Jornal da USP
20/09/2019
As ferramentas usadas pelas startups para captar a inovação e transformá-la em produtos e serviços são o tema de duas pesquisas da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP. Os estudos, baseados em entrevistas com empreendedores e na análise do funcionamento de uma startup, mostram que elas possuem a capacidade de entender o mercado para adequar sua organização às novas demandas e usam ferramentas de gestão para ter agilidade nos negócios e inovar. Por meio dessas ferramentas, as startups controlam suas atividades, geram conhecimentos, avaliam o desempenho e podem fazer um planejamento prévio que contorne os riscos.
O objetivo das pesquisas foi entender como as startups conseguem ser ágeis por natureza para lidar com as incertezas e atender ao mercado. “Elas são empresas em processo de crescimento, não estabelecidas, mas que entendem bem a dinâmica do mercado”, conta o professor Fábio Lotti Oliva, responsável pelos estudos. “Seu modelo de negócio é baseado na busca de soluções (em geral digitais), de inovação e de escalabilidade, ou seja, a partir de um pequeno acréscimo de investimento, poder proporcionar uma oferta maior do seu produto ou serviço.”
Para compreender como as startups superam barreiras e medos e conseguem inovar, um dos estudos foi feito por meio de entrevistas com os responsáveis por 102 startups na cidade de São Paulo. “Eles estão reunidos em coworkings, ou incubadoras, que são estruturas que oferecem apoio para as startups funcionarem, buscando soluções e buscando empresas e investidores para desenvolverem seus negócios”, explica o professor. “A ideia era saber quais são as barreiras, práticas e métodos de gestão do conhecimento usados para captar a inovação e gerir o negócio.”
A partir das respostas, o trabalho identificou as principais barreiras, as práticas e os métodos de gestão do conhecimento das startups. “Gestão do conhecimento são práticas administrativas para adquirir, transformar, armazenar e descartar conhecimentos para captar inovação e agregar valor à organização e ao produto ou serviço que oferece”, aponta Lotti Oliva.
Práticas de gestão
“Entre as principais barreiras para a gestão, foram citadas a falta de recursos e a resistência à documentação”, relata o professor. “Por ordem de importância, as práticas de gestão são reuniões de equipe [também chamadas de brainstorms, para criação de novas ideias e projetos], avaliação de mercado com especialistas, validação com clientes, consulta com mentores, criação de indicadores de desempenho, pesquisa de mercado, relatórios de prototipação e testes e interação social [feiras e eventos].”
Entre os métodos de gestão do conhecimento mais frequentes, o professor aponta a utilização de ferramentas de armazenamento de projetos, sites de busca de conteúdo, ferramentas de gestão de projetos, experimentação e prototipagem, novos métodos de desenvolvimento e interação social (coworking). “A conclusão do estudo é que as startups que fazem um uso mais intensivo dessas práticas, ferramentas e modelos têm melhores resultados em termos de inovações, soluções e escalabilidade”, destaca. Os resultados do trabalho foram publicados em artigo da revista científica Journal of Knowledge Management, no dia 11 de fevereiro último.
O segundo estudo procurou identificar as práticas de gestão do conhecimento nas startups, analisando o caso da Effecti, fundada em 2013, que oferece soluções em tecnologia para licitantes, fornecendo soluções digitais que conectam empresas fornecedoras ao governo. A startup está sediada nos municípios de Rio do Sul (Santa Catarina) e São Paulo, sendo uma das residentes do Habitat, espaço de coinovação do banco Bradesco.
O professor observa que a gestão da startup, motivada por objetivos, procura ser ágil, organizando-se através de capacidades dinâmicas e de ferramentas de gestão. “Ler o mercado para entender as novas demandas, mudar a estrutura organizacional, produzir produtos e desenvolver serviços que atendam a essas demandas são capacidades dinâmicas”, descreve. “As ferramentas de gestão permitem fazer o controle das atividades, avaliação de desempenho e principalmente a gestão de risco, ou seja, realizar um planejamento que permita à startup estar preparada para contornar possíveis problemas.”
De acordo com Lotti Oliva, normalmente em outras empresas o planejamento é feito a curto prazo, sem uma visão de risco. “Na startup analisada, há agilidade e capacidade dinâmica, a gestão do conhecimento é menos centralizada, há emprego de ferramentas de gestão e é feita a avaliação dos riscos”, afirma. A Effecti atualmente atende a mais de 1.100 empresas em todos os estados brasileiros. Além disso, dos 100 maiores fornecedores de soluções para o governo federal, 37% utilizam soluções da startup. “Esse modelo não é uma fórmula geral, porém ele indica ferramentas integradas que podem ajudar as empresas a captarem conhecimentos inovadores.” O estudo é descrito em artigo publicado em 7 de dezembro na revista científica Management Decision.
Mais informações: e-mail fabiousp@usp.br, com o professor Fábio Lotti Oliva. [1]
[1] Esta notícia científica foi escrita por Júlio Bernardes.
Como citar esta notícia científica: Jornal da USP. Entender mercado e planejar com visão de risco fazem diferença de startups. Texto de Júlio Bernardes. Saense. https://saense.com.br/2019/09/entender-mercado-e-planejar-com-visao-de-risco-fazem-diferenca-de-startups/. Publicado em 20 de setembro (2019).