ESA
15/05/2019

O Observatório de La Silla em março de 2003. Crédito da imagem: ESO

Desde a sua inauguração em 1969 que o Observatório de La Silla do ESO se encontra na vanguarda da astronomia. Sua gama de instrumentos de ponta têm permitido aos astrônomos fazer descobertas pioneiras e abrir caminho para futuras gerações de telescópios. Após 50 anos de observações, os telescópios do ESO em La Silla continuam fazendo avançar as fronteiras da astronomia, descobrindo mundos alienígenas e revelando o cosmos com um detalhe extraordinário.

A construção de La Silla no topo da montanha chilena Cinchado-Norte, na periferia do deserto do Atacama, começou em 1965, três anos após a fundação do ESO [1]. O local foi escolhido devido à sua acessibilidade, clima seco e condições de observação ideais — em suma, perfeito para a construção de um observatório líder mundial.

As observações tiveram início com os relativamente pequenos telescópios de 1 metro e 1,52 metro do ESO. O número e variedade de telescópios em La Silla foi aumentando com o passar do tempo, contando-se atualmente com 13 telescópios em operação no local — não apenas do ESO mas também de países, universidades e colaborações de todo o mundo. Estes telescópios incluem o TRAPPIST-Sul, o telescópio REM (Rapid Eye Mount) e o telescópio TAROT, um caçador de explosões de raios gama.

Mesmo após 50 anos depois da sua inauguração, La Silla continua a ser um baluarte do ESO na vanguarda da astronomia, fornecendo dados para mais de duzentos artigos científicos publicados por ano. Apesar do observatório emblemático do ESO ser agora o Very Large Telescope (VLT), instalado no Paranal, o ESO opera ainda dois dos mais produtivos telescópios da classe dos 4 metros em La Silla. O primeiro grande telescópio do ESO, o telescópio de 3,6 metros, acolhe o principal caçador de exoplanetas do mundo — o HARPS (High Accuracy Radial velocity Planet Searcher), um espectrógrafo com uma precisão sem precedentes que já descobriu dezenas de mundos alienígenas.

O segundo grande telescópio do ESO ainda em operação em La Silla — o New Technology Telescope de 3,58 metros (NTT) — foi pioneiro no design de telescópios, tendo sido o primeiro telescópio do mundo a ter um espelho principal controlado por computador. Esta técnica inovadora, chamada óptica ativa, foi desenvolvida pelo ESO e é agora aplicada à maioria dos grandes telescópios de todo o mundo. Para além de executar uma enorme variedade de observações científicas, este telescópio foi ainda crucial no desenvolvimento do VLT.

Ambos estes telescópios vão sendo atualizados de modo a permanecerem na vanguarda da astronomia. Neste contexto, o NTT irá brevemente acolher o instrumento SoXS, um espectrógrafo projetado para rastrear eventos astronômicos transientes e variáveis descobertos a partir de levantamentos fotográficos. O telescópio de 3,6 metros do ESO acolherá o NIRPS, um instrumento infravermelho caçador de planetas que complementará as já impressionantes capacidades do HARPS. Estes novos instrumentos, juntamente com novos telescópios como o ExTrA e o BlackGEM, garantirão que o Observatório de La Silla se mantenha na vanguarda da ciência astronômica.

Muitas das Dez Principais Descobertas do ESO foram feitas com o auxílio de telescópios instalados em La Silla. Destaques da enorme quantidade de pesquisa científica desenvolvida ao longo das últimas cinco décadas incluem: a descoberta da expansão acelerada do Universo — um trabalho que mereceu o Prémio Nobel da Física em 2011; a descoberta de um planeta em torno da estrela mais próxima do Sol; a observação da primeira luz de uma fonte de ondas gravitacionais; a determinação das distâncias mais precisas a galáxias próximas pelo projeto Araucaria liderado pelo Chile; e a descoberta de sete planetas em torno de uma estrela anã ultra-fria no sistema TRAPPIST-1.

Dois eventos astronômicos particulares alteraram siginficativamente a rotina normal de La Silla, tendo capturado a atenção de uma armada de telescópios durante várias semanas: a explosão da supernova SN 1987A e a colisão do cometa Shoemaker-Levy com Júpiter. Este último, em particular, alterou toda a vida em La Silla, com 10 telescópios apontados para Júpiter e eventos de imprensa ao vivo, a partir de Garching e Santiago, para partilhar com os meios de comunicação social os mais recentes desenvolvimentos da colisão catastrófica.

Além de pesquisa astronômica pioneira, la Silla desempenha igualmente um papel extremamente importante no desenvolvimento da astronomia no Chile e os astrônomos chilenos usam rotineiramente os telescópios em La Silla para a sua pesquisa científica. A operação e o desenvolvimento contínuo das instalações em La Silla proporciona também uma enorme variedade de oportunidades ao envolvimento da indústria, engenharia e ciência chilenas. Os telescópios de La Silla servem também de instrumentos de treino para novas gerações de astrônomos europeus e chilenos. Como exemplo, temos as Escolas de Observação ESO-NEON que ocorrem de forma regular em La Silla.

La Silla tem enfrentado vários desafios complicados e também tirado partido de vários sucessos; apesar do observatório desfrutar de condições de observação quase perfeitas, o fato é que está também em risco de sofrer atividade tectônica regular. Até agora, La Silla não sofreu problemas graves devido a sismos, apesar de ter estado ocasionalmente próximo do epicentro de sismos fortes. O observatório enfrenta atualmente outro risco preocupante — a poluição luminosa da autoestrada pan-americana ameaça os céus escuros de La Silla.

No momento em que este distinto observatório celebra o seu 50º aniversário, ocorrerá um evento que fará avançar não só a astronomia profissional mas também a amadora e a apreciação geral por fenômenos astronômicos — este ano um eclipse total do Sol será visível a partir de La Silla. Quando a Lua cobrir a face do Sol, o dia se transformará em noite ao longo de uma faixa de 150 km no norte do Chile e centenas de visitantes celebrarão não apenas este raro evento astronômico, mas também o legado científico de La Silla, o primeiro observatório do ESO. [2]

[1] La Silla — a Sela em espanhol — vem do nome que os carvoeiros locais davam a Cinchado-Norte, a montanha em forma de sela onde foi colocado o primeiro observatório do ESO.

[2] Esta notícia científica foi traduzida por Margarida Serote (Portugal) e adaptada para o português brasileiro por Gustavo Rojas.

Como citar esta notícia científica: ESA. La Silla faz 50 anos! Tradução de Margarida Serote (Portugal) e adaptada para o português brasileiro por Gustavo Rojas. Saense. https://saense.com.br/2019/05/la-silla-faz-50-anos-2/. Publicado em 15 de maio (2019).

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