UFRGS
24/01/2019

Ferramenta pode ser acessada gratuitamente no site do grupo de pesquisa. Foto: Gustavo Diehl/UFRGS

Em pesquisa realizada no ano passado pelo Instituto Paulo Montenegro em conjunto com a ONG Ação Educativa e o IBOPE Inteligência, foi apontado que cerca de 3 em cada 10 brasileiros são considerados analfabetos funcionais. Isso significa dizer que, embora saibam ler e escrever, eles têm dificuldades para entender textos simples e para realizar contas do cotidiano. Esse grupo é apenas um dos analisados no Relatório do Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF) 2018, que mede os níveis de alfabetismo da população brasileira entre 15 e 64 anos. Além disso, um levantamento realizado pelo Google mostrou que 26% dos brasileiros usam a plataforma para pesquisar sobre problemas de saúde antes de ir ao médico.

Tendo esses dados em mente, a professora do Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Maria José Finatto e a doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Letras da mesma universidade Liana Paraguassu decidiram criar a ferramenta digital MedSimples para facilitar o entendimento de textos que tratam de temas relacionados à saúde. O projeto foi iniciado em 2016, após a professora notar a complexidade dos textos da área da saúde que utilizava em suas aulas de tradução. Posteriormente, para dar início a seu doutorado voltado para o letramento em saúde, Liana se juntou ao grupo Acessibilidade Textual e Terminologia (ATT), que conta também com estudantes da área da Ciência da Computação.

A ferramenta MedSimples é composta por quatro diferentes bancos de dados: o CorPop, uma coletânea de palavras do português popular escrito; o Parser Passport, um recurso livre desenvolvido por Leonardo ZilioRodrigo Wilkens e colaboradores para identificar a classe gramatical de cada palavra; o TeP 2.0, um dicionário eletrônico de sinônimos e antônimos para facilitar a compreensão de vocábulos difíceis; e um glossário criado pelas pesquisadoras com termos técnicos da área da saúde com suas definições simplificadas por tipo de leitor. Esses bancos de dados trabalham em conjunto no reconhecimento dos termos e das palavras que precisam se tornar mais acessíveis para o perfil de leitor selecionado.

A ferramenta funciona de maneira similar ao Google Tradutor: o usuário seleciona um fragmento de um texto encontrado na internet ou escrito por ele mesmo, insere na caixa indicada, escolhe o tema a que o trecho se refere e o perfil de pessoa para quem está se direcionando (as categorias levam em conta características como grau de escolaridade, por exemplo). A simplificação textual sugerida irá aparecer em um bloco na parte inferior da página, com os termos específicos da saúde destacados em verde e explicações em parênteses. As palavras do português consideradas difíceis aparecerão com os seus sinônimos grifados em azul.

As categorias de leitores que estarão disponíveis ainda serão definidas pelo grupo de pesquisa, a partir do Relatório do INAF. Maria Finatto esclarece que esse documento traz as características das pessoas leitoras, o que elas leem, o que é entendido, quanto tempo estudaram e quais seus hábitos de leitura.

Inicialmente, a ferramenta foi pensada para ser usada por jornalistas, profissionais da área da saúde que queiram ter maior contato com seus pacientes e tradutores intralinguísticos – aqueles que passam textos de linguagem complexa para uma mais simples. Entretanto, durante a elaboração do projeto para concorrer ao Latin America Research Awards 2019 (LARA 2019), as pesquisadoras se depararam com dados apresentados pelo Google, citados anteriormente, que apontam que 26% da população busca informações diretamente na internet sobre problemas de saúde. “Então nós pensamos que o MedSimples também pode ser utilizado por qualquer pessoa”, explica Liana. No site do grupo, é possível encontrar ainda um glossário e uma coleção de frases reformuladas a respeito de tópicos dentro da temática escolhida.

A ferramenta encontra-se disponível para uso, porém ainda está na fase inicial de coleta de termos e palavras difíceis relativos à doença de Parkinson e conta somente com a categoria de leitor “adultos com nove anos de escolaridade”. A ideia das pesquisadoras é expandir para outros perfis e temas, como, por exemplo, cuidados com a criança – próxima temática que estará disponível –, Alzheimer e sarampo. Elas esperam que o MedSimples esteja funcionando de maneira mais completa até o meio deste ano.

Em novembro passado, o projeto foi um dos 25 escolhidos no LARA 2019, premiação criada pelo Google, e foi contemplado com uma bolsa de pesquisa por um ano. “A gente acredita que tanto a ferramenta quanto o trabalho que nós realizamos no grupo de Acessibilidade Textual e Terminológica têm um grande papel social, porque nós vivemos em um país onde, cada vez mais, as pessoas têm acesso à internet e às informações, mas sem uma educação de qualidade que as capacite para compreender esse conteúdo todo que está à disposição”, afirma Liana. Segundo Maria Finatto, também faz parte do projeto a criação de um curso online massivo e aberto (MOOC) sobre “Texto fácil”, que estará disponível a partir de março na plataforma Lúmina. [1]

[1] Texto de Thauane Silva.

Como citar esta notícia científica: UFRGS. Simplificar para compreender. Texto de Thauane Silva. Saense. https://saense.com.br/2020/01/simplificar-para-compreender/. Publicado em 24 de janeiro (2019).

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