Embrapa
08/07/2020

A metodologia holandesa chamada Tea Bag Index (TBI) está sendo usada por cientistas da Embrapa Pecuária Sudeste em parceria com a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) [Foto: Luiz Paiva]

Pesquisadores estão enterrando saquinhos de chá para avaliar a qualidade do solo em sistemas produtivos. Trata-se de uma metodologia holandesa chamada Tea Bag Index (TBI) e está sendo usada por cientistas da Embrapa Pecuária Sudeste em parceria com o Departamento de Ciências Ambientais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). 

A técnica permite acompanhar a taxa de decomposição da matéria orgânica contida em cada saquinho e comparar esse valor entre os diferentes sistemas produtivos. “Em geral, quanto mais o solo decompõe matéria orgânica, mais qualidade ele tem. É sinal de que a comunidade microbiana está funcionando”, explica o professor da UFSCar Marcel Tanaka.

Ele conta que vem aplicando o método em áreas de restauro florestal (recuperação vegetal). Sua equipe enterra saquinhos de chá em matas ciliares para observar a recuperação dessas áreas e consequente retomada de serviços ambientais prestados pela vegetação. Entre eles, a preservação de corpos d’água – as árvores retêm sedimentos que deixam de atingir lagos, córregos, rios e outros – e aumento da infiltração de água no solo – sem árvores, é maior a evaporação da água. Além disso, com as matas restauradas, aumenta o sequestro de carbono da atmosfera e a ciclagem de nutrientes.

Da vegetação nativa para a agropecuária

O método estava restrito a essas áreas de restauro, até que, em 2019, o pesquisador da Embrapa Alberto Bernardi (foto à direita) passou a aplicá-lo em sistemas produtivos. O experimento utilizou cerca de 400 saquinhos que foram enterrados a uma profundidade de oito centímetros em áreas de sistemas integrados, nas quais são praticados simultaneamente a pecuária, o plantio de lavoura e de florestas (geralmente eucaliptos), chamada de ILPF (integração lavoura-pecuária-floresta). O chá foi colocado nas linhas e entrelinhas dos eucaliptos.

Após três meses, os saquinhos foram retirados para análise. O material foi processado na UFSCar em um equipamento chamado Mufla, um tipo de estufa com altas temperaturas usada em laboratórios. Como no conteúdo dos saquinhos havia terra, fungos e outros microrganismos, foi preciso “queimar” essas amostras a 500 graus. “O que sobra são cinzas e material inorgânico”, explica Tanaka.

No campo experimental da Embrapa em São Carlos, o TBI foi aplicado em áreas sombreadas nas quais estão plantadas árvores do sistema integrado e em pastos a pleno sol, sem sombreamento. Para evitar que os saquinhos se perdessem com o tempo, foi colocado um tubo de PVC marrom em cada ponto do solo estudado.  Durante o experimento, foi preciso providenciar a manutenção de alguns pontos por causa da presença de animais no local. “É a primeira vez que a tecnologia está sendo usada na presença de gado”, revela o professor da UFSCar.

Esse estudo faz parte da tese de doutorado de Débora Bessi (foto à esquerda), graduada em gestão ambiental que deve finalizar seu trabalho em 2021. Ela vai completar sua pesquisa com dados sobre análise química e física do solo que foram feitas pelo laboratório da Embrapa. “É importante conhecer essas propriedades porque elas vão condicionar os processos de decomposição. A partir desses números, será possível saber o que acontece”, declara Bernardi. A Embrapa também forneceu dados meteorológicos daquela área.

“Partimos do pressuposto que o sistema ILPF altera o solo. A expectativa é que aumentem a decomposição e as atividades orgânicas e que o solo passe a reter mais carbono,” estima o pesquisador da Embrapa. Com isso, a integração estaria contribuindo para equilibrar a emissão de gases de efeito estufa pela pecuária. 

Não é qualquer chá

O chá utilizado nos experimentos é padronizado e não está disponível no Brasil. Pelas 20 caixas adquiridas, o projeto pagou cerca de 90 euros (cerca de R$ 540).

A metodologia Tea Bag Index vem sendo aplicada em um experimento global e todos os países envolvidos estão usando o mesmo produto. A ideia é conhecer os processos de decomposição de solos de diferentes regiões do planeta para propor soluções e tecnologias que reduzam os impactos das mudanças climáticas.

No site Teatime4Science há mais informações sobre essa pesquisa mundial. “Os saquinhos de chá podem fornecer informações vitais sobre o ciclo global do carbono. E os consumidores em todo o mundo podem melhorar a modelagem climática sem muito esforço ou equipamento”, consta na apresentação do projeto.

Marcel Tanaka (foto) explicou que, antes dessa metodologia, já havia experimentos que colocavam matéria-prima orgânica dentro de saquinhos de nylon, geralmente folhas. Estes saquinhos eram enterrados e depois recuperados para análise. “O problema é que a matéria orgânica de uma determinada região pode ser muito diferente de outras regiões. Assim, não haveria como padronizar um estudo global”, detalha o professor.

Quando a tese de Bessi for publicada, os resultados desse experimento serão repassados ao projeto mundial para que o Brasil passe a integrar o grupo de países que está adotando o “plantio de chá” em favor da pesquisa.

Esse estudo na Embrapa é financiado pela Rede ILPF, uma associação que reúne instituições públicas e privadas com o objetivo de acelerar a adoção das tecnologias de integração lavoura-pecuária-floresta por produtores rurais como parte de um esforço para intensificar a agricultura brasileira de forma sustentável. [1]

[1] Texto de Ana Maio.

Como citar esta notícia: Embrapa. Cientistas usam saquinhos de chá para avaliar qualidade do solo.  Texto de Ana Maio. Saense. https://saense.com.br/2020/07/cientistas-usam-saquinhos-de-cha-para-avaliar-qualidade-do-solo/. Publicado em 08 de julho (2020).

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