UFPR
09/06/2020
A alta incidência de encalhes de tartarugas marinhas nos estados do Sul e Sudeste do Brasil foi estudada por pesquisadores de pelo menos sete universidades do Brasil e do exterior, além de institutos de pesquisa e organizações não-governamentais de São Paulo, Paraná e Santa Catarina. A pesquisadora Camila Domit, do Centro de Estudos do Mar da Universidade Federal do Paraná (CEM/UFPR) e o pós doutorando Mauricio Cantor (CEM/UFPR) fizeram parte do grupo de pesquisa, que recentemente publicou um artigo com dados alarmantes no ICES Journal of Marine Science. O estudo, intitulado High incidence of sea turtle stranding in the southwestern Atlantic Ocean compartilha alta ocorrência de encalhe de tartarugas marinhas e a preocupação com a mortalidade e constantes ameaças as diferentes espécies das águas brasileiras.
Segundo a pesquisadora, o registro de mortalidade de tartarugas marinhas, no Brasil, é o maior do mundo. “Não encontramos em artigos científicos internacionais um número tão alto de mortalidade“, explica. Os encalhes de cinco espécies foram tabulados pelos cientistas ao longo de dois anos, cobrindo cerca de mil quilômetros da costa entre São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Onze equipes de trabalho atuaram de forma simultânea: “este esforço de campo inigualável na área produziu o maior e mais detalhado conjunto de dados disponível sobre eventos de encalhamento de tartarugas marinhas“, aponta o artigo.
O estudo gerou dados a partir de 12 571 animais, de cinco espécies – com destaque para a tartaruga– verde, com mais de 90% da incidência. Também foram localizadas Caretta caretta, Eretmochelys imbricata, Lepidochelys olivacea e Dermochelys coriacea. A maioria delas foram encontradas já mortas (90, 6%) e em idade juvenil (96,3%). A equipe estudou a ocorrência espaço-temporal e aspectos da história de vida das tartarugas marinhas em uma região pouco analisada.
Os dados preocupam pois, de acordo com Camila, estima-se que o número de animais que chegam até a praia representam menos de 30% do que aqueles que morrem. “Essas tartarugas vêm de múltiplas regiões de reprodução, Costa da África, Caribe, Brasil e mesmo de uma ilha da Inglaterra. Os indivíduos de diferentes ‘estoques populacionais’ se encontram para se alimentar na costa sul e sudeste do Brasil e acabam expostos à impactos e morrendo aqui”, comenta.
Como as tartarugas não têm predadores naturais, a mortalidade está diretamente relacionada à atividade humana.
No caso das tartarugas–verde, a situação é preocupante, já que elas levam 20 anos para começarem a se reproduzir e estão morrendo, em média, entre dois e dez anos de idade. “As ações que fazemos hoje terão impacto somente em dez, vinte anos, por isso é necessário aliar pesquisa, com gestão e com o envolvimento da sociedade para garantir a conservação das tartarugas marinhas“, justifica.
O encalhe das tartarugas foi monitorado de 24 de agosto de 2015 a 24 de agosto de 2017, ao longo de 1040 km de litoral no litoral sul e sudeste do Brasil. Aquelas que eram resgatadas vivas (9,4%) foram encaminhadas para centros de reabilitação, incluindo o localizado na UFPR. As demais foram necropsiadas em laboratórios distribuídos nos centros de pesquisa e universidades.
De acordo com a pesquisadora, os números de encalhes são mais altos em regiões com atividades pesqueiras. “A interação das tartarugas com a pesca é um fator muito importante, o que nos leva a questionar como trabalhar com o manejo e ordenamento desta atividade.
É preciso achar uma proposta que claramente inclua a questão econômica e social, garantindo que as populações que dependem dessas atividades também não sejam expostas a vulnerabilidades“, diz.
A pesquisadora acredita que se deve trabalhar medidas que priorizem, em termos de políticas de conservação, a justiça sociambiental, conciliando as atividades da população com a preservação dos animais. “Este artigo é um aviso com relação a grande mortalidade, uma das maiores do mundo, e a necessidade de processos de gestão imediatos,. As tartarugas marinhas são globalmente classificadas como ameaçadas de extincão“, lembra. De acordo com ela, os dados da pesquisa podem indicar boas direções para que se avalie medidas de mitigação e se planeje ações de conservação.
Nós pelos Oceanos
Além de atuarem como frente de pesquisa no conhecimento de tudo o que é relacionado ao mar e seu entorno, pesquisadores do CEM estão articulando ações para popularizar os oceanos. O projeto “Nós pelos Oceanos” foi lançado no último sábado, por uma rede colaborativa que reúne alunos e professores do Programa de Pós-Graduação em Sistemas Costeiros e Oceânicos (PGSISCO). A iniciativa promove um desafio nas redes sociais.
As informações estão sendo publicadas no perfil do Instagram @nospelosoceanos. O objetivo é destacar a importância do oceano, sensibilizando a sociedade quanto ao desenvolvimento sustentável de recursos marinhos e para a manutenção de um oceano saudável. A divulgação das ciências do mar em linguagem acessível é um dos pilares da iniciativa, que também está ligada à “Década do Oceano”, da Organização das Nações Unidas, prevista para durar de 2021 a 2030.
O desafio dos 30 dias pelo Oceano foi lançado nesta segunda, também pelo Instagram, em inglês e português. A ideia é estimular os usuários a compartilharem imagens, músicas, reportagens e atitudes que podem prejudicar o Oceano. Por meio da hashtag #nospelosoceanos, os participantes também devem desafiar seus amigos, marcarem páginas que discutem o assunto e até fazerem ou citarem poemas relacionados à temática. [1]
[1] Texto de Amanda Miranda.
Como citar esta notícia: UFPR. O maior índice de mortalidade de tartarugas marinhas do mundo. Texto de Amanda Miranda. Saense. https://saense.com.br/2020/06/o-maior-indice-de-mortalidade-de-tartarugas-marinhas-do-mundo/. Publicado em 09 de junho (2020).