IPT
22/07/2019

Uma pesquisa desenvolvida na Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp), que conta com a expertise do
Laboratório de Biotecnologia Industrial do Instituto de Pesquisas Tecnológicas
(IPT) para implantar sua aplicação, está buscando as bases de uma nova
nanopartícula para o tratamento do glioblastoma, um tipo de câncer cerebral.
Por meio da técnica conhecida por RNA de interferência, ou RNAi, a ideia é
impedir a formação de proteínas necessárias às células tumorais para a sua
proliferação ou mesmo sobrevivência, o que pode, na prática, diminuir ou evitar
o crescimento de tumores.
O glioblastoma é o tipo mais comum de câncer cerebral,
representando cerca de 25% dos tumores cerebrais primários,
e recebe esse nome por ter início na glia, que são células não neuronais do
sistema nervoso central que proporcionam suporte e nutrição aos neurônios. No
laboratório do Núcleo de Bionanomanufatura do IPT, as
células tumorais estão sendo cultivadas a partir de três métodos diferentes,
que geram aglomerados celulares esféricos.
“Estamos desenvolvendo métodos para encontrar a estrutura 3D
que seja mais próxima do tipo de tumor que estamos estudando”, explica Cyro von
Zuben de Valega Negrão, aluno de doutorado pelo programa de Genética e Biologia
Molecular do Instituto de Biologia da Unicamp, participante do programa Novos
Talentos do IPT e responsável pela pesquisa. “Ao final dessa etapa, vamos
escolher o método mais adequado a esse tipo de tumor e, então, testar quais
genes podem ser ‘silenciados’ para impedir seu crescimento e desenvolvimento”.
O RNA, ou ácido ribonucléico, é uma molécula produzida a
partir do DNA e o produto intermediário para que a informação genética seja
fornecida pelo corpo como proteínas. A técnica aplicada por Negrão busca como
princípio ativo do fármaco pequenos fragmentos de RNA (siRNA, do inglês small
interfering RNA) capazes de degradarem a sequência completa dos RNAs dos
genes alvos das células de glioblastoma. O princípio ativo seria encapsulado em
nanopartículas, o que auxiliaria na condução do medicamento ao tumor.
“Degradando o RNA, podemos impedir a produção de proteínas
fundamentais ao desenvolvimento da célula”, completa o pesquisador. “Nós temos
como alvos principais hoje proteínas que permitem a proliferação e
sobrevivência das células, além das que estimulam a angiogênese, que é
capacidade de criar vasos – são eles que alimentam e fornecem oxigênio a essas
estruturas. Coibindo a produção das proteínas, o tumor pode parar de crescer,
ou mesmo diminuir, já que suas células não estarão recebendo nutrientes”
esclarece Negrão.
Segundo o aluno, o estudo também engloba genes alvos que são
responsáveis pela resistência de fármacos consolidados hoje no mercado,
possibilitando, dessa forma, que esses possam recuperar a eficiência anterior.
O trabalho do Cyro é orientado pelo professor Henrique
Marques-Souza, da Unicamp, que lidera o grupo de pesquisa BLaST –
Brazilian Laboratory on Silencing Technologies. O laboratório
desenvolve soluções para diversos setores produtivos do País, como o combate a
pragas e a doenças relacionadas ao campo.
“A parceria com o IPT visa solucionarmos uma etapa muito
importante do processo, que é a entrega das moléculas silenciadoras ao seu
destino final. No projeto do Negrão, nanopartículas que possuem afinidade a
células tumorais estão sendo priorizadas nos ensaios”, afirma Souza.
“Entretanto, diferentes tecidos e organismos alvos requerem distintas
características do agente carreador, e contar com a expertise, infraestrutura e
acesso que temos no IPT é fundamental para levar inovações tecnológicas
brasileiras às áreas da saúde humana, pecuária e fitossanidade.” Outras
iniciativas ao redor do mundo também buscam sua aplicação na indústria
farmacêutica, não só para o tratamento do câncer, como de outras doenças.
O estudo de Negrão, que se iniciou em 2018, é coorientado
pela chefe do laboratório do IPT, Natália Neto Pereira Cerize, além de ter o
apoio da pesquisadora Patrícia Leo, também do Instituto. O trabalho tem
previsão de conclusão entre 2021 e 2022 e conta também com o apoio da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da
Fundação de Apoio ao Instituto de Pesquisas Tecnológicas (FIPT).
Como citar esta notícia de inovação: IPT. Combate ao câncer. Saense. https://saense.com.br/2019/07/combate-ao-cancer/. Publicado em 22 de julho (2019).