Tábata Bergonci
27/10/2020
Você sabia que nossas células estão sempre se multiplicando, em um processo de renovação celular, em várias partes de nosso organismo? E ainda, você sabia que nesse processo de multiplicação celular, nosso material genético (o DNA!), tem que ser replicado e muitas vezes sofre algum erro de replicação? Além disso, você sabia que nossa exposição a luz solar, raio X e produtos tóxicos no dia a dia afetam nosso DNA? Por último, você sabia que nosso corpo produz proteínas que são especializadas em “arrumar” esse DNA? Nesse Outubro Rosa trazemos um pouco do que os cientistas sabem até agora sobre proteínas reparadoras de DNA e sua relação com o câncer de mama.O DNA é formado por quatro pares de bases conhecidas como A (adenina), T (timina), G (guanina) e C (citosina), que podem sofrer diversas alterações bioquímicas devido a estresse sofrido por nossas células. Além disso, no processo de replicação de nosso DNA, as vezes uma base fica faltando, atrapalhando o organismo a produzir determinada proteína. Para esses erros, que são muito comuns e ocorrem o tempo todo em nossas células, existem proteínas que “consertam” nosso DNA. Elas são em última instância, responsáveis pela estabilidade do nosso genoma!s
Células cancerígenas apresentam, sem exceção, um genoma instável. Entre várias de suas instabilidades, inclui-se defeitos nos mecanismos de reparação desse DNA. Assim, quando uma célula sofre mutação e seu sistema de reparação não pode “arrumá-la”, esses erros são passados para as células-filhas e o tumor se multiplica rapidamente. No câncer de mama, sabe-se que algumas proteínas responsáveis pela reparação do DNA são muito mais expressas em alguns subtipos de câncer, enquanto são menos expressas em outros subtipos [2].
As proteínas reparadoras de DNA APE1 (endonuclease apurinica/apirimidinica) e XRCC1 (proteína 1 de complementação cruzada de raios-x), quando muito expressas em tumores de mama, levam a subtipos mais agressivos de câncer e resistência à quimioterapia. Agora, os cientistas estão tentando entender como evitar essa superexpressão e melhorar a resposta a quimioterapia em pacientes que apresentam esse subtipo de câncer de mama. Cientistas da University of South Alabama acreditam que uma das respostas para esse dilema seria o gene BRCA1, pois sabe-se que quando ele é menos expresso, a expressão de APE1 e XRCC1 também são diminuídas. Assim, a interferência nessa rota poderia ajudar em casos agressivos de câncer de mama.
Até agora, o que se sabe é que defeitos no DNA que não são reparados podem levar a proliferação desenfreada de células e consequentemente, desencadear tumores. Porém, a superexpressão de proteínas envolvidas no reparado do genoma podem acarretar defeitos no DNA, promovendo alto níveis de reparo que danificam a integridade do cromossomo ou estimulando reparos que não deveriam ser feitos. A busca por entender mais profundamente os mecanismos de reparo de DNA podem trazer descobertas importantes para futuros tratamentos ao câncer de mama.
[1] Crédito da imagem: XVIVO, National Center for Advancing Translational Sciences, Flickr, Domínio público.
[2] Griffin Wright & Natalie R.Gassman. Transcriptional dysregulation of base excision repair proteins in breast cancer. DNA Repair 93, 102922 (2020).
Como citar este artigo: Tábata Bergonci. Câncer de mama e proteínas reparadoras do nosso DNA: o que a ciência sabe até agora? Saense. https://saense.com.br/2020/10/cancer-de-mama-e-proteinas-reparadoras-do-nosso-dna-o-que-a-ciencia-sabe-ate-agora/. Publicado em 27 de outubro (2020).