 do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) foi utilizada para investigar a estrutura do material da nano-dispersão antes e depois da incorporação do RNAi.
Segundo os pesquisadores, a abordagem foi testada in vitro e demonstrou ser capaz de reduzir a produção da proteína TyRP-1 pelos melanócitos em mais de 80%. A pesquisa demonstra, portanto, o potencial desses sistemas liquido-cristalinos para o desenvolvimento de um futuro tratamento tópico para o vitiligo, com a combinação da nanotecnologia com a terapia gênica.
[1] Crédito da imagem: Simone Trovato Monastra (CC-BY-SA-4.0), via Wikimedia Commons. https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Vitiligo_on_hand.jpg.
[2] LB Tofani et al. In Vitro TyRP-1 Knockdown Based on siRNA Carried by Liquid Crystalline Nanodispersions: an Alternative Approach for Topical Treatment of Vitiligo. Pharm Res 10.1007/s11095-017-2330-0 (2018).
Como citar esta notícia científica: LNLS. Nanomedicamento contra o vitiligo. Saense. http://www.saense.com.br/2018/09/nanomedicamento-contra-o-vitiligo/. Publicado em 19 de setembro (2018).
Eu tenho enterece quanto custa. Tenho vitiligo