Fiocruz
12/11/2019

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Você sabia que existem níveis máximos toleráveis de exposição à radiação e que a repetição indiscriminada dos exames de imagem pode acarretar uma série de problemas de saúde, inclusive câncer? O assunto, que suscita discussões em todo o mundo, foi abordado na Sessão Nobre (31/10), no Centro de Estudos Olinto de Oliveira. A palestra Exposições pediátricas à radiação ionizante em exames radiológicos foi ministrada pela física médica e coordenadora de radiologia do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), Tainá Olivieri.

Mundialmente, vem crescendo o número de exames de imagem, como ressonâncias, raios X e tomografias, em crianças e adolescentes. Esse aumento na exposição desses indivíduos em formação à radiação tem mobilizado organizações de saúde em todos os continentes a promoverem campanhas de conscientização sobre o uso racional de exames de imagem na faixa etária pediátrica, envolvendo médicos solicitantes, radiologistas, físicos médicos, técnicos e tecnólogos que realizam os exames, empresas de equipamentos de imagem e também as famílias.

“Entre os exames de imagem que conhecemos, somente a ultrassonografia e a ressonância magnética nuclear não estão associadas à radiação ionizante”, esclareceu Tainá. Em contrapartida, a tomografia computadorizada (TC), amplamente utilizada, inclusive em pacientes pediátricos, é o exame que submete o indivíduo a uma maior exposição à radiação. “A radiação ionizante, que é o nosso foco hoje, pode causar diversos problemas de saúde, desde os menos perigosos, que seriam vermelhidão da pele ou queimaduras leves, até mesmo o câncer ou a necrose de tecidos”, alertou a profissional. Ela explicou, ainda, que esses efeitos podem se manifestar muitos anos após a exposição, o que, muitas vezes, dificulta o estabelecendo da relação do dano à radiação pelo médico que está avaliando o paciente. “Existem efeitos da radiação que serão transmitidos geneticamente, devido a anomalias genéticas que se apresentarão somente nas gerações posteriores do indivíduo exposto”, completou.

Tainá ressaltou a importância de o médico avaliar, criteriosamente, a indicação do exame de imagem com uso de radiação, considerando sua justificação, e, em sendo imprescindível a realização, que a exposição à radiação seja a menor possível, atendendo ao critério de otimização. “No caso de crianças, isso se mostra ainda mais relevante, pois elas possuem tecidos em desenvolvimento e menor massa e volume corporais, sendo mais radiossensíveis. Além disso, têm mais tempo de vida após a exposição, o que aumenta a probabilidade da manifestação de efeitos de médio e longo prazo. A maior sensibilidade à radiação acarreta, em crianças, risco mais elevado para cânceres de cérebro, mama, pele, tireoide e leucemia, que podem aparecer entre 20 e 40 após a exposição ou menos”, destacou a física médica. Ela explicou que a gravidade da questão já motivou diversos países à elaboração e utilização de um instrumento semelhante à Caderneta de Saúde da Criança – a carteira de exposição à radiação-, que acompanha o paciente ao longo da sua vida e contém informações sobre data, tipo de exame, onde foi realizado e, quando possível, dose de radiação empregada.

O diretor do IFF/Fiocruz, Fábio Russomano, presente ao evento, frisou a importância da discussão do tema para a melhoria da atenção prestada, lembrando que um dos principais valores do Instituto é o foco no usuário. Ele pontuou a necessidade de promover um trabalho árduo e permanente de sensibilização de todos os profissionais da unidade sobre o uso racional dos exames de imagem em recém-nascidos, crianças e adolescentes, minimizando futuros danos à saúde desses pacientes.

Russomano defendeu também que, mais do que otimizar seus protocolos com relação ao assunto, com a adoção de um instrumento interno de acompanhamento dos procedimentos envolvendo radiação, o IFF/Fiocruz estaria cumprindo seu papel de Instituto Nacional do Ministério da Saúde. “Devemos propor a inclusão de uma página, na Caderneta de Saúde da Criança, destinada ao controle da exposição à radiação desde o nascimento. Não podemos nos omitir com relação às práticas de cuidado dirigidas a mulheres, crianças e adolescentes em nosso país”, concluiu.

Para conhecer melhor o Image Gently, uma das campanhas em prol do uso racional de exames de imagem em crianças e adolescentes reconhecida mundialmente e também no Brasil, clique aqui. [2]

[1] Image by Clker-Free-Vector-Images from Pixabay.

[2] Texto de Irene Kalil (IFF/Fiocruz).

Como citar esta notícia científica: Fiocruz. Uso racional de exames radiológicos em crianças. Texto de Irene Kalil. Saense. https://saense.com.br/2019/11/uso-racional-de-exames-radiologicos-em-criancas/. Publicado em 12 de novembro (2019).

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