UFRGS
17/10/2019

Pesquisa se baseou em imagens de satélite e expedições – Foto: YoTuT/CC BY 2.0

O professor do Instituto de Geociências da UFRGS Rualdo Menegat acredita ter desvendado o mistério por trás da localização peculiar de Machu Picchu. Em setembro deste ano, durante o Congresso Anual da Geological Society of America (Sociedade Geológica da América, na tradução para o português), realizado em Phoenix, nos Estados Unidos, o pesquisador apresentou sua descoberta a respeito de como a cidade teria sido construída no alto da Cordilheira dos Andes.

A construção foi descoberta em 1911, pelo explorador estadunidense Hiram Bingham, que, de início, acreditava ter encontrado a mitológica “Cidade das Virgens do Sol”. Somente após a retirada da vegetação e a remontagem das partes caídas foi possível realizar investigações que confirmaram se tratar da cidade perdida dos incas. Ao longo dos anos, estudiosos tentaram explicar o porquê de sua localização, chegando a recorrer ao alinhamento das estrelas como justificativa, porém nenhuma das hipóteses foi comprovada. Ao que se sabe, os incas abandonaram o local durante a colonização espanhola no século XV, de modo que os espanhóis nunca souberam de sua existência, a qual permaneceu conhecida apenas pelas comunidades locais.

O estudo realizado por Rualdo propõe que a escolha da localização da cidade não foi por acaso, pois somente as falhas geológicas proporcionavam as condições materiais, hidrográficas e geográficas necessárias para a sobrevivência dos moradores. Todo o Departamento de Cusco, onde se localiza Machu Picchu, é formado por uma grande quantidade de falhas que se interceptam e possibilitaram o “encaixe” das cidades, como se fosse um grande Lego. Essa técnica, comum entre os incas, também foi encontrada em suas edificações, feitas a partir do encaixe de blocos de diferentes tamanhos e formatos. Acredita-se que esse tenha sido o fator responsável pela sua preservação mesmo após a ocorrência de diversos fenômenos naturais na região, como terremotos.

Essas falhas teriam sido causadas pelo movimento das placas tectônicas, que deixou as rochas danificadas e facilitou o trabalho de quebrá-las. Além disso, foram usadas como condutoras de água da chuva e da neve, viabilizando o ajuste da produção agrícola e do modo de vida da população pré-colombiana. Para chegar a essas conclusões, foi necessário realizar uma série de investigações de imagens de satélite de Machu Picchu e Ollantaytambo − outra construção inca analisada. Daí resultaram mapas com diferentes escalas e foram realizadas quatro expedições – destacando-se as de 2006 e 2010, nas quais o pesquisador foi até Pisac e arredores da cidade de Cusco, como Tambomachay e Qenqo – para checar as descobertas e confirmar a existência das falhas geológicas.

A pesquisa foi iniciada em 1999, quando Rualdo começou a se interessar pela questão, que foi também assunto de sua tese de doutorado, concluído em 2006. Em sua nova investigação, o pesquisador busca descobrir se a técnica de construção descoberta na parte peruana da Cordilheira do Andes também é encontrada na região boliviana. [1]

[1] Texto de Thauane Silva.

Como citar esta notícia científica: UFRGS. Falhas geológicas foram determinantes para a construção de Machu Picchu. Texto de Thauane Silva. Saense. https://saense.com.br/2019/10/falhas-geologicas-foram-determinantes-para-a-construcao-de-machu-picchu/. Publicado em 17 de outubro (2019).

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