Agência FAPESP
23/10/2018

Marcação dos níveis máximos do Rio Negro em Manaus. [1]
Um estudo feito a partir de mais de um século de registros dos níveis do rio Amazonas indica um aumento significativo na frequência e na magnitude das enchentes nos últimos 30 anos. A análise sobre as potenciais causas do aumento pode contribuir para previsões mais precisas de inundações na bacia Amazônica.

O estudo foi publicado na revista Science Advances por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), da Universidade Austral do Chile, da University of Leeds, no Reino Unido, do Laboratório das Ciências do Clima e do Ambiente, na França, e do Instituto Geofísico do Peru.

Segundo o Inpa, registros diários dos níveis de água do rio Amazonas são realizados no Porto de Manaus desde o início do século 20. O grupo analisou 113 anos de registros nos níveis de água. Na primeira parte do século 20 houve cheias severas com níveis de água que ultrapassaram 29 metros (valor de referência para acionar o estado de emergência na cidade de Manaus), com ciclos aproximadamente a cada 20 anos. Atualmente, cheias extremas ocorrem, na média, a cada quatro anos.

O estudo explica que o aumento do número de enchentes está relacionado à intensificação da circulação de Walker, um sistema de circulação do ar originado pelas diferenças de temperatura e pressão atmosférica sobre os oceanos tropicais. Esse sistema influencia padrões climáticos e pluviométricos em toda a região dos trópicos.

O estudo é resultado de uma oficina internacional que Jochen Schöngart, pesquisador do Inpa e um dos autores do artigo, organizou com cientistas da University of Leeds em Manaus, em janeiro de 2016, para fazer uma levantamento do conhecimento atual sobre as mudanças recentes do clima e da hidrologia na bacia Amazônica.

De acordo com Manuel Gloor, da Escola de Geografia da Universidade de Leeds, esse aumento dramático nas enchentes é causado por mudanças nos oceanos vizinhos, particularmente os oceanos Pacífico e Atlântico e como eles interagem. Ainda segundo Gloor, devido ao forte aquecimento do Oceano Atlântico e ao resfriamento do Pacífico no mesmo período, foram observadas mudanças na chamada circulação de Walker, afetando a precipitação na Amazônia.

“O efeito é mais ou menos o oposto do que acontece durante um El Niño. Em vez de causar seca, leva a uma maior convecção e precipitação intensa nas regiões central e norte da bacia Amazônica”, disse Gloor ao site do Inpa.

As mudanças no ciclo hidrológico da bacia Amazônica têm sido graves, com consequências para o bem-estar das populações no Brasil, Peru e outros países amazônicos. Segundo Schöngart, a ciência deve fazer uso desse conhecimento atualizado para aperfeiçoar modelos existentes de previsão de cheias na Amazônia Central e servir de subsídio para os tomadores de decisão elaborar políticas públicas, já que terão previsões mais robustas e com certa antecedência.

“Isso permite preparar as populações em áreas urbanas e nas regiões rurais para enfrentar consequências de cheias severas que sempre impactam a qualidade de vida dessas populações”, destaca Schöngart. “As pessoas perdem moradia, sofrem várias doenças, serviços básicos como água potável ficam restritos e a pecuária e agricultura são bastante reduzidas nas várzeas, resultando em enormes prejuízos econômicos e sociais para essa parte da sociedade.”

[1] Crédito da imagem: lubasi (Flickr), CC BY-SA 2.0. https://www.flickr.com/photos/lubasi/7273233458.

Como citar esta notícia científica: Agência FAPESP. Aumento das enchentes do rio Amazonas. Saense. http://www.saense.com.br/2018/10/aumento-das-enchentes-do-rio-amazonas/. Publicado em 23 de 10 (2018).

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