INPE
22/07/2019

Uma das estações da rede SONDA, em São Martinho da Serra, utilizada para validar os resultados do modelo

Séries horárias de dados de radiação solar em qualquer ponto do país é uma das novidades que agora podem ser obtidas a partir da nova edição ampliada e revisada do Atlas Brasileiro de Energia Solar, em fase de finalização pelo LABREN – Laboratório de Modelagem e Estudos de Recursos Renováveis de Energia, do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do INPE. A publicação, que deve ser lançada ainda em 2016, traz informações baseadas em uma série histórica de 17 anos de dados de satélites da série GOES.

“A interação com os usuários durante os últimos anos nos colocou em sintonia com as demandas do setor”, explica Enio Bueno Pereira, coordenador do projeto. “O primeiro Atlas não traz, por exemplo, os dados de radiação direta, incorporados nesta nova edição”.

Em uma década, o desenvolvimento das pesquisas em energias renováveis e as parcerias com instituições colaboradoras possibilitaram a obtenção de uma base de dados mais segura para a geração de cenários de utilização dos recursos de energia solar no Brasil. Este grande acervo foi gerado a partir do processamento de dados no modelo BRASIL-SR, desenvolvido e aperfeiçoado pelo LABREN. “Conseguimos reduzir à metade as incertezas originais nas saídas do nosso modelo, o que o torna bastante competitivo em relação a outros modelos existentes”, explica o pesquisador que utilizou a base de dados da rede SONDA do INPE.

O BRASIL-SR é um modelo físico para obtenção de estimativas da radiação solar incidente na superfície. O modelo foi utilizado para vários estudos sobre o potencial solar nacional e para gerar os 17 anos de saídas horárias de irradiância solar nas suas várias componentes – global, difusa, direta e no plano inclinado. A compilação e a análise destes resultados originaram esta nova versão do Atlas. Os dados do modelo estão sendo amplamente utilizados tanto por setores governamentais como pela iniciativa privada, e também em vários trabalhos de pesquisa e formação de recursos humanos em nível de mestrado e doutorado no país.

O Atlas Brasileiro de Energia Solar estará disponível, inicialmente, em versão digital e a coordenação do projeto busca recursos para a publicação da versão impressa. As etapas anteriores do projeto tiveram o apoio da Petrobras e nesta fase final, a coordenação contou com o apoio da Rede Clima e INCT para Mudanças Climáticas, na forma de bolsas. Em uma etapa posterior, também deverá ser desenvolvido um website, onde será disponibilizada a base de dados digitais de radiação no formato compatível com plataformas GIS (Sistemas de Informação Geográfica). Outros serviços, como o fornecimento de informações sobre a produção básica de energia solar, a partir das características locais de interesse (inserindo dados de altitude e longitude), também deverão ser oferecidos via web.

Uso da tecnologia solar – A tecnologia solar fotovoltaica foi a que teve o maior aumento na capacidade instalada mundialmente nos últimos dez anos (veja tabela). Além dos incentivos de vários países para essa forma de energia – em decorrência de compromissos assumidos de mitigação de emissões de gases de efeito estufa -, a queda nos preços dos módulos fotovoltaicos foi o principal fator para esse crescimento acelerado. “Isso ocorreu graças ao desenvolvimento tecnológico e à economia de escala de mercado”, afirma Enio Pereira. “Esses valores foram reduzidos para um quinto do valor original nos últimos seis anos, enquanto que para o sistema de geração como um todo, o valor caiu para um terço”.

Evolução da capacidade total instalada no mundo de várias energias renováveis entre os anos de 2004 e 2013. Fonte: Adaptado de REN21 (2015)

Segundo o pesquisador, a média anual de irradiação solar global no Brasil oferece uma boa uniformidade, com níveis nacionais de irradiância solar global muito maiores que os de países que fazem uso da tecnologia solar fotovoltaica para geração de energia elétrica em grande escala, como a Alemanha.

Em relação aos custos, estudos indicam que o país europeu atingiu um valor comparável ao custo da energia gerada a partir de óleo, gás natural ou mesmo carvão. No Brasil, embora o preço médio de venda da energia fotovoltaica esteja bem próximo da paridade com o custo de venda da energia termoelétrica produzida no país, a utilização da tecnologia solar para geração elétrica no país ainda é muito pequena.

Primeira edição – A primeira versão do Atlas Brasileiro de Energia Solar foi publicada no ano de 2006, dentro do escopo do projeto SWERA (Solar and Wind Energy Resource Assessment), financiado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e cofinanciado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF). O projeto SWERA teve como principal objetivo auxiliar no planejamento e desenvolvimento de políticas públicas de incentivo a projetos nacionais de energia solar e eólica, assim como atrair o capital de investimentos da iniciativa privada para a área de energias renováveis no Brasil.

Esta versão do Atlas foi baseada em uma série histórica de dez anos de dados de satélites da série GOES e disponibilizou a base de dados solares em formato gráfico em uma publicação ilustrada, comentada em português e inglês.

Como citar esta notícia científica: INPE. Atlas Brasileiro de Energia Solar ganha nova edição após dez anos. Saense. https://saense.com.br/2019/07/atlas-brasileiro-de-energia-solar-ganha-nova-edicao-apos-dez-anos/. Publicado em 22 de julho (2019).

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