Jornal UFG
05/08/2020

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A metáfora de guerra utilizada para o enfrentamento da pandemia, apesar de recorrente nos discursos de atores sociais, não se mostra adequada, uma vez que fere os princípios da ação democrática e, mais, não estimula o cuidado mútuo, a empatia e a solidariedade da sociedade. A conclusão é do professor de psicologia da UFG, Domenico Hur, que assina o artigo Covid-19 and the metaphor of war, junto a outros dois autores da Universidade de Santiago de Compostela, José-Manuel Sabucedo e Mónica Alzate.

Assim como explicam os autores no texto, as metáforas são importantes especialmente em momentos como esse, em que se vive algo novo, uma vez que contribuem para gerar a familiaridade do desconhecido. Entretanto, a metáfora de guerra utilizada por várias nações, desde o início da pandemia, apesar de ter aspectos positivos, geram uma assimilação equivocada do momento, promovendo ações desproporcionais. Um exemplo, citado pelos autores do artigo, foi o que ocorreu no princípio, quando as pessoas correram aos supermercados para estocar material de limpeza e comida. 

“O uso dessa metáfora é problemático porque, embora evoque algumas imagens com conotações positivas, como resistência e heroísmo, também dragará outras que denotam conflito, como confronto, obediência e inimigo”, afirmam no artigo. Soma-se aos efeitos negativos da metáfora, o sentimento de ansiedade que pode “ativar mecanismos cognitivos e emocionais relacionados ao instinto de sobrevivência”. 

Uma outra observação dos autores é o risco dessa metáfora para as sociedades democráticas, uma vez que podem referendar a importância de um líder político autoritário e, mais, colocar a crítica de opositores da gestão pública no espaço dos ditos inimigos. Retira-se, assim, o poder político como objeto de escrutínio social, tão essencial nas sociedades democráticas. “A metáfora de guerra está associada à obediência, à identificação de um inimigo e à defesa do grupo”, afirmam.

No cenário da pandemia, mais adequado, segundo os autores do estudo, seria a adoção de uma metáfora que, de fato, acessasse um dispositivo retórico associado à compreensão de que o cuidado, a empatia e a solidariedade são fundamentais em uma emergência de saúde pública. “Portanto, a metáfora da guerra deve ser substituída por outra cujas principais características cognitivas e emocionais são o cuidado com os outros e a cooperação”, afirmam.

[1] Imagem de OpenClipart-Vectors por Pixabay.

[2] Texto de Carolina Melo.

Como citar esta notícia: Jornal UFG. Metáfora de guerra sobre a pandemia afasta estímulo à cooperação.  Texto de Carolina Melo. Saense. https://saense.com.br/2020/08/metafora-de-guerra-sobre-a-pandemia-afasta-estimulo-a-cooperacao/. Publicado em 05 de agosto (2020).

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