Jornal UFG
09/10/2020

(Imagem de Krzysztof Niewolny por Pixabay)

Emiliano Lobo de Godoi*

Em diversos momentos da vida parece que a distância entre a boca e as mãos é tão grande que impede de se colocar em prática o que foi dito. Muitas vezes, o ato de falar está completamente desconectado com o ato de fazer. Não há comprometimento ou coerência entre uma coisa e outra. Nos acostumamos com os projetos e não com as realizações. As ideias parecem ser tão boas que se bastam em si e acabam não sendo implementadas.

Em épocas de campanhas políticas ressalta-se ainda mais o distanciamento entre o que é dito e o que é feito, em especial, nos discursos que tratam da área ambiental. Aliás, a palavra discurso vem do latim e possui um significado que pode nos dar um pouco mais de clareza para entender a distância entre o falar e o fazer. Em sua origem essa palavra significa “correr ao redor” (Dis – fora; Currere – correr). Assim, trata-se de uma manifestação oral que, em muitas vezes, não se transforma em ação.

Nos acostumamos tanto com essa prática que acabamos incorporando-a em nosso dia a dia. Podemos ser contra o desmatamento, mas, com muito orgulho, mostramos nossas mesas de jacarandá, nossos telhados de ipê, sem jamais nos preocuparmos com a origem legal dessas madeiras. Nos assustamos com o lixo da rua, mas não nos mobilizamos para reduzir sua geração. Não nos sentimos responsáveis pelo problema.

No campo das políticas ambientais insistimos em tratar políticas que deveriam ser de Estado como políticas de Governo. As ações ambientais, em sua maior parte, se consolidam em médio e longo prazo, o que extrapola o período de um mandato. A melhoria da qualidade ambiental depende da mudança do comportamento da sociedade como um todo, de maneira permanente e não pode ser confundida com uma proposta passageira ou vinculada a um determinado momento político.

Com isso, não se pode propor ações como a recuperação de uma bacia hidrográfica, ou a criação e implementação de unidades de conservação, ou a melhoria da qualidade do ar de uma região como se isso fosse possível em apenas 4 anos. Propostas assim são essenciais e necessárias, porém, devem ser entendidas como viáveis apenas se houver um planejamento adequado e ações continuadas.

É fundamental que candidatos às câmaras municipais compreendam suas responsabilidades em fomentar políticas públicas que fortaleçam um desenvolvimento sustentável, afinal, a garantia de um meio ambiente equilibrado é um requisito mínimo necessário para a vida de qualquer cidadão e um direito de toda a sociedade.

É necessário que candidatos às prefeituras compreendam seus papéis de gestores do bem comum, incluindo o patrimônio natural. Que, ao traçar suas metas e projetos, percebam que seus mandatos têm prazo para terminar, mas, que as consequências do bom ou mal uso dos recursos naturais deixará marcas profundas para muito além de suas gestões.

Precisamos transformar os discursos em fatos, as propostas em práticas e as intenções em realizações. Já passou da hora de começarmos a fazer e não apenas, a propor. Já é tempo das preocupações ambientais se converterem em atitudes. Já é tempo de aproximarmos as palavras que saem da boca das ações que as mãos praticam. Antes que seja tarde!

*Emiliano Lobo de Godoi é Professor da Escola de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal de Goiás (UFG)

Como citar este artigo: Jornal UFG. Entre o falar e o fazer.  Texto de Emiliano Lobo de Godoi. Saense. https://saense.com.br/2020/10/entre-o-falar-e-o-fazer/. Publicado em 09 de outubro (2020).

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