Embrapa
12/03/2020

Cobertura de folhas mortas ajuda a economizar água na irrigação. Foto: Divulgação Embrapa

Pesquisas realizadas pela Embrapa mostram que há exagero na quantidade de água utilizada na irrigação dos coqueirais, especialmente do coqueiro-anão-verde fonte de água de coco, preferência do consumidor brasileiro. Segundo resultado de pesquisas da Embrapa Tabuleiros Costeiros (SE), as lavouras poderiam receber 66% a menos de água para obter a mesma produção.

Os resultados mostram que quando o solo tem cobertura com a folha seca do coqueiro, denominada cama morta ou mulch, a quantidade diária de água aplicada no coqueiro poderá ser reduzida para 50 litros, sem prejuízo à produção, segundo o pesquisador.

A informação é do pesquisador da Embrapa Fernando Cintra, onde os dados foram gerados. O trabalho é resultado de quatro anos de experiência em coqueirais de produtores do Platô de Neópolis (SE), local em que cada lavoura cultivada costuma receber irrigações diárias de 150 litros.

Cintra explica que nos coqueirais bem conduzidos a planta chega a produzir 15 folhas secas por ano, em média, e que esse material é, em geral, mal aproveitado. “Os produtores costumam distribuir as folhas no centro da entrelinha do coqueiral e em seguida triturá-las com roçadeira. Gastam-se, portanto, energia e dinheiro para colocar as folhas em uma área distante do alcance do sistema radicular. Enquanto isso, a área ao redor da planta fica descoberta e, estando limpa, fica sujeita a elevados níveis de evaporação o que contribui para reduzir a umidade da terra e aumentar, por consequência, a necessidade de irrigação”, detalha.

As folhas secas produzidas pelo coqueiro, em torno de uma por mês, são um resíduo abundante no coqueiral e sua reciclagem para cobertura morta na zona do coroamento, círculo com raio em torno de dois metros ao redor do estipe, traz benefícios às plantas como o melhor armazenamento de água no solo. Isso permite redução do volume diário de água de irrigação, aumento da matéria orgânica do solo e melhoria da fertilidade e da atividade biológica, no médio prazo.

Outra vantagem da cobertura morta é a redução da utilização de herbicidas, uma vez que ela controla ervas daninhas, além de contribuir para aumento de produtividade, reduzir custos e agregar valor ambiental ao sistema de produção.

Pragas e doenças também foram monitoradas pelo pesquisador. Segundo ele pode-se afirmar que a cobertura morta não promove qualquer aumento de pragas ou de doenças no coqueiral. Portanto, a prática da queima dos resíduos, comum em algumas propriedades, pode causar estragos às plantas, pois danifica o tronco do coqueiro e suas raízes superficiais, exatamente aquelas que são responsáveis pela alimentação da planta.

A cobertura morta reduz a perda de água por evaporação, conserva a umidade, reduz o volume diário de água na irrigação, melhora a fertilidade, aumenta os teores de matéria orgânica, atividades biológicas e de nutrientes disponíveis para a planta, além de regular a temperatura do solo.

Esses resultados foram obtidos em 12 meses, conforme o técnico agrícola Rodrigo Gonçalves Sacramento, da empresa H. Dantas, do Platô de Neópolis, onde a Embrapa Tabuleiros Costeiros realiza também pesquisas sobre cobertura morta no coqueiro em plantio com água irrigada do Rio São Francisco.

“O procedimento é ecologicamente correto por três motivos: o primeiro é utilizar o próprio vegetal para a cobertura, o segundo é o uso racional da água e o terceiro é evitar defensivos agrícolas para o combate de ervas daninhas”, enfatiza. Rodrigo Sacramento lembra que existe uma pressão ambiental pelo planeta e esse procedimento propicia produção sustentável com ganhos econômicos.

“Funciona bem! Nosso desafio é colocar em todos os coqueiros, pois a propriedade é muito grande. Diminuir a lâmina d´água utilizada no plantio é muito importante”, completa Hildeberto Barboza dos Santos, gerente da H. Dantas.

O fogo não é recomendado

Alguns produtores costumam queimar as folhas secas em aceiros e até mesmo no pé da planta como forma de se livrar dos resíduos, acreditando nos benefícios das cinzas como adubo ou na diminuição da incidência de pragas e doenças. Os estudos realizados atestam que essa prática não acrescenta nada à produção de coco, e que o fogo só contribui para danificar o tronco e matar as raízes superficiais, aquelas responsáveis pela alimentação da planta.

Benefícios da cobertura morta

– Redução das perdas de água por evaporação, ajudando a conservar a umidade do solo e a reduzir o volume diário de água na irrigação;

– melhoria da fertilidade do solo a médio prazo pela reciclagem de nutrientes;

– aumento dos teores de matéria orgânica e da atividade biológica no solo com maior retenção de água e nutrientes deixando-os mais disponíveis para as plantas;

– redução da infestação de plantas daninhas e, como consequência, menor competição por água e nutrientes com diminuição de custos com capina/herbicida;

– diminuição da variação da temperatura do solo protegendo as raízes e criando um ambiente mais favorável para absorção de água e nutrientes pela planta.

Passos para usar a cobertura morta

1. Limpar a área que receberá a cobertura morta, a qual varia com a idade da planta. Em coqueiral de anão-verde adulto, com mais de cinco anos, o raio do círculo deve ficar ao redor de dois metros.

2. Realizar a adubação orgânica com esterco e química com NPK e micronutrientes. As adubações químicas posteriores deverão ser feitas sobre a cobertura, seguida de irrigação.

3. Cortar as folhas de coqueiro em pedaços ao redor de 50 cm. Excluir a parte dura e colocar na borda da cobertura.

4. Distribuir as folhas em camadas na área do coroamento até a altura média de 20 centímetros.

Observações

  • A primeira manutenção da cobertura morta é feita um ano após a implantação e, se possível, com metade das folhas utilizadas inicialmente. Lembrar que todas as folhas secas produzidas pela planta devem ser colocadas na sua própria cobertura;
  • a depender da região, algumas ervas daninhas podem invadir a cobertura. Nesse caso, a manutenção deve ser feita mais cedo para abafar o mato;
  • 50 folhas foi o número utilizado na experimentação. No entanto, a partir de 30 folhas já se obtém uma boa cobertura morta.

Principais dúvidas relacionadas à prática

1. Como têm sido utilizadas as folhas secas produzidas em um coqueiral?

Na maioria dos coqueirais as folhas secas são colocadas no centro da linha de plantio e trituradas com roçadeira.

Em uma pequena parte dos coqueirais as folhas são jogadas ao redor do estipe de forma desorganizada e sem a preocupação de formar camadas.

Alguns poucos produtores queimam a palhada em aceiros ou ao redor da planta.

2. Como e quando deverá ser feita a adubação?

A primeira adubação deverá ser feita antes da colocação da cobertura morta, porém, as posteriores, podem ser feitas sobre a palhada com a obrigatoriedade de se aplicar a irrigação logo em seguida para evitar a volatilização do nitrogênio proveniente da ureia.

Em sistema de sequeiro a adubação também deverá ser feita antes da cobertura morta e as posteriores também sobre a palhada, porém, exclusivamente no período chuvoso.

3. Quantas folhas devem ser colocadas para se ter uma boa cobertura morta?

Já se tem como certo que 50 folhas formam uma cobertura eficaz e suficiente para conservar a umidade do solo e a redução de ervas daninhas, permitindo a redução do volume de água de irrigação e a eliminação do uso de herbicida.

Em um novo experimento estão sendo testadas entre 30 e dez folhas em comparação com 50 objetivando racionalizar o uso de folhas secas no coqueiral para formação das coberturas mortas.

4. A cobertura morta aumenta a população de pragas e a incidência de doenças?

O experimento foi monitorado durante quatro anos e durante esse período não foi observado qualquer aumento na população de pragas ou incidência de doenças. [1]

[1] Texto de Ivan Marinovic Brscan.

Como citar esta notícia: Embrapa. Plantios de coco-anão-verde podem utilizar menos água para produzir.  Texto de Ivan Marinovic Brscan. Saense. https://saense.com.br/2020/03/plantios-de-coco-anao-verde-podem-utilizar-menos-agua-para-produzir/. Publicado em 12 de março (2020).

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