Luana Mendonça
30/12/2018

Registros de plantas em uma formação datada do Permiano na Jordânia. [1]
Devo admitir que eu, mesmo bióloga, tenho muita dificuldade com o estudo das plantas, para mim elas são complexas e mesmo tendo estudado bastante, ainda não tenho muito conhecimento sobre… mas deixemos minhas (frustações) limitações acadêmicas de lado para falar sobre essas belezuras que são uma grande parte da biodiversidade tanto do continente quanto dos ambientes aquáticos – deveriam ser mais abundantes e diversas se nós destruíssemos menos hábitats (mas ainda temos tempo e esperança para recuperar).

Antes de falar propriamente sobre o assunto desse texto, devemos falar de um outro assunto, a escala temporal geológica (que trata do tempo do surgimento, formação e transformação da terra). Essa escala se inicia cerca de 4,6 bilhões de anos atrás e foi dividida (categorizada) em diferentes éons, eras, períodos e épocas, desde a éon Arqueano (4,6 bilhões de anos atrás) até a éon Fanerozoico, era Cenozoica, período Quaternário, época do Holoceno em que estamos no momento (0,01 milhões de anos, um suspiro bem curto no tempo geológico). Mas você deve estar pensando que esses nomes são complicados demais e que eu estou só confundindo todo mundo… talvez você esteja certo! Mas temos um propósito aqui, que é localizar você no tempo geológico para que possamos entender o significado dos resultados encontrados pelos pesquisadores que tratarei aqui.

As primeiras formas de vida surgiram no final do Arqueano, que durou 2 bilhões e cem milhões de anos (maior período geológico) e, as primeiras formas de vida que realizavam fotossíntese e os primeiros invertebrados, surgiram pouco depois, no Proterozoico, que durou um bilhão e novecentos milhões de anos (foi nesse período que grandes quantidades de oxigênio se concentraram na atmosfera). No Fanerozoico, surgiram as formas de relevo como conhecemos hoje e a vida se estabeleceu e se diversificou na terra (as outras formas de vida anteriores a esse período habitavam apenas a água, principalmente o oceano). Esse período, que conta com o tempo atual, começou cerca de 545 milhões de anos atrás, bem novinho dentro da escala geológica. Obviamente as datas e nomeações de períodos geológicos mudam a depender da interpretação de autores. A que eu apresento aqui é uma delas, mas novas descobertas podem modificar tempos e redefinir essa escala, porém, a ideia é mostrar que a passagem da vida da água para a terra e o surgimento das plantas e outras formas de vida terrestre é um evento considerado recente no tempo geológico (cerca de 500 milhões de anos).

Só por curiosidade, alguns eventos importantes que aconteceram e seu respectivo tempo são: a divisão dos continentes – que antes eram uma grande placa – aconteceu no Mesozoico (250 milhões de anos atrás), mesmo período em que surgiram os grandes répteis, os mamíferos e as plantas com flores; as aves, os primatas e as imensas cadeias de montanhas surgiram no Terciário (60 milhões de anos atrás), uma parte da era Cenozoica; a outra parte dessa era, chamada Quaternário (1 milhão de anos atrás) é o período atual, como já mencionado, e nesse período aconteceram as glaciações e o surgimento do homem.

Agora vamos ao assunto em questão. Um artigo publicado alguns dias atrás na Science [1] traz novas informações que modificam um pouco a história de alguns grandes grupos de plantas e o que conhecíamos sobre a história  desses grupos no tempo geológico. Primeiro gostaria de deixar claro que o registro fóssil de plantas é considerado escasso, pois, a fossilização é complicada e sem um bom registo não se pode contar uma boa história. Os resultados nesse artigo, porém, apresentam fósseis incríveis encontrados na Jordânia (imagem acima) e esse registro apresenta informações importantes sobre três grandes grupos de plantas que produzem apenas sementes (não produzem flor, ou flor da forma como conhecemos), os grupos são: Corystospermales, Bennattitales e Podocarpaceae. Os dois primeiros grupos estão extintos, mas Bennattitales é visto como o grupo do qual derivaram as plantas que produzem flores atuais. Os fósseis encontrados e a interpretação dos resultados pelos autores mostram que esses três grupos que foram e ainda é no caso de Podocarpaceae os mais abundantes representantes com sementes dentre as plantas. Também mostra que o surgimento desses grupos é anterior ao que se sabia, sendo o grupo mais antigo do que qualquer outro, dentre as plantas com sementes. Outro fato interessante é que esses três grupos estavam presentes junto com outros considerados parte da flora equatoriana, o que muda o conhecimento sobre a flora da época, já que se imaginava que as plantas da região do equador seriam completamente distintas do restante. Por último, os resultados mostram que esses três grandes grupos de plantas sobreviveram à extinção em massa do período Paleozoico, se extinguindo muito tempo depois, no caso das Corystospermales e Bennattitales.

Todos esses resultados, segundo os autores, mostram que as plantas terrestres e talvez a biota terrestre seriam menos afetadas por crises biológicas globais do que se pensava anteriormente; obviamente estamos falando de fenômenos naturais, mesmo que aleatórios e drásticos, e não de fenômenos guiados pela atividade humana; estamos falando de tempos geológicos anteriores ao ser humano e que duraram centenas de milhares de anos.

[1] P Blomenkemper et al. A hidden cradle of plant evolution in Permian tropical lowlands. Science 10.1126/science.aau4061 (2018).

Como citar este artigo: Luana Mendonça. Novos registros fósseis mostram que grandes grupos de plantas são mais antigos do que se imaginava! Saense. http://saense.com.br/2018/12/novos-registros-fosseis-mostram-que-grandes-grupos-de-plantas-sao-mais-antigos-do-que-se-imaginava/. Publicado em 30 de dezembro (2018).

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