CCS/CAPES
02/07/2020
Graduada em Farmácia-bioquímica, com habilitação em Análises Clínicas, pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e mestra em Ciências Farmacêuticas pela mesma instituição, Nívea Cristina é doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Bolsista do programa CAPES-PrInt, estuda a proteção gástrica oferecida pelo extrato da planta conhecida como gabiroba.
Fale sobre o seu trabalho.
Nosso trabalho estuda a planta medicinal Campomanesia lineatifolia, popularmente conhecida como gabiroba, que é uma espécie nativa brasileira e originária da Amazônia. Tradicionalmente, o chá de suas folhas é utilizado pela população para o tratamento de disenterias, problemas estomacais e diarreia. Buscando evidências científicas para justificar este uso na medicina tradicional, o trabalho procura identificar as substâncias químicas presentes na planta para posterior padronização química e biológica do extrato, visando o controle de qualidade de um possível medicamento fitoterápico para o tratamento de pacientes com úlceras gástricas.
Como surgiu o interesse em trabalhar com o assunto?
Em 2016, tentando fazer meu doutorado na área de produtos naturais, tive meu primeiro contato com a Profª Rachel Castilho, do Laboratório de Farmacognosia e Homeopatia (GnosiaH) da UFMG, que me apresentou o projeto da gabiroba, com atividade gastroprotetora e anti-inflamatória. Na verdade, este trabalho é uma continuidade de um estudo iniciado em 2007. Resultados prévios obtidos já haviam demonstrado a potencial atividade anti-inflamatória e de proteção gástrica do extrato das folhas de gabiroba, mas o mecanismo de ação dessa atividade e a identificação das substâncias químicas ativas presentes ainda precisavam ser explicados.
Qual o objetivo da pesquisa?
O objetivo da pesquisa é avaliar a composição química e desenvolver um método de análise para os principais componentes e avaliar a atividade gastroprotetora, anti-inflamatória e antibacteriana do extrato das folhas de Campomanesia lineatifolia, contribuindo assim, para sua padronização químico-biológica e para o desenvolvimento de um fitoterápico.
O que é um medicamento fitoterápico?
Medicamento Fitoterápico é um fármaco obtido a partir de matéria-prima ativa vegetal (de uma planta, por exemplo), com finalidade profilática, curativa ou paliativa.
Qual a importância do seu trabalho para a realidade brasileira?
Com a implementação das políticas nacionais de plantas medicinais e fitoterápicos (PNPMF) e das práticas integrativas e complementares (PNPIC) no Brasil, houve um incentivo à pesquisa nessa área, com vistas ao aprimoramento da atenção à saúde, melhoria no provimento do acesso a medicamentos fitoterápicos pela população e desenvolvimento sustentável da biodiversidade brasileira. Neste cenário, a expectativa é de que os resultados deste trabalho possam contribuir para o desenvolvimento de um possível fitoterápico alternativo e/ou adjuvante ao tratamento convencional de úlceras gástricas, com melhoria da qualidade de vida desses pacientes.
E no âmbito internacional?
Muitas doenças gastrintestinais ainda são pouco responsivas às terapias convencionais e, mesmo nos casos em que existe grande variedade de fármacos efetivos, estes podem apresentar reações adversas importantes com o uso a longo prazo. Medicamentos à base de plantas, isolados ou em combinação com fármacos convencionais, podem ser usados como uma alternativa para pacientes que não respondem à terapia convencional, além de apresentarem vantagens em relação a um menor custo de produção e baixa incidência de reações adversas.
O que ele traz de diferente daquilo que já é visto na literatura?
Existem poucos trabalhos publicados para a espécie Campomanesia lineatifolia e estes mostram informações dispersas, que descrevem suas atividades gastroprotetora e anti-inflamatória. Nossa proposta pretende avaliar a composição química, desenvolver método de análise para a padronização do extrato em associação com estudos dos mecanismos pelos quais essas atividades ocorrem. O estudo mecanístico, bem como a caracterização do perfil fitoquímico de uma planta medicinal é primordial para que se possa validar cientificamente a sua utilização popular.
Qual a importância do apoio da CAPES?
A oportunidade da bolsa do programa de doutorado-sanduíche da CAPES, tornou possível a colaboração do Professor Fabio Boylan, do Trinity College Dublin em nosso trabalho. É importante para a equipe do Laboratório de Farmacognosia (GnosiaH) da Faculdade de Farmácia da UFMG consolidar parceria e intensificar o intercâmbio de estudantes e pesquisadores, com o aumento da cooperação técnica científica entre os dois países. Dessa forma, está sendo possível melhorar a minha formação e a experiência técnica multidisciplinar.
Como citar esta notícia: CCS/CAPES. Gabiroba: planta tem potencial para proteger o sistema gástrico. Saense. https://saense.com.br/2020/07/gabiroba-planta-tem-potencial-para-proteger-o-sistema-gastrico/. Publicado em 02 de julho (2020).