Jornal da USP
20/05/2020

Diálogos Socioambientais na Macrometrópole – Foto: Reprodução/Dossiê Covid-19

Já se sabe que, por onde passa, a pandemia de covid-19 tem efeitos distintos dependendo das características políticas, socioeconômicas e geográficas de cada local. Para compreender um fenômeno tão complexo, é preciso analisá-lo a partir de diferentes perspectivas. Foi com essa intenção que o MacroAmb, projeto temático da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) que pesquisa governança ambiental na macrometrópole paulista, lançou o Dossiê Covid-19

Coordenado pelo professor Pedro Roberto Jacobi, do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, o MacroAmb reúne pesquisadores de diferentes instituições e áreas do conhecimento. O dossiê recém-lançado é uma nova edição do caderno Diálogos Socioambientais na Macrometrópole Paulista, que reúne uma série de artigos em torno de um tema selecionado.

A publicação busca discutir os efeitos que a pandemia pode causar principalmente em relação às questões que fazem parte da realidade da macrometrópole. Este aglomerado urbano compreende as regiões metropolitanas de São Paulo, Baixada Santista, Campinas, Sorocaba, Vale do Paraíba, Campinas e outros locais, totalizando 174 municípios e uma população de 22 milhões de pessoas. Trata-se de uma das regiões mais importantes economicamente para o Brasil, e sua área está interligada por fatores como bacias hidrográficas, comércio, infraestrutura, vias de transporte, questões urbanas e desigualdade social ‒ todos importantes para entender como a covid-19 se propaga.

Análise interdisciplinar da pandemia

Como explica o professor Jacobi, o dossiê foi elaborado a partir de convites a estudiosos de temas relacionados à macrometrópole. “Nós fizemos convites para pessoas de várias áreas do conhecimento, sem haver uma preocupação institucional, e sim do conteúdo que seria produzido.”

Todo o material foi preparado em um mês, a partir do início de abril, que foi quando os integrantes do MacroAmb decidiram produzir a edição especial abordando a covid-19. “Obviamente há muitas publicações sobre isso nesse momento, mas muitas vezes as outras são muito disciplinares. E a nossa tem uma preocupação interdisciplinar”, diz Jacobi.

A COVID-19 reforça a necessidade de entendermos a segurança hídrica como a relação que descreve como indivíduos, domicílios e comunidades navegam e transformam as relações hidrossociais para acessar a água que eles precisam, de forma a manter o desenvolvimento das capacidades humanas e de seu bem estar – Segurança Hídrica e a COVID-19 na Macrometrópole Paulista: da política do corpo ao território

O resultado desse cruzamento entre diferentes áreas de reflexão e estudo foi um panorama amplo dos efeitos da pandemia, passando por um resgate histórico, revisão de políticas públicas, análise de dados e até entrevistas com profissionais da saúde.

Em um dos artigos, duas pesquisadoras da Universidade Federal do ABC (UFABC) observam como as diferenças no acesso à água entre diferentes locais, conceito chamado de segurança hídrica, é relevante para determinar a disseminação do novo coronavírus. Mais à frente, a professora Sílvia Helena Zanirato, do curso de Gestão Ambiental da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, junto a dois doutorandos do IEE, escrevem sobre os pequenos municípios da Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte. Com grandes índices de informalidade e boa parte de suas receitas dependente do turismo, esses municípios estão entre os locais mais vulneráveis aos impactos negativos da pandemia.

A historiografia da saúde e das doenças torna-se uma aliada no desenvolvimento de estratégias de ação e na reflexão sobre os acontecimentos vivenciados, que apesar de aparentarem carregar um alto grau de ineditismo, dizem respeito às experiências de um passado recente cujos vestígios povoam o imaginário social e se expressam no território – A Macrometrópole Paulista entre o presente e o passado: surtos epidêmicos e memória social 

Há também um artigo que resgata o planejamento territorial e de combate às epidemias que atingiram São Paulo durante a Primeira República (1889-1930). A principal delas, ocorrida em 1918 e que ficou conhecida como gripe espanhola, é marcada por uma baixa notificação dos óbitos, como escreve Felipe Bueno Crispim, doutorando em História na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Na época, muitas das mortes ocorreram entre as classes populares, em domicílios com pouca infraestrutura e baixas condições sanitárias, que acabavam não sendo contadas nos registros oficiais. O pesquisador ressalta a importância das ciências humanas para a construção dessa memória, que pode desempenhar papel importante no momento atual e no futuro.

Trazendo essa discussão para o presente, o texto de Flávio Moraes, doutor em Física pela USP, discute as causas da subnotificação de casos e mortes por covid-19. De acordo com ele, o problema mais crítico é a limitação de testes que se consegue realizar, seja por questões materiais, com a quantidade pequena de testes disponíveis, ou questões estruturais, relativas à capacidade dos laboratórios para realizá-los.

Há ainda análises específicas sobre grupos sociais marginalizados, como a população indígena e moradores de rua, abordando políticas públicas e as estratégias de enfrentamento desses grupos contra a pandemia. Também participaram da produção do dossiê alguns artistas que, por meio de poemas ou ensaios fotográficos, trazem reflexões sobre o momento atual, e levantam questões sobre seus efeitos para as artes e a cultura.

Sobre o MacroAmb

O MacroAmb: Governança Ambiental da Macrometrópole Paulista Face à Variabilidade Climática é um Projeto Temático Fapesp iniciado em 2017, que aborda o tema da governança ambiental sob cinco aspectos: a governança do saneamento básico, a energia, serviços ecossistêmicos, clima e planejamento territorial. Dentro desse conjunto, há uma produção de estudos publicados em revistas de pesquisa nacionais e internacionais.

Dentre as atividades desenvolvidas, está a publicação Diálogos Socioambientais da Macrometrópole Paulista, que tem como objetivo conversar com um público mais amplo, para além da academia. Antes do Dossiê Covid-19 foram publicadas quatro edições, e a próxima deve ser lançada em junho, com artigos sobre serviços ecossistêmicos.

Além do site, o MacroAmb também divulga os trabalhos em sua página no Facebook.

Mais informações: e-mail prjacobi@gmail.com, com Pedro Jacobi. [1]

[1] Texto de Matheus Souza.

Como citar esta notícia: Jornal da USP. “Dossiê Covid-19”: publicação discute a pandemia na macrometrópole paulista.  Texto de Matheus Souza. Saense. https://saense.com.br/2020/05/dossie-covid-19-publicacao-discute-a-pandemia-na-macrometropole-paulista/. Publicado em 20 de maio (2020).

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