IPT
10/09/2020

Amostras de álcool gel apresentaram frações mássicas de etanol variando de 53,9% a 65,3%, o que está abaixo da concentração declarada no rótulo e das especificações da Anvisa para as formulações (Imagem: IPT)

O consumo de álcool gel, o desinfetante mais comum para as mãos, aumentou de modo significativo no Brasil após a eclosão da nova pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Como houve uma falta do produto nas farmácias e nos supermercados, diversas indústrias sem experiência anterior na produção de álcool gel passaram a utilizar suas instalações para fabricar o produto – além disso, para ampliar o acesso da população, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) concedeu uma autorização temporária às farmácias de manipulação, por exemplo, como parte das ações de proteção para o enfrentamento da pandemia (anteriormente, somente as indústrias de cosméticos podiam fabricar álcool gel).

O álcool gel provou ser eficaz na eliminação de vírus e bactérias de superfícies inanimadas, bem como de tecidos biológicos. Os estudos que chegaram a estas conclusões também mostraram que existe uma faixa de concentração na qual o etanol (o componente ativo do álcool gel) é eficaz na eliminação de microrganismos perigosos. Produtos com fração mássica de etanol menor do que 50% não matam vírus nem bactérias e, portanto, são recomendados apenas para limpeza geral de superfícies, como mesas, guarda-roupas e bancadas, segundo a Anvisa.

A maioria dos estudos indica uma fração de massa variando entre 60% e 80% do etanol para uma atividade sanitizante efetiva. “Nessa faixa de concentração, as moléculas de etanol agem da mesma forma que os sabonetes, devido ao lado apolar da estrutura molecular que se liga aos constituintes lipídicos da membrana celular dos microrganismos, seguido pela interação do lado polar com as moléculas de água para facilitar a inativação e a remoção do agente patogênico da pele”, explica o pesquisador João Paulo Amorim de Lacerda, do Laboratório de Análises Químicas do IPT.

A Anvisa não especifica um método para determinar o teor final de etanol das formulações: para fórmulas líquidas, o uso de alcoômetro (equipamento para medir a percentagem/volume de álcool em uma solução) é a ferramenta padrão para controle de qualidade da concentração de etanol, mas ela não se aplica a produtos em gel por conta de sua alta viscosidade.

O Laboratório de Análises Químicas do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) desenvolveu um método rápido de controle de qualidade do teor de etanol em desinfetantes para as mãos, como o álcool gel, por cromatografia gasosa com detector de ionização de chama. Este método foi aplicado para a quantificação de etanol em sete amostras de álcool gel (fração mássica de etanol de 70%, conforme declarado no rótulo) e foi testado o efeito de um banho ultrassônico no preparo da amostra – a Anvisa estabeleceu que a fração mássica do etanol nas formulações de desinfetantes líquidos para as mãos deve estar entre 60% e 80%, mas para as formulações de álcool gel a concentração mínima deve ser de 70%.

RESULTADOS – As amostras foram preparadas duas vezes em triplicata (ou seja, um total de seis preparações para cada amostra). Todas as amostras apresentaram frações mássicas de etanol variando de 53,9% a 65,3%, o que está abaixo da concentração declarada no rótulo e das especificações da Anvisa para formulações de álcool gel.

Essa diferença pode ser atribuída ao processo de fabricação, que requer longos tempos de homogeneização para incorporar o etanol na matriz do gel. “Como o etanol é uma substância bastante volátil, se a formulação não levar em conta algumas perdas por volatilização ao longo de seu processo de produção, a concentração final pode ser bem inferior ao valor teórico”, explica Lacerda. Independentemente do processo ou das questões de formulação, completa ele, é importante implementar uma estratégia de monitoramento sistemático para garantir que os produtos comercializados sejam seguros para uso pela população, e não representem outra ameaça à saúde das pessoas.

O método desenvolvido mostrou boa repetibilidade, reprodutibilidade e especificidade dentro da faixa de aplicação, que são parâmetros de validação importantes para demonstrar a aplicabilidade de um determinado método analítico. Desde a preparação da amostra até a obtenção dos resultados, o tempo total de análise foi de 20 minutos, ou seja, bastante rápido para os métodos cromatográficos.

É importante lembrar que, embora eficiente na eliminação de microorganismos, o teor de álcool acima de 80% não é tampouco recomendado porque evapora rapidamente, deixando um curto intervalo de tempo para o produto fazer efeito. “Além disso, aumenta o risco de acidentes domésticos, como explosões e intoxicações por ingestão”, completa o pesquisador.

O Conselho Nacional de Combate à Pirataria e Delitos contra a Propriedade Intelectual (CNCP), a Anvisa e o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) recomendam a aquisição do álcool gel em supermercados, mercados e farmácias. Não se recomenda a sua compra em ambulantes, vendedores de porta em porta ou camelôs, nem em caminhões ou peruas.

Como citar esta notícia de inovação: IPT. Eficácia do álcool gel.  Saense. https://saense.com.br/2020/09/eficacia-do-alcool-gel/. Publicado em 10 de setembro (2020).

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