Tábata Bergonci
21/12/2020

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Com o ano de 2020 tomado pela pandemia de Covid-19, a vida de todos no planeta mudou. Em um mundo totalmente conectado, governantes, médicos e cientistas tiveram que tomar decisões rápidas e observamos em tempo real os resultados das escolhas nos mais diversos países. Na ciência e para os cientistas também muita coisa mudou. Muitos centros de pesquisas redirecionaram seus trabalhos na busca para as mais diversas perguntas relacionadas ao novo vírus, suas complicações quando em contato com os seres humanos e, claro, também a corrida pela vacina!

A publicação de artigos científicos que tratam de algum aspecto do coronavírus vêm crescendo desde março, com pesquisas sendo publicadas por laboratórios do mundo inteiro, nas mais variadas revistas científicas. Só nos últimos dois meses, milhares de artigos foram publicados sobre a Covid-19. Para que um artigo seja publicado em uma revista científica ele deve passar pela revisão de pares, ou seja, outros cientistas devem analisá-lo, apontar erros, sugerir correções. Após a publicação, a importância desse artigo será medida conforme ele for citado em novos artigos. Trago então os três artigos sobre coronavírus (publicados nos últimos dois meses) mais citados até o momento.

O primeiro artigo foi publicado na prestigiada revista Cell (2) e confirma que o vírus entra na célula utilizando uma proteína em sua superfície, chamada Spike, que se liga a uma proteína que nós temos em nosso corpo, a ACE2. A descoberta mais importante do artigo está na revelação da estrutura da proteína Spike por meio da técnica de Crio-microscopia eletrônica, que fornece um plano para o projeto de vacinas e de inibidores do vírus.

Em segundo lugar vem a descoberta de alguns flavonoides (compostos presentes nas plantas e que são importantes na nossa alimentação) que conseguem se ligar a Sars-CoV-2 e agir como antiviral (3). O estudo foi publicado na revista Journal of Enzyme Inhibition and Medicinal Chemistry e é importante pois pode ajudar no desenvolvimento de compostos sintéticos que tenham alta afinidade ao vírus, ajudando em sua inibição e consequente não invasão às células.

Por último, um artigo publicado na revista European Journal of Human Genetics investigou as diferenças da proteína ACE2 em quase 7.000 indivíduos italianos (4). A ideia do estudo surgiu devido a gravidade clínica inesperada da Covid-19 em países europeus, em comparação aos países asiáticos. Os resultados mostraram que três tipos de ACE2 (com mutações pontuais em um aminoácido) são bastante comuns nos europeus e muito raros nos asiáticos. Essas três diferentes ACE2 são mais suscetíveis a se ligarem ao coronavírus que outras ACE2, sugerindo uma resposta para a alta de taxa de contágio do vírus na Europa.

A chegada da vacina vai trazer alívio a população, principalmente as pessoas que fazem parte de grupos de risco, além de nos fazer voltar aos poucos as nossas vidas normais (ou no novo normal que alguns preferem usar como termo). Mas a ciência vai continuar pesquisando, buscando respostas e desvendando tudo o que for possível em relação ao coronavírus.

[1] Crédito da imagem: Daniel Foster, Flickr, CC BY-NC-SA 2.0.

[2] doi.org/10.1016/J.CELL.2020.02.058.

[3] doi.org/10.1080/14756366.2019.169048.

[4] doi.org/10.1038/S41431-020-0691-Z.

Como citar este artigo: Tábata Bergonci. A corrida na pesquisa sobre o coronavírus: as três maiores descobertas da ciência nos dois últimos meses! Saense. https://saense.com.br/2020/12/a-corrida-na-pesquisa-sobre-o-coronavirus-as-tres-maiores-descobertas-da-ciencia-nos-dois-ultimos-meses/. Publicado em 21 de dezembro (2020).

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