Portal de Periódicos da CAPES
05/02/2019

[1]
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 71 milhões de pessoas tenham infecção crônica por hepatite C. Dessas, aproximadamente 399 mil podem morrer a cada ano devido ao desenvolvimento de cirrose e carcinoma hepatocelular. Um grupo de pesquisadores brasileiros, considerando a gravidade dos dados, observou o alto potencial dos peptídeos sintéticos – alvos promissores para o desenvolvimento de fármacos que possuem baixos efeitos colaterais, são custo-efetivos e suscetíveis ao planejamento racional. O estudo foi publicado pelo Scientific Reports, título disponibilizado no acervo do Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

A fim de contribuir com a queda das estatísticas da doença, os pesquisadores desenvolveram o composto chamado AG-Hecate. Apesar da existência de medicamentos específicos para o tratamento da hepatite C, os fármacos atuais apresentam efeitos colaterais, além de baixa eficácia para alguns pacientes.

“O desenvolvimento de novas terapias para a doença é importante pois, além de buscar a diminuição dos efeitos colaterais, objetiva-se obter medicamentos com amplo espectro de ação, agindo em diferentes genótipos do vírus e diminuindo a necessidade de administração de diferentes medicamentos. Os objetivos, se atingidos, podem diminuir custos, tempo de terapia e aumentar a eficácia”, analisa o pesquisador Eduardo Cilli, um dos autores do artigo.

“Nosso grupo de pesquisa, nomeado de LASEBio (Laboratório de Síntese e Estudos de Biomoléculas), tem trabalhado com peptídeos e bioconjugados (peptídeos ligados a outros compostos) na procura por moléculas ativas contra bactérias, fungos e câncer. A interação com o grupo da pesquisadora Paula Rahal permitiu que esses estudos fossem estendidos para a atividade antiviral, visto a importância e o impacto econômico e social das doenças virais no Brasil e no mundo”, reflete Cilli.

“Nosso grupo atua no desenho e na síntese de compostos que são capazes de agir sobre as diversas etapas do processo de infecção viral, além de atuarem em mais de um genótipo, como é o caso da molécula AG-Hecate”, explica Cilli. Ele detalha que os antivirais existentes para o tratamento da enfermidade geralmente agem somente sobre um ponto específico da replicação do vírus. “A molécula desenvolvida por nós age diretamente sobre o vírus, na sua entrada nas células, sobre o processo replicativo e em sua liberação. É também capaz de agir sobre as ‘lipid droplets’ – importantes para a replicação do vírus no interior da célula”, diz.

Os resultados descrevem uma nova classe de antivirais que pode abrir portas para o desenvolvimento de novas terapias contra o vírus da hepatite C e de outras doenças, como febre amarela, zika e dengue. “Como ainda não testamos em humanos, a comparação de eficácia fica restrita aos ensaios in vitro realizados. No entanto, o composto desenvolvido foi capaz de inibir diferentes genótipos do vírus, em diferentes pontos do processo de replicação e em uma baixa concentração, o que permite o desenvolvimento de uma nova classe de moléculas ativas”, indica o autor do artigo.

Cilli conta que o grupo também avaliou o potencial da molécula em células de carcinoma cervical, doença que afeta muitas mulheres mundialmente: “os resultados mostraram a eficiência do composto na inibição da progressão das células tumorais, apresentando alto índice de seletividade, ou seja, agindo sobre as células afetadas mais que sobre as sadias”. Esses resultados foram publicados em 2015, na revista científica Amino Acids. Além disso, outros vírus também estão sendo avaliados.

Apesar dos resultados promissores, ainda há a necessidade de investigar mais detalhadamente os efeitos da molécula sobre as células sadias. “Para que o recurso seja aplicado clinicamente ainda levará um tempo, mas estamos trabalhando para que isso aconteça. Nosso próximo passo é a avaliação in vivo. No entanto, isso demanda tempo e investimento na pesquisa”, pontua. [2], [3]

[1] Crédito da imagem: BruceBlaus, CC BY-SA 4.0,
https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=44967236.

[2] O artigo científico  GA-Hecate antiviral properties on HCV whole cycle represent a new antiviral class and open the door for the development of broad spectrum antivirals foi publicado pelo periódico Scientific Reports (2018).

[3] O artigo  A conjugate of the lytic peptide Hecate and gallic acid: structure, activity against cervical cancer, and toxicity foi publicado pelo periódico Amino Acids (1985).

Como citar esta notícia científica: Portal de Periódicos da CAPES. Novo tratamento para hepatite C. Saense. http://www.saense.com.br/2019/02/novo-tratamento-para-hepatite-c/. Publicado em 05 de fevereiro (2019).

Notícias científicas do Portal de Periódicos da CAPES Home